Aquilo que se passa actualmente em Portugal está para lá de toda e qualquer qualificação. Uma bandalheira é o mínimo! Após o que temos vindo a sofrer ao cabo de 50 anos de governos cada vez menos respeitadores da lei, acaba de se verificar publicamente há uma semana que o actual «regime democrático» não possui qualquer decência, como aliás escrevi antes mesmo de o governo de António Costa deitar mão ao poder com a «geringonça» em 2015.

Lembrados esse golpe e a espremida «maioria eleitoral» de 41% há pouco mais de ano e meio, comecemos por António Costa. Como é que se explica que o primeiro-ministro se tenha demitido minutos após as vergonhosas revelações do Ministério Público acerca do comportamento do governo, quando a acusação foi pouco depois varrida por um juiz para debaixo do tapete sem uma palavra acerca de António Costa? Era engano de nomes? E se o era, por que razão o primeiro-ministro se demitiu imediatamente, lamentando escassos dias depois que o seu secretário pessoal tivesse escondido no gabinete de S. Bento a soma de 70 e tal mil euros que não se sabe de onde vieram nem para onde foram e a que se destinavam.

A este respeito, a actual comunicação social, corrompida como está pelo governo socialista, pouco ou nada disse. Repito: é incompreensível que um primeiro-ministro como António Costa, ontem agarrado ao poder e a seguir com os olhos um cargo vistoso na União Europeia, declarasse a sua demissão antes de o juiz dizer fosse o que fosse a respeito da acusação contra si, assim como, aliás, de qualquer prevaricação que tivesse cometido?

Como é que Costa se precipitou dessa maneira quando ele próprio foi secretário de Estado, ministro da Justiça e dos Assuntos Parlamentares desde 1995 a 2002 nos infelizes governos de Guterres, que o presidente demissionário ainda há dias pretendia nomear para Presidente da República quando o actual desamparasse a loja? Irá o PR demissionário, com décadas passadas em altas posições no governo do país, no Parlamento Europeu e na Câmara de Lisboa, escrever as suas memórias enquanto aguarda a votação de 2024 marcada pelo PR para tão tarde quanto possível e sem nada explicar aos eleitores? É o que acontece quando o pessoal político se toma por dono do país como sucede há décadas.

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Entretanto, a fome de poder demonstrada pelo PS desde o tempo de Mário Soares, emparceirando com quem quer que fosse, como o CDS que viria em breve a atraiçoá-lo e como mais tarde o PSD, até que Cavaco Silva veio governar dez anos seguidos com êxito (1985-1995). Ou seja, Cavaco foi o único primeiro-ministro capaz até hoje de fazer crescer o país sem alianças nem o levar à bancarrota, como já sucedeu por três vezes com o PS e que António Costa se aprestava a falir de novo perante o clima bélico internacional  e a monopolização das grandes potências económicas!

A pergunta que fica por fazer, agora que o juiz praticamente aboliu todas as acusações do Ministério Público, designadamente a que visava o primeiro-ministro, é a seguinte: porque razão apresentou este a demissão imediatamente ao mesmo tempo que jurava inocência? Algo de parecido, embora menos do que a imediata auto-demissão de António Costa, é a forma como Rebelo de Sousa adiou por quantos meses se atreveu a fim de entregar o poder ao famigerado PS e ao seu «leader» demissionário, em vez de convocar pessoas responsáveis que segurassem o governo o menor tempo possível! É mais uma vez o conluio do PR com o PM demissionário.

Dito isto, o tempo não podia deixar de entrar em aceleração. Com efeito, mesmo em jornais habitualmente votados à publicidade da «geringonça de esquerda», como o «Público», já se publicaram esta semana dois artigos seguidos cujos autores se perguntam por que motivo o primeiro-ministro se demitiu instantaneamente após décadas de vida partidária, sem esperar pela opinião do juiz de serviço que nada de grave viu na declaração dos inquiridores?

No seu artigo de ontem, João Miguel Tavares recorda precisamente os «currículos» de alguém como o chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, oriundo da tribo socrática operando então na Venezuela; e a seguir sobre o papel do «melhor amigo» do primeiro ministro, o advogado Lacerda Machado, no «lobby» de Sines… Quanto a Maria João Marques, ela pergunta: «E se o primeiro-ministro não for acusado? Porque carga de água um primeiro-ministro…se demitiu? Se sabia que a investigação seria anedótica, é tão irresponsável que abandona o cargo para o qual foi eleito com maioria absoluta?». Ora, passe o que se passar com António Costa, bom não será. À primeira vista, são quatro meses oferecidos pelo PR ao PS. Porquê? – é difícil adivinhar. Possivelmente, o PR não sabe o que fazer do PSD entregue à candidatura do Montenegro. Quanto à conjuntura mundial, não podia ser pior.