Vivemos num mundo onde é possível ver que muita coisa está melhor: menos pobreza, mais saúde, mais educação para todos, maior consciência ecológica, mais oportunidades. Esta minha ideia não assenta em estatísticas nem em estudos de universidades americanas porque teria que resolver o dilema de escolher qual o que confirma ou o que recusa esta minha ideia, já que hoje em dia temos estudos e estatísticas para todos os gostos. No entanto vale a pena consultar a Pordata para confirmar que há muitas áreas onde o nosso país melhorou ou a Wordindata para um olhar sobre o mundo.

Neste mundo, que eu vejo melhor, temos no entanto um paradoxo: somos mais egoístas. Vencem eleições partidos extremistas porque prometem poupar o seu povo ao exercício de acolher seres humanos que tiverem o azar de nascer num lugar errado do mundo; são aprovadas leis que permitem matar bebés ainda em gestação porque as mulheres suas mães não suportam o inconveniente de um filho, mas também não querem ou não sabem olhar a sexualidade com mais respeito por si próprias e pelas vidas que poderão gerar em caso de “descuido”; enchem-se os lares de velhos porque as políticas de igualdade não são pensadas para quem já não tem voz. Todos temos direito a uma família e talvez mais ainda aqueles que uma vida inteira se dedicaram a ela, mas esses, no fim da sua vida, são despejados em lares ou deixados ao abandono nas suas casas. Com sorte terão uma visita semanal de um familiar.

Muitos mais exemplos poderia dar para o egoísmo da nossa sociedade, mas não é esse o tema. O tema é que no caminho autodestrutivo do egoísmo, seria de esperar que notícias de atitudes altruístas, hoje mais raras, fossem cada vez mais capa de jornais ou abertura de noticiários, mas não!

Ouço rádio no carro de manhã e ao fim do dia, leio alguns jornais online e vejo de vez em quando notícias na televisão. Estou em posição de fazer uma apreciação com uma margem de erro grande, mas ainda assim atrevo-me a dizer que reinam as notícias de coisas más, fúteis ou tristes. O altruísmo que gera a solidariedade e é fonte de vínculo na família, que nos faz melhores, quase nunca é notícia. Excepção feita à notícia sobre a digressão do Ricardo Araújo Pereira. Um bom exemplo do altruísmo de que falo. Acredita que ler sobre esta iniciativa terá inspirado muita gente.

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Hoje em dia temos nos meios de comunicação social secções e rúbricas para tudo (política, lifestyle, tecnologia, economia, desporto e muitas outras). Venho humildemente desafiar a comunicação social a criar um espaço de boas notícias, de histórias de pessoas que revelem comportamentos altruístas na nossa sociedade ou no mundo. Mas refiro-me a boas notícias daquelas que não geram discussão ideológica, que são boas sobre qualquer olhar. Todos os dias há novas histórias, algumas até comoventes, sobre a ajuda solidária às vítimas dos fogos, há relatos fantásticos de organizações como o programa MOVE, as Missões País, o Refood e outras, no desporto temos episódios de camaradagem vividos em modalidades que quase não são notícia com é o caso do rugby, do basket e tantas outras. Nas autarquias existem iniciativas de caracter social que fazem a diferença para muitas famílias e que juntam o esforço de autarcas e de voluntários. Em todos os domínios da nossa sociedade temos boas histórias, fáceis de descobrir e contar que são casos de sucesso e que nascem do desejo de ajudar, de sairmos da nossa zona de conforto dando-nos aos outros.

Sei que tem mais popularidade qualquer notícia sobre as escutas ao Sócrates, ou sobre as trocas de mimos entre Governo e Presidente da República, ou acerca dos resultados do futebol. Não sugiro que esses temas deixem de ser notícia, mas que diabo, não poderá haver só mais uma secção/rúbrica? Nem que seja a última da lista. Será que dar boas notícias dá prejuízo?

Não seria um bom serviço à sociedade pelo menos tentar?

Retomo o que já disse: o egoísmo destrói. Quem ajudar a contrariar a onda de egoísmo actual é construtor de um mundo melhor. E se ao início, divulgar histórias que evidenciem o bom que há em cada um de nós melhorar só a vida de uma pessoa, ainda assim já valeu a pena.