Largo do Rato, temos um problema: há cidadãos a lucrar com o alojamento local e, em geral, com a exploração das suas propriedades. Claro que o governo decidiu enfrentar o problema, combatê-lo de imediato e erradicá-lo a prazo. Talvez o BE precise da liderança de Mariana – “temos de perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro” – Mortágua. O PS não precisa. O PS, agora apostado em assaltar casas, está repleto de Mortáguas sob diversos pseudónimos, e a vergonha perdeu-a há muito. O PS é um projecto totalitário vagamente ligado à realidade por gravatas horrendas e as obrigações da “Europa”, que impõem contrapartidas ao envio dos “fundos” com que os camaradas se regalam. Com menos “Europa” e mais um fato de treino, ninguém distinguiria Lisboa de Caracas. É provável que daqui a uma década, logo que o “pacote” para a habitação se traduza, mimoso, em ruínas e abandono, ninguém distinga.

Há sete anos que quem queria perceber percebeu a vontade desta gente em enfiar-nos no caminho que leva à Venezuela. Hoje podemos discutir a rapidez, o conforto e o percurso da viagem: o destino é indiscutível. A “geringonça” foi apenas instrumental no processo. O dr. Costa e os seus matutos não carecem dos partidos assumidamente leninistas para efeitos de inspiração ideológica. Naquelas cabeças, nada deve prosperar à revelia do Estado: tudo deve definhar dentro dele.

O “pacote” de anteontem, que num golpe certeiro condenou negócios, investimentos, contratos e, não sei se repararam, condicionou o único sector (o do turismo) que ainda trazia riqueza de facto, não aconteceu por engano ou acaso. Ao contrário do que sucedia por exemplo com o “eng.” Sócrates, não estamos a falar de meros pantomineiros sem escrúpulos: estamos a falar de fanáticos, tão iluminados por devoções colectivistas quanto empenhados na miséria colectiva. Se a miséria, que alastra a cada dia, não é o objectivo, é no mínimo o resultado inevitável de um vasto plano de controlo, saque e subjugação. No imobiliário e no resto, mesmo embrulhadas no linguajar “técnico” de bestuntos, as palavras não disfarçam os propósitos: proibir, punir, forçar, cobrar, ocupar, confiscar, roubar enfim os nossos bens e a nossa liberdade, que eles acham pertencer-lhes. Vamos continuar a dar-lhes razão?

Receio que sim. Em teoria, o regime continua a permitir alternativas. Na prática, não se nota. O debate alusivo aos partidos que não partilham de uma visão marxista da sociedade esgota-se, por submissão à infantil estratégia do PS, na questão do Chega. Para inúmeros especialistas, alguns respeitáveis, o importante é o PSD seguir o exemplo da IL e deixar claro que nunca se aliará ao Chega em qualquer circunstância. O importante é assegurar que o Chega nunca influenciará o poder. O importante é erguer em redor do Chega linhas vermelhas, cercas sanitárias e muros de betão com arame farpado em cima. Lamento informar os especialistas de que estão errados.

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Por ironia, estão pertíssimo de estar correctos. Bastaria substituir “Chega” por “PS”. Caso não tenham percebido, é o PS, e não o Chega, o responsável pela catastrófica situação do país. Num regime representativo banal, os partidos civilizados estariam ocupados a denunciar a catástrofe, a defender a parte da população que já a sofre e a avisar a parte que depressa virá a sofrê-la. A “direita” indígena tem de compreender que o inimigo é o PS, com ou sem os penduricalhos comunistas, com ou sem o apoio do cavalheiro que reside em Belém e numa praia perto de si. A “direita” tem de decidir se se quer livrar da loucura vigente ou teimar em declarações de virtude. A “direita” tem de existir e dedicar ao governo as linhas, as cercas, os muros e a repulsa que os sujeitos de alma pura dedicam ao dr. Ventura. O governo, que intercala exibições de corrupção com a guerra aberta à propriedade privada, merece a repulsa: no célebre “arco democrático” não cabem nostálgicos do PREC.

Há por aí uma insuportável conversa, a de que o PSD não sobe nas sondagens porque hesita em recusar o Chega. É conversa, para cúmulo iniciada e alimentada pelo PS. O PSD não sobe nas sondagens porque, desde a saída de Pedro Passos Coelho, abdicou do papel que lhe compete e não faz oposição compatível com a gravidade do momento. O Chega, que embora errático às vezes produz qualquer coisa semelhante a um protesto, sobe nas sondagens. E a IL, com um pé na lucidez económica e outro na adolescência política, tem dias.

Desculpem lá a pompa, mas Portugal não possui arcaboiço para aguentar mais. A proclamação de princípios bonitos é irresponsável quando o fim se afigura próximo. Os entendimentos ou os desentendimentos entre o PSD, o Chega e a IL não interessam: interessante, e urgente, era todos entenderem que, no que depender do PS, isto está a um pedacinho assim de rebentar, com estrondo ou num sussurro. Convinha que isto não rebentasse. Convinha que isto não dependesse do PS. Convinha que houvesse vida inteligente. Convinha que houvesse vida.