50 anos depois do vinte cinco de abril de 1974, a melhor palavra para caracterizar a política e a democracia é claque. Esta é a herança da liberdade. A política parece um jogo de futebol. Origina, acima de tudo, emoções, às quais, os filiados ou simpatizantes, incapazes de analisar objectivamente os episódios e as ocorrências, agem como claques facciosas que desculpam aos representantes do seu partido os mesmíssimos comportamentos que criticam aos rivais. Não há excepção. Nem nos partidos tradicionais, nem nos pequenos e novos partidos.

A geração de abril foi incapaz de formar cidadãos conscientes das responsabilidades inerentes à vida em democracia. O exemplo vindo dos titulares de cargos públicos foi na maioria dos casos fraco. Direitos na primeira pessoa, deveres na terceira. Resultado? A esmagadora maioria dos portugueses desconhece o significado de democracia, nem entende o que é o Estado.

50 anos depois de abril continuamos a ter partidos que se recusam a reconhecer que a plenitude de democracia só foi possível após o 25 de Novembro de 1975. Carlos Carvalhas, Jerónimo de Sousa e Paulo Raimundo (tal como Francisco Louçã e as suas acólitas) defenderam e continuam a defender o mesmo entendimento de democracia que Álvaro Cunhal expressou a 6 de junho de 1975: (Que entende por democracia?) Seguramente não o mesmo que vocês, os pluralistas.

Os partidos da extrema-esquerda, entre outros, PCP e BE (e até alguns membros do PS) jamais reconhecerão o 25 de Novembro. Porquê? Porque, para além de ser a data da maior derrota da esquerda, só depois disso foi possível concretizar as promessas de liberdade e de democracia de abril. E representantes do PS, como, entre outros, Porfírio Silva e Miguel Prata Roque, insistem frequentemente, por lhes ser conveniente, que o PCP, BE e Livre são partidos democráticos. Deviam pensar no que significa a persistência destes partidos na estigmatização do 25 de Novembro? Com certeza que não é pluralidade, liberdade ou democracia.

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Infelizmente, 50 anos depois de Abril, outro traço característico é a falta de pluralidade interna nos partidos. Os que Cunhal chamava de pluralistas deixam muito a desejar. Que essa circunstância seja normal em partidos que, apesar de se intitularem democráticos, defendem ideologias totalitárias é uma coisa. Noutros partidos não é compreensível. Por vezes, fico com a ideia de que muitos dirigentes partidários são muito inseguros. É compreensível que ponham aqueles que os apoiarem em determinados lugares. Porém, afastar por completo, e até perseguir fora da arena política, quem não os apoiou, como se de repente não tivessem nenhuma capacidade ou mais-valia para ajudar o partido, é preocupante. Essas lideranças rodeiam-se de entourages, acéfalas e sem pensamento critico, que não discutem ideias. Preferem a repetição de sound-bytes desprovidos de conteúdo e os ataques pessoais. Nada disto contribui para a democracia, nem para o exemplo ao cidadão.

As direcções dos partidos são incapazes de estabelecer pontes de contacto e de diálogo interno. Não há dúvida de que passámos da obediência ao chefe do regime para a obediência (cega) ao líder partidário. Continuo a dizer que ambas são corrosivas e indesejáveis em democracia. Penso que só há uma maneira de descrever isto: marxismo.

A transversalidade do marxismo – quer da postura marxista de ataque pessoal em detrimento do debate baseado em argumentos de substância, quer do controlo absoluto do partido – é a realidade em muitos partidos. Há demasiado marxismo nos partidos políticos portugueses. É com tristeza que observo isto.

50 anos depois do vinte cinco de abril, temos partidos políticos a defender a inexistência de diálogo com partidos como o PCP e o BE. O que diferencia os partidos democráticos dos não democráticos é precisamente o respeito pela expressão da soberania popular e pelas regras e práticas da democracia. O que é essencial é não ser igual a esses partidos, convidando-os ao diálogo, mesmo sabendo antecipadamente que o convite será recusado.

Mas aquilo que é mais indigno, é o hábito, uma cobardia, na minha opinião, de fazerem considerações pejorativas sobre terceiras pessoas quando estas não estão presentes para se defenderem. Algo que cada vez é mais frequente na sociedade.

Uma nota final sobre o politicamente correcto e o desejo da popularidade. As declarações do Presidente da República acerca de eventuais reparações pelo colonialismo foram desprovidas de bom senso e vão ter efeitos e consequências que eram completamente dispensáveis. Veio reacender uma discussão desnecessária. Terá sido para recuperar a popularidade perdida com o caso das gémeas e afins? Estas declarações são um exemplo do politicamente correcto. E o principal resultado do politicamente correcto aliado à visão utópica e perigosa de John Rawls é a corrosão de tudo o que representa a sociedade ocidental.

50 anos depois do 25 de Abril, temos líderes fracos que só se preocupam com a popularidade. E as claques aplaudem!