Dois dias atrás pedi ao «Observador» que não publicasse o artigo que acabara de enviar porque dava a entender que o PCP votaria a favor do orçamento de Estado apresentado pelo governo PS para 2022. Aconteceu que hora e meia depois de mandar o texto, veio a notícia de que o dito orçamento seria chumbado não só pelo BE, que já votara contra o PS um ano atrás, mas também pelo PCP…

Ao mesmo tempo, o Presidente da República declarou à comunicação social que, a acontecer tal coisa, dissolveria o parlamento ipso facto. Mais tarde, porém, após o «chumbo» do orçamento estar decidido, o PR terá dito ao líder do PS que poderia funcionar por duodécimos do orçamento actual (2021). Por sua vez, o primeiro-ministro afirmou várias vezes em pleno parlamento que não se demitiria… Visivelmente, a declaração de António Costa não caiu em ouvido roto e, segundo os rumores da comunicação social, o PR está a fazer tudo para que o PS continue no poder!

Por outras palavras, o PM parece decidido a continuar, o que não é proibido, e não seria o PR quem o demitiria. Isso prenuncia, contudo, que um novo governo não conseguirá durar muito. E nada leva a crer que, nas condições actuais, um «Bloco de Direita» (PSD, CDS, IL, Chega) seja capaz de tomar o poder ou até aliar-se ao PS a fim de governar o país! Com efeito, o episódio parlamentar de quarta feira passada só se explica pelo oportunismo contra todas as regras da democracia que levara António Costa a ir buscar o PCP e o BE, sem prevenir ninguém, vergando a resistência de Cavaco Silva e de Passos Coelho, que não sabiam com quem estavam a lidar, como escrevi na altura!

Hoje, o primeiro-ministro e os deputados do PS não pararam de falar da austeridade imposta pela «troika», da qual o PS e os seus colegas teriam livrado a população. Sem nunca mencionarem, obviamente, que fora Sócrates quem levara o país à bancarrota. É por isso, aliás, que Sócrates provavelmente nunca será julgado num tribunal, pois o mais certo é que pusesse a «boca no trombone» e desse cabo do PS!

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Na realidade, quando Costa deu o «golpe parlamentar» de 2011, já o governo de Passos Coelho tirara o país da recessão e controlara o crescimento da dívida legada por Sócrates e pelo PS. Se Passos Coelho tivesse conseguido manter-se no governo, Portugal estaria bem melhor do que hoje. Desde logo, o país não teria sido encerrado na teia de compadrio e estatização tecida pelo governo PS ,enquanto o PCP e o BE, cada um pelo seu lado, falavam em nome da pobreza e da desigualdade que não paravam de aumentar, como de resto continuaria a ser o caso do Orçamento de Estado para 2022…

… Até um dia próximo em que toda gente ganharia o mesmo salário mínimo e teriam desaparecido por fim os últimos traços de desigualdade, com excepção do número cada vez maior de membros da função pública, sindicalistas e agrupamentos afins às novas ideologias, até ao dia em que o orçamento de Estado revelou ser curto de mais para albergar tanta igualdade e tantos activistas mantidos pelos últimos capitalistas! Foi este patamar que o BE primeiro e a seguir o PCP conquistaram à sombra do PS até passarem bruscamente à oposição, a fim de preservarem a sua identidade revolucionária.

Daí a profunda irritação de António Costa, no seu discurso final acerca do chumbo do orçamento, quando se apercebeu de que fora entalado entre a direita e a esquerda, cujo monopólio é detido pelo PCP e o BE. Entretanto, o ainda líder do PSD, Rui Rio, pusera a nu o infantilismo – ou oportunismo, como se queira – de uma proposta de desenvolvimento económico que ignora deliberadamente as regras de mercado e de produtividade praticadas por todos os países que procuram eficazmente crescer e, por tabela, melhorar as condições de vida efectivas das pessoas.

Com efeito, as chamadas políticas sociais não são incumbências partidárias mas sim consequência lógica do desenvolvimento económico. Não de qualquer ideologia ou caridade. A demagogia que se espalhou pelo país a este respeito tornou-se numa praga destinada a justificar a existência desse tipo de «activismo». Em contrapartida, questões cruciais como a crise demográfica, isto é, o declínio da população e as consequências inevitáveis do envelhecimento tanto ao nível do trabalho como da saúde, tais questões continuam a ser varridas para debaixo do tapete ou a servir de disfarce para calar bocas!

Neste momento da vida do país, só a redução do Estado ao cumprimento das suas obrigações para com o público e a abertura de uma campanha eleitoral minimamente prolongada é que permitem esperar que saiam das urnas novos argumentos e novas energias que permitam relançar uma efectiva prática política democrática.