Neste espaço tivemos vários artigos de opinião sobre a importância das eleições para o Parlamento Europeu (PE), que aconteceram este 9 de junho. Um dos receios apresentados (repetidamente) foi a possibilidade de haver uma mudança do centro de gravidade político no PE, na direção da extrema-direita, o que podia colocar em risco o muito que já foi feito para construir a União Europeia que todos os democratas desejam (e dos federalistas que acreditam que pode ser ainda mais integrada). Falámos do Grupo da Identidade e Democracia (ID), e dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), o que podem fazer individualmente, ou se juntassem num grupo maior.

Para já, e no rescaldo dos votos, e esperando por negociações para entrada de eurodeputados neste ou naquele grupo, o “centro aguentou”. Estas não são só as palavras do autor, mas da ainda presidente da Comissão Europeia, e candidata à próxima, Ursula von der Leyen. Isso faz aumentar a necessidade de haver a vigilância, também como von der Leyen disse, por parte deste centro, para não precisar, ou ser tentado, a criar alianças com extremistas.

Isso faz com que os Sociais Democratas, e Populares do PPE, Socialistas e Democratas do S&D, e Liberais e Democratas do Renew Europe, terão de encontrar consensos para terem uma nova Comissão Europeia, e uma agenda que dê continuidade às grandes políticas da União, que vão desde economia, ambiente, tecnologia, segurança, proteção de direitos, etc. A ideia é criar, e novamente recorrendo à Presidente da Comissão (que ainda há bem pouco tempo percorria as ruas de Lisboa) “uma ampla maioria para uma Europa forte”. der Leyen precisa de 361 votos para ser reconduzida, quando neste momento este centro pode ter, no mínimo, 407. Haverá um segundo momento onde será preciso a aprovação do Conselho Europeu, mas cada coisa a seu tempo.

O outro possível (e algo inesperado) potencial parceiro para negociações são os Verdes, que depois do bom resultado de 2019, perderam 18 eurodeputados, ficando com um grupo com 36 (possíveis) lugares, e uma posição menos forte. Isso viu-se na iniciativa do eurodeputado Bas Eickhout, dos Países Baixos, que sugeriu que os Verdes procurarão desempenhar “um papel construtivo” … se von der Leyen estiver interessada em os trazer para essas discussões. Os Verdes estão também na expectativa para ver o que farão os eurodeputados do VOLT, que viram um crescimento notável da sua representação, e que se encontram num processo de análise se querem se juntar a este grupo, ou entrar no Renew Europe dos liberais e democratas, uma vez que VOLT é um partido europeísta que se define como progressista.

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Falando dos liberais, e o autor destes textos teve uma espécie de recusa autoimposta de não mencionar este grupo político por uma questão de imparcialidade. O Renew Europe é a coligação entre os Partido da Aliança dos Liberais e Democratas pela Europa – ALDE Party (e não o “Partido Liberal Europeu” como disse, estranhamente, o cabeça de lista do Iniciativa Liberal que pertence, afinal, à família desses partidos, mas, detalhes…) e pelo Partido Democrata Europeu (daí talvez a confusão? De qualquer maneira, uma falha inaceitável para um cabeça de lista). O Renew perde 23 lugares, um pouco por toda a Europa (Espanha, França, Hungria, Bélgica), mas também teve resultados muito positivos em locais como Eslováquia, Eslovénia, Áustria, e claro, Portugal. Didrik de Schaetzen, o Secretário-Geral do ALDE Party já fez saber que estão disponíveis para ajudar neste centro, desde que as prioridades liberais continuem a ser defendidas: ajuda à Ucrânia, expansão para os Balcãs Ocidentais, maior liberalização na economia e proteção de direitos e de minorias.

Quanto à extrema-direita no Parlamento Europeu, também amplamente discutida aqui, não podemos “colocar a cabeça na areia” e minorar o crescimento dos partidos extremistas e radicais nesta família. Isso seria errado e contraproducente, pois é ignorar as razões para os europeus votarem nestes candidatos. O ID cresceu, não tanto como se esperava, exceto se a AfD volte ao grupo (algo mencionado aqui). Assim, não serão o grupo todo-poderoso que se temia, e os dois eurodeputados do Chega irão ter uma participação negligenciável, tanto pelo peso dos outros partidos políticos, como pela manifesta carência de qualidade política dos primeiros.

Um novo Parlamento. Uma nova Comissão. Novos Comissários e equipa de trabalho. O centro aguentou, e agora precisa de provar que esta nova oportunidade dada pelo eleitorado da União Europeia precisa de ser bem aproveitada.