Ainda é prematuro concluir que a Grécia vai sair do Euro, pelo menos no próximo mês. Sabia-se que não poderia haver um acordo na reunião do Eurogrupo. Por duas razões. Em primeiro lugar, é necessário dramatizar a situação para o Conselho Europeu da próxima semana se transformar na última hipótese. Depois de tanto tempo a recusar um acordo, a dramatização permitiria ao governo grego aceitar, finalmente, as exigências dos credores. Em segundo lugar, Tsipras precisa da chamada conferência de imprensa de madrugada. Onde anunciaria um acordo, com uma concessão simbólica. Desconfio que daqui até ao Conselho Europeu, o grande tema de discussão será a concessão a fazer à Grécia. A qual poderá ser a promessa para se discutir a renegociação da dívida grega depois de o governo começar a implementar as reformas e os cortes na despesa acordados.
Mas, a existir, este acordo será frágil e muito provavelmente temporário. O verdadeiro teste será a implementação do acordo. O governo grego não tem condições políticas, nem apoio interno, nem vontade, nem capacidade para implementar um acordo aceitável para os credores. E toda a gente sabe isso. Poderá haver um acordo no fim de Junho, mas em Julho, em Agosto, com mais pagamentos, e maiores, para cumprir – desta vez, ao Banco central Europeu – a crise grega voltará a dominar a zona Euro. E o Verão será provavelmente passado entre acordos frágeis e o regresso da crise grega.
O argumento do ministro do governo grego de que a renegociação permitiria mais investimentos externo e o crescimento da economia grega é uma enorme falácia (desconfio que nem ele acredita). Basicamente, Tsipras e Varoufakis estão a dizer duas coisas. Aos credores, dizem que não pagam parte do dinheiro emprestado, mas ao mesmo tempo pedem-lhes mais dinheiro. Aos investidores, apelam ao vosso investimento mas recusam reformas ou cortes nas despesas. Por outras palavras, estão a dizer, esqueçam o passado e vamos fazer tudo igual de novo, com o vosso dinheiro. Das duas, uma: ou os responsáveis gregos acham que os credores e os investidores são doidos ou estúpidos. Mas não são.
Sobretudo, os eleitores dos países credores não são certamente nem doidos nem estúpidos. E todos os países do zona Euro são credores da Grécia. Não são só a Alemanha, a Holanda ou a Finlândia. Ninguém fala da Eslovénia, da Eslováquia, dos países bálticos ou de Malta. Também são credores da Grécia. Como um dia disse um dos ministros das Finanças destes países, “vocês não nos querem pagar o dinheiro que vos emprestámos, mas os vossos reformados recebem pensões mais elevadas do que os nossos, e reformam-se mais cedo do que os nossos.”
E todos os países da zona Euro são democracias, não é só o governo grego que goza de legitimidade democrática. Na zona Euro, há uma democracia que não quer fazer reformas ou reduzir despesas que as outras dezoito democracias, voluntariamente ou obrigadas, já fizeram e já reduziram. E custou a todos. A verdade é muito simples: nenhum eleitorado da zona Euro aceita que a Grécia seja uma excepção. Reside aqui o verdadeiro problema da Grécia. Estou convencido que muitos governos da zona Euro estariam disponíveis a aceitar alguma flexibilidade para manter a Grécia na zona Euro. Só não o fazem porque estão sob escrutínio dos seus cidadãos. São os reformados, os desempregados, a classe média e aqueles que recebem o salário mínimo nos outros países da zona Euro que não aceitam que a Grécia seja diferente. Com a sua teimosia e irresponsabilidade, o governo grego criou um problema político aos outros governos da zona Euro: como ajudar a Grécia, sem perder as eleições?
Eis assim a verdadeira tragédia grega. O governo grego não aceita as condições dos credores porque considera que não tem um mandato democrático para o fazer. Em parte tem razão, mesmo que seja o resultado de ter mentido aos gregos durante a campanha eleitoral. Os outros governos da zona Euro sabem igualmente que não gozam de legitimidade democrática para permitir durante muito mais tempo um regime de excepção à Grécia no interior do Euro. Poderá haver ainda um acordo no fim do mês, porque interessa a todos ganhar o máximo de tempo possível, para se prepararem para os choques que possam acontecer. Mas julgo que o destino da Grécia está traçado: sairá do Euro até ao fim do ano. A partir daí, a zona Euro entra em territórios desconhecidos.