Se pensarmos na maior onda do mundo vem-nos à cabeça a imagem do surfista McNamara na Nazaré. Esta onda não foi inventada, não resulta de qualquer salto ou evolução tecnológica, é uma dádiva da natureza e hoje é uma atração desportiva e turística de excelência. Esta onda reforçou Portugal como destino de surf e é hoje um ícone nacional de que tanto nos orgulhamos.

Há, contudo, uma outra onda sobre a qual gostaria de falar e que, apesar de não ser portuguesa e de, essa sim, ter sido inventada e resultar da evolução tecnológica, tem o potencial de posicionar o nosso país como uma referência educativa, podendo vir também a tornar-se um motivo de orgulho nacional. Refiro-me à onda de inovação tecnológica no ensino e nas aprendizagens que as escolas em Portugal deveriam querer aprender a surfar. E, ao contrário da onda da Nazaré, apenas acessível a surfistas experientes, esta onda de inovação é acessível a todos, sem exceção. É, porventura, a mais inclusiva de todas as ondas e não acaba no fim da Praia do Norte, como a da Nazaré. Esta onda continua pela vida fora, sendo uma verdadeira ferramenta para o presente e para o futuro. É, por isso, essencial que o maior número possível de alunos aprenda a surfá-la, mas de forma segura e responsável. Com método e com processos. Com regras e métricas. Para que os ecrãs que servem de prancha para as aprendizagens em contexto de sala de aula possam libertar o seu potencial educativo e para que possam também, para os professores, ser instrumentos formativos eficazes.

No dia 2 de outubro, ficámos a saber que uma em cada quatro escolas já limitou uso de smartphones na sequência da recomendação do Governo, no passado mês de setembro, de proibir o uso e entrada de telemóveis em escolas do 1.º e 2.º ciclos.

É uma decisão baseada, segundo o Ministro da Educação, Fernando Alexandre, em “muitas evidências de que a utilização de smartphones pode ser não uma vantagem, mas uma desvantagem para as aprendizagens e que em determinadas idades o uso do smartphone pode deteriorar o bem-estar das crianças”.

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É importantíssimo, contudo, referir que nem todos os ecrãs são smartphones. Urge distinguir devidamente smartphones de tablets e, por outro lado, que se compreenda as diferenças entre o uso não supervisionado e não controlado dos primeiros e o uso planeado, estruturado e intencional de outros dispositivos que tornam o ensino mais inovador, mais eficiente e orientado para a melhor experiência de aprendizagem dos alunos.

O ensino e a educação ganham muito com a digitalização das aprendizagens. Em alternativa com métodos tradicionais de ensino (e de acordo com um estudo feito junto de cinco escolas portuguesas, que após alguns anos ganharam o selo da Apple Distinguished Schools, das 750 que existem no mundo e que usam o iPad como ferramenta didática), sabemos hoje que a tecnologia contribui para que os docentes consigam fazer apresentações mais apelativas e eficazes (70%), para aumentar a motivação dos alunos (80%), para desenvolver a criatividade (60%), para multiplicar as possibilidades de cooperação (80%) e, muito importante, para melhorar a comunicação com os alunos (75%).

Os ecrãs em contexto de sala de aula, usados de forma responsável, com monitorização, com regras e, sobretudo, com orientação pedagógica, permitem que os alunos aprendam a surfar a onda gigante da inovação e da tecnologia, tornando a era digital um fator de inovação tecnológica e de resposta aos novos tempos.

Os ecrãs não são todos iguais e são sobretudo um meio, não um fim. Integrar capazmente a tecnologia disponível nas aprendizagens em contexto escolar é a melhor forma de abraçar a enorme onda de inovação que só tem tendência para crescer, até de forma exponencial. Claro que surfar esta onda gigante é um enorme desafio para toda a comunidade educativa, mas a resposta não pode ser proibir, vedar ou restringir o seu uso, antes ensinar a utilizar.

A solução é perceber que existem óbvias vantagens em implementar projetos de transformação pedagógica e didática com recurso à tecnologia.

Necessitamos de assegurar uma prancha segura, responsável e adequada à onda. É preciso alavancar as inevitáveis alterações na abordagem ao ensino, possibilitando pôr o aluno no centro do processo, enquanto construtor da sua própria aprendizagem e futuro. É preciso também permitir ao Professor abandonar o papel de mero detentor e transmissor de conhecimentos para poder ser um efetivo, e motivado, facilitador da aprendizagem do aluno.

O risco de não surfarmos esta onda é o de ela nos passar por cima.