Há muitos anos, Quim Barreiros, então o rei da música pimba, fez uma canção sobre a excitação com uma Greta, a Garbo. Muitos anos depois, e num século diferente, há um grande entusiasmo com outra Greta, a Thumberg.

Vale a pena recordar a canção:

“Todos querem ver a Greta
Ou então tocar na Greta
Quem sabe beijar a Greta
Mas que grande sensação
Ou até fotografar a Greta
Queremos rever a Greta
Mesmo na televisão”

Hoje, os líderes mundiais querem ver a Greta, aparecer ao lado da Greta, e até falar como a Greta. O meu problema não é a jovem sueca nem os outros jovens activistas. Tratam o clima como um pretexto para darem nas vistas. Protestar em Glasgow é uma festa. Mas onde está a coragem de quem protesta? Como escreveu Jeremy Clarkson no The Times, “se a Greta e os seus amigos quisessem fazer a diferença, fariam manifestações na Praça de Tiananmen.” Ou, acrescento eu, no Kremlin. No Reino Unido, é demasiado fácil. E protestos sem coragem valem pouco.

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O meu problema é sobretudo com esta espécie de “Gretanização” (ou de infantilização) de muitos líderes mundiais. O Secretário Geral da ONU gosta de ser filmado com a Greta, e fica exaltado quando fala como a Greta. Nos seus discursos, seguramente inspirados pelos encontros com a Greta, parece que está quase a começar a chorar quando fala do clima, quando nos trata como “criminosos”, e quando diz que é necessário “ganhar a guerra climática.”

Mas Boris Johnson, o PM britânico, também segue a Greta, e com empenho e zelo. No discurso de abertura do COP26, citou a Greta com um entusiasmo indisfarçável. Não sei se conseguiu uma fotografia com a Greta. Em Glasgow, até Biden se deixou encantar pelo discurso da Greta. Mantendo alguma sensatez, Macron e Merkel resistiram à “Gretanização” em curso.

Mas o momento mais cínico foi a ida de Obama a Glasgow para rivalizar com a Greta. E qual foi a estratégia do antigo Presidente norte Americano para competir com a Greta? Foi o regresso a uma espécie de virgindade política. Em Glasgow, discursou como um activista. Mas muitos ainda se lembram da Cimeira de Copenhaga, no final de 2009, quando Obama era Presidente norte americano e se juntou à China para travar as propostas europeias sobre o combate às alterações climáticas. Eu lembro-me. Estava lá. Recordo-me bem do choque e do espanto dos líderes europeus. Que falta fez o Obama de Glasgow em Copenhaga. Mais um antigo líder que tem soluções brilhantes depois de deixar o poder.

Voltando aos activistas (os verdadeiros, e não a Greta), é importante dizer que não é o clima que os move, mas sim a luta contra o capitalismo. Por isso, nunca estarão satisfeitos com as políticas climáticas aprovadas pelos governos ocidentais. Na linha dos socialistas radicais do século XX, os comunistas verdes só ficariam realizados com o fim do capitalismo ocidental.

Ora, a realidade demonstra precisamente o oposto. A capacidade de inovação da economia de mercado é a maior esperança para combater a poluição. A esperança vem de empresas, como a EDP e agora a GALP, que investem nas energias renováveis. Vem das grandes petrolíferas, como a Shell, a Total ou a BP, que apostam na investigação para tornar o gás menos poluente e aumentar a capacidade de armazenamento de novas energias não poluentes. Vem dos fabricantes de automóveis que produzem mais carros eléctricos. Não haja dúvidas. A redução da poluição vai depender em grande medida da capacidade das empresas privadas para investirem na inovação tecnológica.

Aos governos compete lidar com a realidade e não se deixarem embalar pelas Gretas deste mundo. Vejam o que está a acontecer na Alemanha. O governo de Merkel baniu a energia nuclear, mas está a comprá-la aos franceses. Pelo contrário, em França, as empresas inovam para produzir energia nuclear mais segura e menos tóxica. Aliás, os alemães já perceberam e estão a trabalhar com os franceses para incluir a energia nuclear e o gás natural na lista das “indústrias verdes” da União Europeia. E querem concluir o acordo antes do novo governo tomar posse para pouparem em embaraço aos Verdes.

Ainda na Alemanha, antes das últimas eleições, a maioria dos alemães disse que as alterações climáticas era o tema mais importante da campanha. Mas a mesma maioria também afirmou que não aceita que as políticas para combater as alterações climáticas afectem o seu modo de vida e o seu bem-estar material. Como mostraram os protestos dos coletes amarelos em França, os mais pobres são os mais prejudicados com muitas das políticas climáticas. Aqueles que não têm dinheiro para mudar de carro, e muito menos para comprar um carro eléctrico, e continuam a ir trabalhar no velho carro a gasóleo. É esta a realidade de milhões de europeus.

Em vez de criarem falsas expectativas, os líderes europeus e americanos deveriam explicar que a economia de mercado e a iniciativa privada são os melhores aliados para se diminuir a poluição global. Bem sei que nos dias que correm é mais popular tirar fotografias com a Greta do que dizer a verdade. Mas talvez esteja na altura de os líderes políticos colocarem a credibilidade à frente da popularidade.

Há um último ponto fundamental. O combate à poluição global não terá efeito se a China e a Índia não participarem activamente. Mas os governos das duas potências asiáticas irão, naturalmente, privilegiar a diminuição da pobreza das suas populações, mesmo que isso implique um aumento da poluição. Deverá ser muito agradável estar com a Greta, e muito popular fazer discursos cheios de boas intenções. Mas o que conta serão as negociações a sério, e duras, com os Presidentes da China e da Índia. Enquanto isso não acontecer, as Gretas deste mundo podem gritar nas ruas das cidades europeias, mas nada de importante acontecerá no combate à poluição global. Os líderes políticos devem esquecer a Greta e começar a olhar para a Europa e o mundo de um modo realista.