Na minha opinião há opiniões a mais. Toda a gente sabe como a sacrossanta “opinião pessoal”, um direito há muito democratizado, por estes dias saiu dos salões, cafés e barbearias, para se banalizar nas redes sociais como arma de arremesso ou troféu de originalidade. O problema é quando é usada como uma bomba capaz de silenciar o mais salutar convívio, azedar relações familiares ou laborais, ou bloquear promissoras amizades virtuais. Já falei deste assunto aqui há tempos, tendo então defendido que o fenómeno actualmente exige cuidados redobrados: definitivamente uma contundente opinião expelida à mesa dum jantar de família ou entre colegas de trabalho não funciona como no Twitter, onde só por grande coincidência se encontrará algum dos seus fiéis e entusiásticos seguidores.

Se cada pessoa lesse um livro antes de emitir uma opinião ainda se aceitava. Mas não. O fenómeno é tanto mais fracturante quanto um autêntico catálogo de aprimoradas e perigosas opiniões, sobre tudo e sobre nada e com as mais inéditas matizes, é-nos generosamente disponibilizado em abundância pelos mais credíveis especialistas, políticos ou jornalistas, todos os dias e a todas as horas nos jornais, rádios e televisões – uma oferta que excede em muito a procura. Democraticamente, hoje, todos podemos chegar ao café com uma ou mais opiniões emprestadas e fazer um brilharete. De realçar que, se todos temos direito a expressar a nossa opinião, a tolerância ainda não é um dever de cidadania, que isto das opiniões, há cada uma…

Tudo isto para dizer, que nos encontros de amigos, familiares e colegas, não fazem falta opiniões, mas antes boas histórias. O que promove e prolonga uma boa conversa são boas histórias, bons contadores de histórias. Uma boa história, ao contrário duma opinião, convida, promove, bons ouvintes, algo essencial num bom convívio. Uma mesa ou um salão civilizado requer igual quantidade de bons ouvintes quanto de bons contadores de histórias. Uma boa história gera curiosidade e interesse por parte dos convivas. E numa boa história estão sempre implícitas opiniões, uma determinada estética, uma concepção do mundo, da existência que exprimida desta forma não causará grandes antipatias.

Todos temos o direito de rejeitar uma opinião: por total desacordo de princípios, por simples impaciência ou embirração com o interlocutor. Repitam todos comigo, por favor: só se devem dar opiniões a quem as pede – já dizia a sabedoria popular. Quem me vem ler aqui sabe ao que vem, é porque quer, e gabo-lhe a paciência por isso. Mas não restem dúvidas de que escutar uma boa história, uma peripécia, testemunhada ou experimentada, é o melhor que levamos duma confraternização num jantar de férias em Agosto. A boa conversa, uma arte preciosa que é necessário cultivar, é tão ou mais marcante que um sofisticado vinho ou as deliciosas iguarias que nos juntam a uma mesa.

Esta crónica é uma homenagem aos bons contadores de histórias, bons conversadores com quem tive a sorte de me cruzar. Boa gente cada vez mais rara, que no lugar de opiniões, partilha memórias e experiências fantásticas, simplesmente cativantes, ou somente bem contadas, amigos que temos de acarinhar para que não desapareçam de vez, oprimidos pela voragem das opiniões pessoais vertidas por temerários prosélitos. A esses, peço só que me contem boas histórias e guardem as suas opiniões.

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