Em Portugal e não só, especialmente no domínio do poder político-partidário, é raro a imprensa e as empresas de sondagem falarem «verdade». Tanto assim que a sondagem da empresa Aximage publicada anteontem no «Diário de Notícias» e que li ao almoço de sexta-feira passada, já não aparece tal e qual, com o mesmo destaque, na internet depois de almoçar ao iniciar esta crónica… O que isto significa é que a sondagem – valha ela o que valer do ponto de vista estatístico – é antes de mais dirigida ao governo e aos demais partidos de S. Bento, bem como ao presidente da República.

Assim sendo, 99,9% dos eleitores eventualmente interessados no assunto não terão lido o jornal nem o encontrarão mais tarde na internet, cujas virtudes informativas só poderão servir, eventualmente, ao Presidente da República e aos dirigentes dos partidos políticos representados no parlamento há menos de um ano, que davam então ao PS uma «maioria absoluta»… com pouco mais de 40% de votos! Ora, segundo o «DN» de ontem, António Costa terá passado em menos de um ano de uma «avaliação positiva» de quase metade dos inquiridos para uma «avaliação negativa» de 59%.

Sendo certo que «as sondagens valem o que valem», conforme diz a grande maioria do eleitorado, tudo leva a crer que, em menos de um ano, a opinião pública mudou radicalmente de opinião acerca do primeiro-ministro (54% de eleitores «contra») e 59% contra os membros do governo. Quanto ao antigo presidente da Câmara de Lisboa Fernando Medina, actual ministro das Finanças, sucessor putativo de António Costa como «leader» do PS e futuro candidato a primeiro-ministro, tudo leva a crer que o seu percurso partidário acabará por estes dias, sendo Medina removido em breve das funções que tem assumido desde o tempo de Sócrates.

O Presidente da República, com a infundada responsabilidade que continua a assumir em favor de António Costa e do PS, terá entretanto percebido o que eu próprio sugeri há cerca de uma semana, quando perguntei por que razão o PR não mandou imediatamente os parlamentares de serviço para casa e não promoveu um governo temporário e apartidário enquanto não fossem feitas novas eleições. Resta saber se o PR será capaz de fazer isso: não seria a primeira vez que tal acontecia em democracia!

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Entretanto, já se verificaram duas atitudes da maior importância perante a possibilidade de o PS ser em breve removido do poder. A mais óbvia é o anúncio de que o novo secretário-geral do PCP não deixará de viabilizar um governo do PS em caso de necessidade. Partirei em princípio da ideia que o PR não sustentará tal hipótese. Em contrapartida, sou o primeiro a reconhecer aquilo que o PR não disse mas não deixou obviamente de pensar, algo bem mais grave que os ameaços comunistas, a saber, a falta de oposição.

Com efeito, perante os lamentáveis procedimentos irregulares e mesmo ilegais dos agentes do PS, desde o parlamento às Câmaras Municipais e às Juntas de Freguesia, o governo socialista imaginou-se na posse do «poder absoluto» sem se aperceber que tal não existe no espaço público. Neste momento, além dos inúmeros candidatos convidados para o governo que se viram obrigados a desistir, se é que não serão penalizados pela justiça, há já mais dois actuais membros do governo susceptíveis de o abandonar e um possivelmente obrigado a isso: os ministros das Finanças e da Educação, bem como o dos Negócios Estrangeiros…

Quanto aos partidos actualmente excluídos pela «maioria absoluta» reivindicada pelo PS com 41% dos votos apenas, o que corresponde a bastante menos deputados se o resultado fosse proporcional, o segundo mais numeroso é o PSD, o qual foi dirigido da pior maneira pelo «leader» cessante, Rui Rio, dispensando a tradicional coligação com o CDS, desbaratando assim perto de cem mil votos que teriam tirado a falsa maioria ao PS: bastava respeitar a proporcionalidade!

Entretanto, o novo leader do PSD, Luís Montenegro, sem experiência governativa, ficou fora do parlamento nas últimas eleições legislativas enquanto o partido recusou votar contra o PS na última votação parlamentar, tendo vindo a acantonar-se no Norte do país apesar da conquista da Câmara de Lisboa. Simultaneamente, Montenegro não propôs qualquer ideia nem falou em aliança com os partidos da oposição susceptíveis de suceder ao PS caso o presidente da República dissolva o parlamento em face dos sucessivos desastres do actual governo

Tão importante ou mais do que isso é começar a conceber um pacote coerente de medidas a tomar perante a crise que o primeiro-ministro e o PS têm não só tentado esconder – desde a saúde pública, o envelhecimento da população e a actualização das reformas até à modernização da educação e o que esta envolve – como agravado o desenvolvimento económico perante a crise financeira do país. Eis o que nos enfrenta e que o PS só piorará