Jimmy Lai, ainda criança, fugiu da República Popular da China para Hong Kong, escondido no porão de um junco, para livre e voluntariamente se submeter à exploração capitalista e à opressão colonial. Abdicou, assim, de poder viver numa sociedade socialista, justa, próspera e fraternal. Teve o que procurava. Não recebeu nenhum apoio da segurança social. Nem sequer foi à escola. Encontrou logo um explorador local que o esfolou do seu trabalho infantil, numa fábrica têxtil, em troca ao equivalente a cerca de 6 euros por mês. Jimmy, completamente alienado, delirou de alegria com o que podia fazer com 6 euros por mês em Hong Kong.

No seu entusiasmo em ser explorado, Jimmy ajudou colegas & serviu os que o oprimiam, de tal modo que progrediu na empresa até chegar a gestor da fábrica quando tinha um pouco mais de 20 anos. Aos 27, com as suas poupanças, e sem qualquer apoio estatal ou fundos europeus, comprou uma empresa têxtil falida e transformou-a num caso de sucesso—na satisfação dos consumidores, na criação de empregos e na geração de riqueza. Em pouco mais de 20 anos passou de miúdo indigente a bilionário cosmopolitano.

A supressão sangrenta da revolta popular de 1989 na China fê-lo tomar consciência do seu privilégio & da sua principal riqueza: o poder viver em liberdade. Em Hong Kong não havia democracia, mas existia uma economia de mercado, totalmente selvagem e sem nenhum outro controlo que não fosse o do estado de direito, com um sistema legal sóbrio e uma magistratura independente, a que se pode acrescentar a existência de uma cultura com um elevado grau de respeito pelos direitos humanos, incluindo o da liberdade de expressão. Foi por essa altura que Jimmy Lai decidiu investir na liberdade. Não na sua, mas na liberdade do povo de Hong Kong. Como?

Convicto que informação é necessária para as pessoas poderem fazerem boas escolhas, e que a capacidade de tomar decisões corretas é a essência da verdadeira liberdade, Jimmy Lai decidiu lançar uma revista, a que se seguiu, anos depois, um jornal. Publicações que tiveram um enorme êxito, e que rapidamente se tornaram das mais lidas no território. Mas cujo conteúdo o pôs em rota de colisão com a ditadura nacional & socialista de Beijing.

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Será que, em consequência, lhe aconteceu algo de grave? A resposta a esta pergunta, bem como uma análise, enviesada1 mas honesta, do que está a acontecer em Hong Kong, e do que isso significa para quem tem negócios com a China, está disponível num vergonhoso2 documentário do Acton Institute, The Hong Konger: Jimmy Lai’s Extraordinary Strugle for Freedom, disponível gratuitamente no Youtube, e que se recomenda a todos os tugas que desejam saber um pouco mais sobre:

  • As potencialidades perversas & maléficas da economia de mercado (vulgo capitalismo);
  • A importância de uma imprensa livre para manter a população na ilusão de se consegue mais prosperidade e bem-estar sob a opressão capitalista do que num regime socialista com características nacionais, sejam chinesas, sejam portuguesas;
  • O valor do civismo e da não violência para manutenção da autoridade moral necessária para sabotar & criar problemas na caminhada de uma sociedade rumo ao socialismo;
  • A extraordinária e “heroica” vida de um inimigo do povo & sabotador do progresso social, Jimmy Lai.

Esta homenagem a Jimmy Lai tem um preço. Nunca mais o autor irá a Hong Kong2, nem nunca mais porá os pés na China. Pelo menos até ao dia em que o povo chinês derrube o regime de Beijing. E terá que ter mais cuidado ao atravessar a rua. Mas este é um preço de saldo comparado com o premium que Jimmy Lai e todos os amantes da liberdade em Hong Kong, como Martin Lee e o Cardeal Joseph Zen, estão a agora pagar por todos nós.

U avtor não segve a graphya du nouo AcoRdo Ørtvgráphyco. Nein a do antygo. Escreue de acordo com sua vi suaque sponte. #EncuantoNusDeixam

 
  1. Enviesado: aquilo que é parcial, ou que toma partido, seja pelo verdadeiro, bom e belo, seja pela falso, mau ou rasca.
  2. Vergonhoso: ação que consciencializa uma incapacidade própria a quem a testemunha e que o envergonha; ato digno de causar vergonha a quem o não consegue imitar, como em “a gestão do governo em 2008-2011 foi vergonhosa para todos até ao sr. eng. Costa perder a vergonha com o presente executivo”.
  3. De acordo com a Lei de Segurança Nacional de Hong Kong, aprovada em Junho de 2020 pelo Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular de Beijing, em flagrante violação da Lei Básica estabelecida por tratado internacional, qualquer cidadão, nacional ou estrangeiro, agente de uma ação que o governo chinês considere, com ou sem razão, com provas ou sem qualquer evidência, crime de secessão, subversão, terrorismo e conluio com organizações estrangeiras pode ser extraditado de Hong Kong para a República Popular da China para aí ser condenado.