É evidente que o resultado das eleições internas de Janeiro próximo, no PSD, não é indiferente à democracia portuguesa. O PSD é um partido fundador do quadro político pós-25 de Abril de 1974, e, desde essa data, em alternância com o PS, líder de governo.
Saber quem ganha as eleições internas do PSD é perspetivar que tipo de alternativas se oferece à aliança Esquerda-Extrema Esquerda e quem a vai protagonizar.
Em 2015, quebrou-se o costume constitucional que permitiu, durante décadas, que o partido mais votado em eleições governasse. Tal situação levou à maior parlamentarização do sistema político português, sendo que o Centro e a Direita portuguesa passam, ainda, um tempo de adaptação às novas circunstâncias.
O PSD é hoje um partido diminuído politicamente, o CDS está em sérias dificuldades e entrou em cena um partido populista de Direita, o Chega.
Entretanto, a eleição de Rui Rio como presidente do PSD, em Janeiro de 2018, não trouxe, infelizmente, um rumo, um caminho.
O líder que levou o PSD a ter 27% dos votos expressos em 2019 (o pior resultado do PSD desde 1983), insiste em se manter na liderança do PSD, sem que nele se consiga perceber uma linha de discurso, um caminho.
Como votar num candidato, que não se revê na importância do Parlamento, e que tem uma liderança na qual não assume as próprias responsabilidades?
Relembro dois episódios que justificam estas minhas perguntas: o primeiro, é o voto parlamentar do PSD ao lado do PCP e do Bloco de Esquerda na questão da contagem do tempo de serviço dos professores, em Maio passado. O resultado da votação (contra o governo) permitiu a António Costa dramatizar a situação política, com uma comunicação ao país em que ponderava a possibilidade de demissão. Fragilizado, à data, pelos problemas resultantes dos incêndios, a situação das escolas e dos hospitais, “colado” à ideia de despesismo do governo Sócrates, António Costa encontrou a sua oportunidade de afirmação numa situação em que o PSD foi parte determinante. Ao colocar-se as na posição de líder responsável contra aventureirismos, remeteu o PSD para a posição de partido irresponsável e despesista. E o que fez Rui Rio face ao problema que criou ao país e ao PSD? Recuou, e veio afirmar, publicamente: ”Eu nem deputado sou”. Como se alguém pudesse acreditar que uma votação de tal importância não fosse liderada pelo presidente do partido. Como se fosse possível a um líder responsável enjeitar da maneira que fez as suas responsabilidades face aos seus deputados.
O segundo episódio que relembro aconteceu mais recentemente. Antes das eleições parlamentares do passado mês de Outubro, em Setembro, vem afirmar em entrevista à agência Lusa, que “Não tenho um particular entusiasmo em ser deputado”. Um democracia parlamentar, como a nossa, tem o seu centro…no Parlamento. Quem desvaloriza o papel dos deputados desvaloriza o sistema parlamentar. Desvaloriza a democracia.
O caminho que Rui Rio oferece, com a menorização do papel do Parlamento a favor de uma liderança unipessoal, com a preferência por consensos de regime com o PS, com uma agenda política sem rumo coerente, leva, perigosamente, o PSD, para o papel de partido pouco democrático, subalterno e de recurso, tirando-lhe o lugar, que sempre teve, partido aberto, plural e de alternativa de governo.
Depois temos a candidatura de Miguel Pinto Luz à presidência do PSD…
Se é verdade que todos os militantes em condições elegíveis são potenciais candidatos à liderança, também é verdade que convém a cada militante ter a noção da sua posição relativa. Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, é um desconhecido com uma agenda específica no campo das empresas de novas tecnologias. Só que Portugal não é nem uma start up, nem uma smart city, apesar do interesse que estas temáticas têm. O caminho para Portugal não é a conversão monotemática num parque tecnológico, por mais moderno que seja o tema. É por isso que esta candidatura parece mais uma estratégia de divisão do eleitorado interno do PSD.
Que caminho nos oferece Luís Montenegro?
Luís Montenegro tem qualidades pessoais e políticas que, manifestamente, nenhum dos outros dois candidatos à liderança do PSD têm.
É empático, tem capacidade genuína de se relacionar.
É um exemplo de responsabilidade enquanto líder parlamentar, demonstrada, publicamente, durante quatro anos muito difíceis para Portugal. Quatro anos em que o PSD liderou o governo e retirou o país da situação miserável em que a governação anterior do PS o tinha deixado, o que alguns tentam fazer por esquecer, mesmo dentro do PSD.
Acima de tudo, ficaram patentes, em condições de enorme dificuldade e turbulência no País, as suas qualidades de liderança, na forma exímia como conduziu o maior grupo parlamentar, gerando consensos internos. A noção, que demonstrou, de que o interesse nacional é superior aos ganhos partidários imediatos, foi essencial para garantir a unidade do grupo parlamentar do PSD e por esta via, a estabilidade da governação num período crítico para Portugal. Só o seu respeito pelos deputados e pelo Parlamento (numa contradição manifesta com Rui Rio) lhe permitiram conquistar, reciprocamente, o respeito enquanto líder. Só o seu sentido de Estado assegurou, na articulação com o Governo, as condições para a saída da troika.
Desde que afirmou a sua disponibilidade para liderar o PSD, ficou claro que, ao contrário de Rui Rio, propõe um caminho de alternativa ao governo do PS, nomeadamente, ao, de forma inequívoca, ter dito que o PSD devia votar, no Parlamento, contra o Orçamento de Estado do atual governo para 2020. Deixou claras as águas – é ao PCP e ao Bloco de Esquerda, que viabilizam o governo minoritário do PS, que compete suportar o Orçamento de Estado. Mostrou uma via de liderança ao mesmo tempo compreensível para o eleitorado e lógica face à situação política.
A vontade de mudança que ele representa, dentro do PSD, é hoje evidente. Assim se tem visto, por todo o país, na mobilização que a presença de Luís Montenegro tem suscitado na campanha para as eleições internas.
O PSD é um partido essencial à democracia portuguesa e tem construído, ao longo das décadas, um trabalho político que faz dele mais que uma associação de cidadãos,
um pilar do desenvolvimento português.
O país precisa de um PSD novo e forte. Um PSD que se apresente, inequivocamente, como alternativa de Governo, num projeto de desenvolvimento inclusivo e gerador de riqueza nacional, apoiado, na iniciativa dos cidadãos e tendo no Estado Social um garante de redistribuição justo e exigente, numa cidadania ativa com direitos e deveres. Não precisamos de um PSD fraco, com um discurso errático, envelhecido, pouco mobilizador.
Luís Montenegro é, dos três candidatos à liderança do PSD, aquele que melhores condições oferece para garantir a alternância democrática que o País precisa, suportado num partido que possa, de novo, estar unido na sua diversidade e riqueza.
Um partido de militantes e participação política, essencial numa época de incertezas face ao futuro e de tendências políticas extremistas. Um partido no centro da vida política, no coração das opções para o nosso futuro.
É com esta convicção que voto em Luís Montenegro.