As redes sociais multiplicam os exemplos cómicos (e trágicos) de cartazes de campanha para as próximas autárquicas e alguns são verdadeiras anedotas. Fazem rir, embora não tenham sido produzidos para serem propriamente divertidos. Digo eu, que acho que com o dinheiro não se brinca, muito menos quando esse dinheiro não nasce nas gavetas das sedes dos partidos nem nos bolsos de quem neles milita.
Incompreensíveis, risíveis e anacrónicos, os ditosos cartazes afinal cumprem múltiplas funções, nem todas desejáveis ou convergentes. Pretendem transmitir uma imagem, mas acabam por revelar uma caricatura. O cúmulo desta paródia é um grande partido dar-se ao luxo de produzir, pagar e colar cartazes para ajudar o povo a decorar um nome. Isto sim é inédito.
Em Lisboa, a pouco mais de dois meses das eleições, apareceram cartazes inteiramente vazios, sem mensagem absolutamente nenhuma, apenas com uma fotografia a preto e branco mal recortada e mal impressa encostada à direita, ao lado de um nome que, no entender dos experts, se destina a dar a conhecer alguém que é desconhecido de todos. Ou quase. Ah, no canto superior esquerdo também aparece uma seta cor de laranja a apontar para cima, a emergir de um quadrado clássico de boletim de voto, e de certeza que esperam que naquele quadradinho desenhado no lado que menos se vê, resida toda a prodigiosa eloquência de um cartaz mudo.
Em meados de Julho aplicam-se a ajudar-nos a soletrar um nome e levam-nos a associá-lo a uma cara que, insisto, está mal fotografada, sem nitidez e sem punch suficientes; em meados de Agosto não se passa nada porque os cidadãos eleitores ainda estão a banhos e não ligam a cartazes a não ser de gelados e, quando muito, de festas de Verão com bons DJs; em meados de Setembro talvez apareça uma mensagem colada no branco-vazio dos cartazes, e passadas duas semanas chega o grande dia. O tempo daqui até 1 de Outubro é um fósforo, mas estes senhores dão-se ao luxo de agir como se tivessem todo o tempo do mundo.
Para quem já conhece a candidata à CM de Lisboa escolhida pelo PSD, os cartazes são ainda mais vazios, porque já decoraram o nome e até já sabem quem é. Ou seja, não precisam deste gigantesco jogo de memória que consiste em publicar cartazes-mnemónicos. Em todo o caso devo dizer que mesmo entre supostos connaisseurs já ouvi os maiores dislates. Querem ouvir? Teresa Leal Costa, Teresa Leal Faria, Teresa Neto Coelho, Teresa Costa Coelho e até ‘aquela Teresa de que ninguém sabe o nome completo’. Bonito serviço. Realmente assim percebe-se a campanha do nome.
Acontece que não estamos em tempo de perder tempo e, muito menos, de desperdiçar dinheiro. A candidata tem certamente obra feita, ou não teria sido escolhida pelo líder de um grande partido, mas se assim é porque não dá-la a conhecer através da sua acção em vez de a reduzir à expressão mínima do nome? Nome que, ainda por cima, nunca saberemos se vai ser devidamente conjugado e pronunciado daqui até às autárquicas, apesar deste mega esforço para o sabermos de cor.
Em plena campanha, em pleno Verão cheio de acontecimentos, roubos, catástrofes e dramas, pergunto quem se pode dar ao luxo de deitar votos para a rua em vez de os andar a colher em todas as ruas, freguesias e bairros da cidade? Não sei porque é que os políticos não aprendem uns com os outros e não evitam erros que outros já cometeram. Falo de todos os políticos de todos os quadrantes, note-se. Também me interrogo sobre a estratégia dos estrategas. Nomeadamente daqueles que em vez de capitalizarem à direita (como Costa fez e continua a fazer à esquerda, mantendo os atrelados da geringonça todos a rodar, mesmo os que se arrastam com rodas quadradas), dizia eu aqueles que em vez de capitalizarem à direita e ao centro, dividem as hostes oferecendo candidatos cuja cara, nome e obra a esmagadora maioria dos eleitores desconhecem.
Não sabemos o que vai acontecer em Outubro e há sempre a possibilidade de crer em milagres (santa audácia! como diria Camilo Castelo Branco), mas é difícil acreditar numa aposta tão dissonante que mais parece um favor da direita à esquerda. Um presente que a oposição amorosamente oferece ao governo, quero dizer.
Há, ainda, a possibilidade de Pedro Passos Coelho ter previsto uma fraca votação na sua estimabilíssima Teresa (não quero correr o risco de me enganar no nome e, por isso, fica assim, simplesmente Teresa), na sua biografia de grande alcance e certamente maior impacto (a avaliar por artigos publicados com títulos incisivos do tipo: “quem é a candidata do PSD”), mas se assim foi poderemos inferir que foi de propósito que a fez avançar? Para a queimar? Para ninguém o acusar de não ter um candidato próprio? Para dar a conhecer uma cara e um nome que deixa os militantes livres para votarem noutros candidatos? Estranha estratégia, esta.
Fernando Medina deve estar radiante com tudo isto e nem sequer dá a cara. Desconhecido por desconhecido, prefere continuar na sua semi sombra confortável de príncipe herdeiro que nunca foi a votos, e apostar em cartazes desfocados de fundo branco com as caras e figuras de outros sobrepostas (sobre-expostas, também!), tentando confundir os incautos falando sempre em nome de Lisboa e nunca em nome próprio.
De todos os candidatos, sem excepção, espera-se ver a cara e conhecer o nome e a obra, mas acima de tudo saber o que querem fazer por nós, cidadãos e cidades.