Declaração de interesses: fui e sou muito crítico das políticas de Benjamin Netanyahu e dos partidos radicais que fazem parte da sua coligação governamental. Considero o Hamas uma organização terrorista que não passa de um instrumento nas mãos de radicais que não procuram a paz, nem um Estado palestiniano democrático. Essa é a vantagem de Israel. Enquanto é possível retirar Netanyahu do poder, o Hamas jamais aceitará deixar de ser poder.
1Em 1947, a esmagadora maioria dos países árabes votou contra a Resolução 181 das Nações Unidas. Isto foi uma oportunidade perdida. E não deixou de indicar que os árabes preferiram não ter o seu próprio Estado a reconhecer um Estado judeu. Como sabemos, assim que a vigência britânica no território cessou, os países árabes atacaram Israel e perderam. É desde essa altura que vários Estados árabes (excepção feita à Jordânia, salvo erro) recusam dar cidadania aos palestinianos. Isto não é normal. Já passaram 75 anos e os refugiados não são cidadãos dos países (Kuwait, Síria, Líbano, Iraque, Egipto, etc.) onde vivem?
Só isto dá que pensar. Mas quando recordamos que após a sua expulsão da Palestina os refugiados palestinianos originaram conflitos na Jordânia e no Líbano, é compreensível que não agrade aos Estados árabes receber, nem dar cidadania, a cerca de dois milhões de refugiados (de segunda ou terceira geração) altamente radicalizados após décadas de lavagens cerebrais do Hamas. Qual é o país do mundo que quer isso?
E há outra vertente a ter em conta. Ao contrário do que fazem alguns muçulmanos em plena praça pública, eu não vejo as comunidades judaicas a insultarem as religiões ocidentais e a tentarem impor o judaísmo aos europeus. Quem faz isso são os muçulmanos.
2Os princípios e valores da União Europeia – Dignidade Humana, Liberdade, Democracia, Igualdade, Estado de Direito e Direitos Humanos – são a materialização das lições aprendidas ao longo de séculos de relações humanas, nomeadamente em termos de coexistência política e social.
Sendo humana e culturalmente rico e diversificado, o mundo pode ser descrito como uma manta de retalhos cultural. Assim, para se chegar a um entendimento mínimo, não basta respeitar a diversidade e as riquezas culturais que compõem a humanidade. Também é necessário ensinar àqueles que não fazem parte da nossa cultura a configuração única de traços que a define para que possa ser compreendida melhor. Ruth Benedict ensinou-nos isso.
Não há dúvida de que a promoção dos princípios fundamentais da UE, sem uma explicação adequada do seu significado, das suas realidades e das circunstâncias inerentes à cultura ocidental, está na origem das convulsões culturais e do aumento de um certo populismo identitário que se faz sentir em toda a Europa. Infelizmente, juntamente com ela, tanto os partidos de extrema-esquerda como de direita procuram colher dividendos políticos através da radicalização discursiva, cujo principal efeito tem sido o aumento da polarização social e o ganho de vantagens eleitorais.
Estas rupturas são visíveis na questão do acolhimento de refugiados e imigrantes muçulmanos, que, embora consistentes com a defesa e promoção dos direitos humanos, suscitam preocupações sobre a identidade cultural. Além disso, não podemos negar que tanto os imigrantes como os refugiados experimentam dificuldades na adaptação às normas e padrões de comportamento da sociedade europeia. Ora, tais dificuldades não deveriam nos surpreender. Afinal as normas de conduta características das sociedades muçulmanas são distintas das nossas.
No entanto, a cultura e as leis dos países anfitriões não podem deixar de ser respeitadas. Qualquer pessoa que se refugie ou que imigre para um país ocidental, mesmo que temporariamente, tem a responsabilidade de tentar integrar-se tanto quanto possível na cultura de acolhimento: aprender a língua, educar as crianças nas escolas locais, encontrar um emprego e fazer parte, ou, pelo menos, respeitar das comunidades locais.
Isto não significa que seja obrigatório esquecer a sua cultura ou religião original. Mas o mesmo respeito dado aos refugiados e à cultura dos imigrantes deve ser retribuído por eles através do respeito pela cultura e pelas leis do país que os acolheu. A reciprocidade nunca diminuiu ninguém. Pelo contrário. A sua observância e prática serviram sempre para aumentar o respeito mútuo entre os povos e culturas, bem como entre Estados e Governos.
3 Há europeus que questionam o humanismo que caracteriza a nossa cultura. Esta deveria ser uma questão de grande preocupação para os nossos representantes eleitos. Naturalmente, não podemos ignorar as circunstâncias resultantes da realidade imanente da União Europeia. Dado que é mais provável que haja uma interferência ideológica intensa a nível dos Estados-Membros, as instituições europeias, especialmente a Comissão Europeia, devem liderar a discussão para promover uma maior sensibilização sobre a questão.
Havendo uma percepção de desequilíbrio, esta não pode continuar a ser negligenciada. Qualquer prática, religiosa ou secular, que vá contra a lei dos países ocidentais não deve ser proibida no espaço público? Eu penso que sim. E há vários aspectos da nova imigração que são preocupantes, nomeadamente:
- a falta de vontade de se integrarem na sociedade ocidental;
- o desejo que parecem ter de importar tantas características dos países de onde acabaram de fugir;
- e a tentativa de imporem a sua religião.
4 É perfeitamente compreensível que as preocupações imediatas de um imigrante ou de um refugiado não sejam compreender as leis do país anfitrião, nem os seus hábitos e costumes sociais, mas sim ter um futuro melhor num país rico que vive em paz. Por isso, é ainda mais urgente explicar-lhes que vão viver num ambiente diferente e que a tolerância que faz parte da nossa sociedade não significa que possam viver como se vivessem de acordo com as leis do seu país de origem.
Os nossos líderes políticos têm de ser recordados sobre a importância e do valor da reciprocidade nas relações internacionais e igualmente nas relações humanas e culturais. E como os primeiros a defender os nossos valores devem ser os nossos líderes, é preciso lembrar-lhes do valor da reciprocidade.
É notório que em alguns Estados-Membros da UE existe a percepção de uma discriminação que obriga alguns cidadãos a fazerem o que isenta os imigrantes ou refugiados de fazerem. Para mim, ajudar e assistir um ser humano é um imperativo moral e não um mero dever. Independentemente disso, receber e ajudar alguém não impede que este respeite e cumpra a lei que regula a vida no país anfitrião.
Para além disso é urgente reiterar a importância da noção e da prática da reciprocidade. Ter respeito implica ser retribuído. Na sociedade Ocidental existe a separação entre o Estado e a Igreja. Queremos que assim continue. Somos tolerantes e respeitamos todas as religiões. Mas exigimos o mesmo respeito por nós e pelo nosso modo de vida.
Quem não gostar, quem não nos quiser respeitar, nem observar o nosso modo de vida é livre para regressar ao seu país de origem.