Com um elenco protagonizado por líderes com um Historial pouco fiável judicialmente e o anúncio de medidas que só podem culminar em mais impostos, Conservadores, Socialistas, Verdes e Liberais uniram-se em torno de um objectivo comum, a sobrevivência.

Ursula von der Leyen foi reeleita com o apoio de uma coligação improvável composta por Conservadores, Socialistas, Liberais e Verdes. Assistimos às tentativas de nos convencer de que isso foi o resultado de um grande exercício democrático, para o nosso bem-estar, mas a realidade é outra. O que vimos foi uma convergência de interesses diversos, onde muitos sacrificaram valores e carácter – escassos na política como conceito, e onde em Bruxelas vêm definitivamente morrer.

A União Europeia transformou-se no cemitério dos maus governantes nacionais, no prémio carreira dos burocratas, coração do centralismo e da opacidade. Aqui, todos os países são pressionados a perder a sua identidade e abdicar das suas necessidades em prol das prioridades colectivas decretadas por esses burocratas, seja qual for o custo. Nem Marx teria idealizado uma materialização tão perfeita dos seus ideais.

A reeleição de Von Der Leyen não é motivo de celebração para aqueles que têm estado atentos. A líder da União Europeia está a ser investigada no âmbito das negociações com a Pfizer relativamente à compra de vacinas da COVID-19 por suspeitas de interferência em funções públicas, destruição de SMS, corrupção e conflito de interesse , representando uma sombra sobre si.

Em termos qualitativos,o seu legado é catastrófico, especialmente no que deveria representar: a União. A Europa nunca esteve tão dividida, essencialmente contra “algo”, e, em última análise, uns contra os outros. No meio dessa desunião política e social, há também uma guerra no continente europeu, que sucessivas sanções não conseguiram amenizar ou estancar.

A guerra continua e parece que durará enquanto depender de Von Der Leyen, que expressou, sem pudor, a sua fúria contra o presidente da Hungria, que ousou ter autonomia para tentar apaziguar (de acordo com os seus critérios) a guerra durante a sua presidência europeia. Afinal, parece que, mesmo na sua vez, o presidente de uma nação soberana só pode fazer o que for previamente autorizado. Para que serve uma presidência rotativa na União Europeia se todos devem agir como robôs programados, desprovidos de senso crítico ou autonomia?

O boicote preparado contra o líder húngaro pela ousadia das suas acções não autorizadas não é surpreendente e ilustra o que já sabemos: para sobreviver em Bruxelas sem ataques à conduta, honra ou acção política, é necessário um alinhamento total a tudo o que este grupo decreta. Por outro lado, ser aceite neste núcleo confere um bilhete VIP para a imunidade aos mais graves erros que seriam inadmissíveis para o cidadão comum e frequentemente uma promoção.

Johan Van Overtveldt, um nome desconhecido para grande parte dos europeus, supervisionará a tributação das empresas da UE. O seu historial é de uma curiosa ironia: apesar do salário de €124.000 como deputado europeu, ainda auferia de €30.000 de um segundo emprego na Bélgica, o que certamente representa uma experiência significativa no ramo em que irá intervir.

O Pacto Verde Europeu, a jóia da coroa da administração de Von Der Leyen, está no centro da polémica com os agricultores dos 27 países, obrigando todos a alcançar a neutralidade climática até 2050, sem considerar se há capacidade para tal. Com impactos significativos na agricultura, o pacto será administrado por Alessandra Moretti, cujo nome foi envolvido no escândalo de alegada corrupção Qatargate, em que as autoridades do Qatar tentavam influenciar as decisões europeias através de subornos.

Não são apenas os currículos opacos e as questões éticas e morais em jogo, mas também as implicações políticas dessas escolhas e os sinais que estão a ser enviados. Se o clima de crispação entre Bruxelas e os agricultores é contínuo, a nomeação da Sra. Moretti, envolta num clima de suspeição e desconfiança, pode ser interpretada como um mau sinal e certamente uma mensagem não apaziguadora.

Por outro lado, se na agricultura tudo se alinha para piorar, na habitação paira a promessa de que todos os problemas serão resolvidos, agora que a nova administração terá um Comissário específico para esta pasta. Tenho duas certezas sobre isso: de Lisboa a Varsóvia, os problemas não serão resolvidos e todos vamos pagar mais impostos, pois é impossível criar “habitação acessível” através de um gabinete em Bruxelas, mas a sobrevivência a todo o custo socorre-se do seu fiel parceiro, o populismo, e os acordos com os Socialistas conduzem o resto do caminho para longe da realidade.

A União Europeia atravessa a sua hora mais negra. É imperativo que se reinvente como uma União construtiva e voluntária, com entendimentos em pontos específicos e concretos, onde o mérito seja o principal critério e a idoneidade não possa ser questionada. Esta transformação só ocorrerá quando se desfizerem os cargos criados por medida, desconhecidos da maioria, nos quais tropeçamos. Esta transformação não acontecerá agora, mas era agora o seu tempo.

A coligação de interesses prolongou a vida deste reinado que já não serve, e agora o colapso lento e doloroso será natural.