Com tantos indecisos tudo está em aberto no próximo domingo. O que parece ser mais concretizável é uma maioria de direita no Parlamento, mas sem certeza como essa maioria será distribuída pelos partidos políticos da direita.
Assim, como o mais importante é a derrota do PS, reitero o que escrevi aqui há um mês: O resultado mais importante das eleições legislativas de 10 de março é a derrota do PS. Um voto no Chega e na IL podem dar a vitória ao PS. Só o voto na AD permitirá derrotar o PS. O voto útil na AD vai ser muito importante para retirar o socialismo do governo. E nas circunstâncias específicas destas eleições, o voto útil poderá contribuir para baixar a abstenção. Muitos eleitores que não sabem em que partido votar, mas querem um melhor rumo e futuro para Portugal. Ao optar pelo voto útil (na AD) dão preferência a um melhor rumo para Portugal, ultrapassam o dilema da indecisão e ajudam a derrotar o socialismo.
Dito isto, refiro algumas notas e considerações sobre o que as nossas escolhas podem vir a determinar.
1 Num cenário de vitória AD em que esta só tem maioria com a IL e com o Chega, o argumento de que cabe ao Chega escolher entre validar um governo de coligação AD + IL, ou um governo da PS com a esquerda, também é valido para a própria IL. Por isso, se eu fosse o Luís Montenegro, não convidava nem a IL, nem o Chega para o governo. Fazia apenas um acordo parlamentar com ambos.
Apesar de expressar ideias, a política é feita por pessoas. E são as pessoas que ficam melindradas. Ao não ser o único partido a não ser convidado para o Governo, quer o Chega, quer André Ventura, ficavam sem argumentos para não viabilizar um governo da AD. Tal como a IL não teria argumento para recusar esse apoio parlamentar.
2 Da mesma forma que não há ditaduras boas, nem de esquerda, nem de direita, também não há demagogia boa. A campanha do Chega é tão demagógica com a do PS. Fazem precisamente a mesma coisa que acusam a esquerda de fazer. E tal como o PS, também são vítimas. Todos estão contra o Chega e o Chega não está contra ninguém. Pensei que a vitimização era um ópio exclusivo da esquerda, mas o Chega veio recordar-nos que a história está repleta de “chegas”. Tanto da esquerda como da direita.
Para um partido que se diz democrático, o Chega tem uma forma estranhíssima de defender o Estado de Direito. Para além da divulgação de sondagens e de notícias falsas, também espalham teorias da conspiração apelando aos instintos mais básicos, especialmente dos cidadãos menos informados, pondo em causa a democracia.
Em menos de 24 horas, o Chega lançou dois vídeos com dois avisos – supostamente feitos por membros/simpatizantes BE e do Livre – de eventuais fraudes nas mesas de voto do próximo dia 10 de março. Divulgado por André Ventura, este membro do Livre nem sequer vai beneficiar o seu partido. Prefere dar votos à IL. Espantoso.
Será exagero pensar que o Chega não vai ter representantes nas mesas de voto? Como se explica que o Chega assuma a priori que todas as pessoas que vão para as mesas de voto são desonestas e/ou coniventes com eventuais fraudes com o Chega e apenas contra o Chega? Três pontos devem ser referidos.
- Se há coisa que os políticos deviam fazer era confiar nos cidadãos.
- Não acham estranho que alguém que eventualmente tentará cometer fraude divulgue publicamente as suas intenções? Antes de o fazer!!!
- E não acham ridículo que alguém do Livre afirme que vai dar votos à IL?
Salazar (alguém que admiro em alguns pontos e que lamento não ter conseguido ser um democrata) candidatou-se contra os partidos políticos – “Deus, Pátria e Família”. Recordam-se? Segundo ele, a União Nacional nunca seria um partido político por ter uma aspiração mais alta: organizar e servir a Nação. Salazar disse que a União Nacional tinha uma divisa suprema – nada contra a Nação, tudo pela Nação – que era a base e o alicerce que edificaria o majestoso e belo, grandioso e sólido edifício que é o Estado Novo. E que acabou por ser o Estado Novo? Uma ditadura com um só partido. As diferenças com o comunismo foram poucas.
Que diz agora o líder do Chega? “Somos o partido de Deus, Pátria, Família e trabalho”. O Salazar também disse que os partidos serviam clientelas. A União Nacional passou a servir essas e outras clientelas. Acham que o Chega não as tem?
3 Há uma escolha maior a fazer no domingo. Manter a democracia ou perdê-la. Até agora só a esquerda defendia abertamente a opção pela ditadura e o fim da democracia representativa. Infelizmente, algo que diz ser novo, mas que é velho, reapareceu.
Será sempre melhor viver uma democracia com males como a corrupção, abusos de poder e afins do que numa ditadura cleptocrática, abusiva e coerciva. Não são os regimes que são corruptos e abusivos. São as pessoas. Independentemente dos regimes.
- Não há escolha possível entre Separação ou concentração de Poderes.
- Não há escolha possível entre Estado de Direito e direito do estado.
- Não há escolha possível entre limitar o poder ou dar poder absoluto a quem governa.
Sempre desconfiei de salvadores da pátria e de líderes perfeitos que resolvem tudo. Prefiro homens capazes de reconhecer e corrigir erros. Prefiro as dificuldades da realidade às facilidades da ilusão. E escolherei sempre a democracia. Também por isso vou votar AD!