O discurso de Tiago Mayan é, por vezes, trapalhão, com algum recurso a chavões e nem sempre se consegue desamarrar de conceitos teóricos e argumentos um pouco superficiais. O nervosismo e inexperiência são os principais inimigos para alguém que não está habituado a estas lides. Faz parte. É um pequeno custo a pagar para termos novas caras na política – o benefício suplanta claramente o custo.
O crescimento político de Tiago Mayan de debate para debate foi notório. A confiança aumentou, a oratória tornou-se mais clara e foi mais incisivo nas críticas aos adversários. Mayan afirmou-se como a única voz dissonante não populista. Conseguiu desmascarar as obsessões ideológicas dos adversários. Quando outros aludem ao enorme interesse estratégico da TAP (!?), Tiago Mayan denunciou o assalto aos contribuintes. Quando a desonestidade intelectual de outros proclama que esta pandemia demonstrou que só podemos contar com o SNS, o candidato liberal criticou a não utilização de todos os recursos de saúde, privados e públicos, num contexto pandémico. Quando tantos aplaudem os cheques em branco passados ao Governo durante várias semanas de estado de emergência, Mayan denunciou a incompetência destes que “perderam o rasto a 87% dos contágios” e que pouco fizeram para se preparar para a segunda vaga. Nenhuma destas críticas deveria ser surpreendente. Mas é. Tiago Mayan diferenciou-se, colocando o indivíduo no centro da ação, em sobreposição a uma visão meramente coletivista e distorcida da sociedade.
O candidato liberal foi aquele que melhor conseguiu desmontar a farsa de André Ventura (infelizmente, insuficiente para impedir uma votação expressiva no candidato do Chega no próximo dia 24 de Janeiro). Numa frase, Mayan resumiu as contradições populistas do líder do Chega, os preconceitos primários que alimentam a sua agenda (contra ciganos, contra imigrantes, contra tudo o que não representa “a pátria” – seja lá o que isso for) e o anti-liberalismo económico (ao contrário do que o candidato apregoa): “Para André Ventura é mais importante fechar a torneira a 15 milhões de euros na RSI [para beneficiários ciganos] do que fechar a torneira para 4 mil milhões da TAP.”
Tiago Mayan não é o candidato óbvio. Não atrai as massas. Não é inspirador. Não se torna viral. Não tem o dom da palavra. Não é o tradicional político. Mas isso não é necessariamente mau. Tiago Mayan é um cidadão que luta por um país melhor e que se sujeitou ao cruel escrutínio público, enquanto outros ficaram no sofá – só isso já mereceria a minha admiração e aplauso. Talvez ainda não tenha as competências para ser um político de maior sucesso. Provavelmente nunca será – provavelmente nem tem essa ambição. Consegue, ainda assim, convencer-nos pelas suas ideias e ser uma lufada de ar fresco numa eleição cinzenta onde a maior parte da direita democrática decidiu não marcar presença. Revela uma independência de espírito invejável, tão escassa na política.
À falta de coragem de tantos críticos de Marcelo em candidatarem-se (à direita, sobretudo), Tiago Mayan demonstrou ousadia. Demarcou-se da colagem ao Governo do atual Presidente da República e demonstrou a relevância desta alternativa de direita perante um ex-líder do PSD que se preocupa mais em ser popular que em ser competente. Designou-o como “o candidato dos donos disto tudo” e lembrou a marca lamentável que possivelmente atingiremos, e do qual Marcelo será cúmplice: “Se o senhor Presidente for reeleito no dia 24 de janeiro, vai terminar o seu mandato, com grande probabilidade, como o Presidente do país mais pobre da Europa.”
Mayan é a voz dos que estão fartos de estar na cauda da Europa. Daqueles que condenam os preconceitos ideológicos que servem para justificar decisões políticas desastrosas. Daqueles que a cada ranking que passa veem Portugal mais no fundo. É a opção certa num deserto de alternativas. Distanciando-se do socialismo e das derivas populistas e securitárias, Tiago Mayan representa uma direita esquecida em busca dos seus valores. Uma voz liberal num país onde o socialismo predomina. É a alternativa, é a única alternativa. Dia 24 de Janeiro votarei Tiago Mayan Gonçalves.
Nota final: Tiago Mayan recusa os rótulos de direita e esquerda, que eu, no título, contrario. É verdade que o liberalismo (individual, político e económico) extravasa a dicotomia vigente no nosso espectro partidário. No entanto, num país economicamente tão frágil e tão pouco liberal nesta matéria, é inevitável que a agenda liberal na economia seja preponderante, tornando a direita o seu espaço natural.