A demissão de António Costa após suspeitas criminais, agravadas pela descoberta de mais de setenta mil euros no escritório do seu Chefe de Gabinete, no Palácio de São Bento, virou o cenário político em Portugal do avesso. Com o objetivo de evitar um pesado castigo eleitoral, que pessoalmente consideraria justo, a maioria absoluta lame duck do Partido Socialista reverteu políticas que dias antes defendia com convicção, como o controverso aumento do IUC, e começou a distribuir dinheiro como não tinha previsto distribuir.
Não querendo ficar para trás, Luís Montenegro comprometeu-se a aumentar as pensões para 820 euros sem explicar as consequências orçamentais desta promessa, enquanto André Ventura, no congresso do Chega, apresentou propostas com um custo estimado de 11,5 mil milhões de euros, recebendo críticas até de personalidades ligadas ao Partido Socialista e à esquerda por propor medidas que levariam o país à bancarrota.
Este cenário reflete a política em Portugal, onde a disputa eleitoral acontece sem uma verdadeira visão de desenvolvimento a longo prazo, com os maiores partidos a não terem a capacidade de imaginar o futuro do país para além dos quatro anos de mandato a que se propõem, apostando tudo na redistribuição em detrimento da criação de riqueza, e ignorando as necessidades dos mais jovens que precisam e merecem maior liberdade económica para conseguirem construir as suas próprias vidas em Portugal.
Há pouco mais de uma semana, o país acordou com uma reportagem que nos noticiava que mais de 30% dos jovens nascidos em Portugal vivem fora do país, uma notícia tão trágica quanto pouco surpreendente. Portugal é o país da União Europeia com mais emigrantes. Isto deveria merecer uma reflexão séria e profunda da parte de todos os partidos, da esquerda à direita, e a preocupação e vontade de contrariar isto deveria ser unânime no nosso espectro político-partidário. Infelizmente, não o é.
Os jovens que saem do país não o fazem por não gostarem de Portugal, muito pelo contrário. Adoram Portugal e têm pena de não conseguirem encontrar cá as oportunidades que lhes dão no estrangeiro. Vão para onde se sentem realizados, vão para onde se sentem reconhecidos e vão para onde a sua qualidade, a sua competência e as suas qualificações são justamente recompensadas.
Vão também, na maioria das vezes, para países que apresentam crescimento superior ao nosso, onde pagam menos impostos, onde há menos escalões de IRS e onde os aumentos que recebem, fruto do seu esforço, realmente se fazem sentir nas suas carteiras.
É difícil quantificar aquilo que o país realmente perde com o esvaziamento dos nossos jovens mais qualificados para o estrangeiro. Cada jovem que sai representa uma cadeira vazia na mesa de uma família portuguesa. Cada ano que um jovem português passe fora do país, por não se sentir reconhecido cá, é menos um ano que tem com os seus pais e avós.
Para além das qualificações que perdemos, é preciso reconhecer que os jovens que têm coragem para irem sozinhos para fora tendem a ser pessoas que não têm medo de arriscar, que se desafiam a inovar e a experimentar coisas novas, que se lançam a novos projetos com toda a convicção e que não confundem a estagnação com a segurança. Num país onde o sucesso é confundido com a ganância, seria bom que existissem mais jovens e adultos com este espírito.
Os jovens que emigraram, e que se vêem a emigrar, são também pessoas que não têm medo de viver num país que não é o deles. Por terem ou por estarem abertos a essa experiência, são por norma mais tolerantes, mais abertos ao multiculturalismo e mais respeitadores do individualismo de cada um. Esses, especialmente agora, fazem muita falta ao país.
Tenho pena que, ao longo dos últimos anos só tenha havido um partido que de uma forma consistente tenha alertado os restantes do brain drain a que temos assistido. Só um partido tem colocado esta preocupação no centro de toda a sua ação política. Talvez por isso, tenha sido o único que não alinhou no triste leilão a que temos assistido, da esquerda à direita, desde o dia 7 de novembro. Esse partido é a Iniciativa Liberal e estou convicto de que, independentemente de o anunciar, o leitor já teria lá chegado.