Na passagem de ano comemos 12 passas e pedimos 12 desejos. Muitos destes desejos são pessoais, como saúde para os nossos familiares e amigos, e alguns universais. Se decidíssemos alocar dois desejos da nossa lista à economia, o que escolheríamos?

A pandemia revelou ser uma onda de intensidade tsunâmica. 2021 foi um ano difícil, de muita incerteza e alguma retoma. A pandemia não acabou. Novas variantes do vírus chegaram. O PIB per capita e a produtividade estão ainda abaixo do nível pré-pandemia e novas ameaças, incluindo as pressões inflacionárias a nível global, geram crescente preocupação.

Experiências passadas dizem-nos que as crises empobrecem. Na crise anterior, entre 2009 e 2014, o rendimento médio real disponível por adulto equivalente das famílias portuguesas diminuiu 12,2%. Estudos apontam uma queda de semelhante magnitude entre os que perderam rendimento nesta crise. As pessoas mais pobres, de escolaridade mais baixa e vínculos contratuais menos tradicionais, perderam mais. A pobreza e a desigualdade aumentaram significativamente.

Devido ao impacto devastador imediato da pandemia, mas também pelas suas cicatrizes subsequentes e ameaças latentes, os efeitos da pandemia serão muito provavelmente de longo-prazo. Há vários canais em jogo. A educação e o mercado do trabalho são candidatos crónicos. Por exemplo, estudos apontam que as perdas de aprendizagem em crianças em certos pontos cruciais do seu processo educativo são difíceis de recuperar e traduzem-se em menores salários em idade adulta. Um adolescente que abandone a escola tem baixas perspetivas de ter um salário alto ao longo da vida. Um jovem universitário que entre no mercado de trabalho num momento de crise económica não só tem um salário de entrada menor como uma carreira pior. Para ele, entrar no mercado de trabalho num ano de crise é um azar que pode durar uma década. Um adulto que fique desempregado ou mude para um emprego pior pode ter um salário menor por muito tempo. Nas crises algumas empresas desaparecem e outras ficam enfraquecidas por muitos anos. Esta está a ser uma crise longa e a incerteza associada tem efeitos reais. Portugal e o mundo precisam do fim da pandemia.

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Mas precisamos de mais do que isso. Embora a pandemia tenha sido um enorme abalo, voltar à tendência de crescimento anterior não é suficiente – entre 2000 e 2019 o crescimento médio anual do PIB per capita português foi de 0,7% e o do salário médio real de -0,2%.

Face a uma onda, não podemos escolher que não venha: podemos ou ficar paralisados, ou surfá-la. Em vários aspetos temos surfado esta onda. Portugal tem uma alta taxa de vacinação, o investimento e as exportações de bens deverão recuperar os valores de 2019 em 2021, e alguns setores estão com forte criação de emprego e dinâmica salarial. Isto é muito importante: a história dos efeitos duma crise no emprego e no rendimento escreve-se olhando tanto para os empregos destruídos durante a crise como para os empregos criados durante a recuperação. A pandemia acelerou a inovação e mudança tecnológica, gerando oportunidades de ganhos sustentáveis de produtividade. O emprego e a produtividade trazem prosperidade. Criemos e partilhemos essa prosperidade em 2022, sem esquecer os mais vulneráveis em que se concentraram as perdas e as cicatrizes desta crise

Assim, se pudéssemos oferecer à economia 2 dos nossos 12 desejos, quais seriam? O fim da pandemia e a prosperidade partilhada.