Há quem viva nos extremos, sem meios termos e zonas cinzentas. Pessoas que vivem no modo tudo ou nada oscilam entre sentimentos radicalmente opostos. Numa velocidade que vai fulminantemente de 8 a 80, podem passar drasticamente de sentimentos de amor a ódio e vice versa. Entregar-se a 100% ou desistir da noite para o dia, cortando radicalmente com relações que foram até então investidas com todo o empenho.

Será equilibrada uma vivência assim, preto no branco? Se pode entusiasmar o furor emocional desencadeado pela intensidade de viver em pleno as experiências vividas, em muitas situações as tomadas de decisões radicais podem causar desequilíbrios (e, em alguns casos, mesmo perigo).

Um pensamento dicotómico e absolutista interfere na capacidade de analisar o todo e integrar a pluralidade de perspectivas. A realidade olhada sob somente dois eixos fica reduzida apenas a duas possibilidades categóricas: ora bom, ora mau. Estes julgamentos reducionistas correm o risco de julgar a realidade em termos enfáticos, sob uma única visão tida em conta naquele específico momento que se sente e lê então com determinado humor a experiência ou questão envolvente. O risco do totalitarismo passeia nestas tomadas de posição. Sabemos e sofremos com a ameaça das facções extremistas.

O funcionamento impulsivo impera neste modus vivendi, podendo colocar em risco a estabilidade de uma vida sossegada e sem sobressaltos. Claro está que é boa a adrenalina da aventura que se antecipa num salto para algo que se espera que seja excitante, mas todos os dias andar de montanha russa pode desnortear às tantas os pontos de referência do discernimento. Pode saber bem pisar o risco de vez em quando, pelo ganho de algo estimulante e quiçá original na descoberta fora da rotina. Mas talvez seja conveniente não adoptar comportamentos borderline pelo risco que tal acarreta para a própria saúde mental.

Comportamentos border assemelham-se às condutas de um adolescente rebelde fura-regras e limites. Se um adolescente pode passar por uma fase assim, tendo a possibilidade de crescer e integrar as experiências radicais acumuladas transformando-as em aprendizagem e num novo pensamento e atitude na vida mais madura, um adulto que vive assim, no fio da navalha, assume uma imaturidade para um todo sempre que o impossibilita de tolerar a frustração de não ser tudo como deseja e de sofrer por não se adaptar a todos os aspectos da realidade.

Foi Adolph Stern, psicanalista americano, quem primeiro usou este termo, em 1938, para descrever pacientes que sofriam de uma hemorragia psíquica, perante as frustrações muito difíceis de lidar. Há quem reaja com ataques de raiva perante situações para si intoleráveis, afectando muitas vezes as suas relações devido aos comportamentos de violência. Não aceitando nãos, lá jorram gritos e atitudes hostis face à limitação de todo-o-poder. É verdade que no fundo da dita impulsividade, há uma sensação de vazio escondida, o medo do abandono. O risco da adopção de comportamentos destrutivos acontece para contornar o sofrimento escondido. A insatisfação vai colmatando-se com sucessivas gratificações imediatas. Agora, procurar viver tudo para escapar ao nada poderá ser aposta alta e arriscada, não? Diz a sabedoria popular que quem tudo quer, tudo perde

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