O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, veio reconhecer, finalmente, que a queda do avião russo A 321 na Península do Sinal se deveu à explosão de uma bomba e promete vingar a morte dos mais de 200 passageiros e tripulantes que iam a bordo do aparelho.

É de sublinhar que, quanto ao número de mortos, esta tragédia ultrapassa a de Paris e é o segundo atentado terrorista mais sangrento da história da Rússia depois do ataque à escola de Beslan por guerrilheiros chechenos em 2004. Então, o Presidente Putin ordenou mais uma ofensiva contra a guerrilha separatista chechena de tais dimensões e meios dúbios que conduziu praticamente à sua extinção.

A fim de mostrar que não tem medo dos terroristas e que o poderio militar russo é para ser levado em conta, ele ordenou o aumento dos bombardeamentos aéreos na Síria contra o Estado Islâmico, sublinhando, ao dirigir-se aos militares presentes, que iria controlar a execução das suas ordens.

Não deve ter sido coincidência o facto de Putin ter feito estas declarações depois dos atentados terroristas em Paris e das suas repercussões internacionais. Na véspera, após a cimeira dos G 20 na Turquia, o dirigente russo apenas admitia a versão do atentado terrorista contra o avião civil russo como uma das principais versões, sublinhando que os especialistas necessitariam de tempo para tirar conclusões precisas. Ora não foi durante a noite que os especialistas fizeram esse trabalho.

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Este gesto visa mostrar que, além de fundamental, a Rússia está disposta a avançar para a formação de uma coligação internacional a fim de liquidar o Exército Islâmico na Síria e, nesse sentido, serão de importância crucial, os próximos encontros do Presidente russo com os seus homólogos francês e norte-americano: François Hollande e Barack Obama. Eles poderão não trazer logo mudanças fulcrais no diálogo sobre as formas como combater o inimigo na Síria, mas poderão conduzir a acordos importantes.

Na véspera, Putin fez um gesto na direcção da Ucrânia que passou despercebido entre muitos, mas é um sinal de que a política externa russa poderá estar a mudar no sentido de se tornar mais maleável nas relações com o chamado Ocidente. O presidente russo propôs que a dívida ucraniana de 3 mil milhões de dólares à Rússia seja paga por partes durante três anos, enquanto que, antes, exigia o pagamento de todo o montante até ao fim do ano.

Desta forma, o Kremlin tenta desanuviar as relações com o Ocidente em várias direcções, e os EUA e a União Europeia devem estar prontos a dialogar com Moscovo, mesmo sabendo-se que a política externa de Putin não é orientada nem pela caridade para com os “irmãos eslavos”, nem pela ajuda desinteressada aos sírios.

Em geral, a política externa, tanto da Rússia como dos países ocidentais, é regida por interesses e pelo pragmatismo e é nesta base que se devem abordar a solução dos graves problemas internacionais. Há muita coincidência de posições na luta contra o terrorismo, e isso deve estar no centro das atenções durante o diálogo.