Parece que terá caído a ficha à turba woke. Quando pensavam que o wokismo se iria consolidar nos EUA ao mais alto nível, no final do dia os wokistas acabaram por levar um coice. Esta mole, desarranjada e mais ou menos deslocada, que não tem mais nada para dar ao mundo do que rescrição da história, invenção de conflitos, e múltiplas engenharias sociais, tem agora uma óptima oportunidade para voltar à Terra se para isso utilizarem essa ferramenta inata dos humanos, e que dá pelo nome de reflexão. Mas para isso vários exercícios são necessários.

O primeiro exercício passa pelo reconhecimento de que a sociedade tem outras hierarquias de prioridades. Aquelas decretadas por meia dúzia de pseudo intelectuais para os quais o devir do Homem se resume a uma série de excentricidades e experiências que dão pelo nome de Progressismo, afinal não ocupam o centro das preocupações da maioria dos mortais. Talvez a complexidade da realidade seja bem mais vasta do que a simplicidade com que os ditos iluminados apresentam o seu mundinho, e, pela natureza das coisas (esse empecilho, não é?!), as sociedades não aceitem de ânimo leve a violação de costumes, o abandono da experiência acumulada, ou ainda o menosprezo pelos ritos, por parte de um bando de excêntricos sempre dispostos a abraçarem a última inspiração seguida da sua injeção no próximo.

O segundo consiste na análise dos termos da relação. Quem carrega com o ónus é aquele que propõe a mudança, não aquele que lhe resiste. Ora, parece evidente que os wokistas, na sua arrogância inata de quem se julga portador da revelação, são péssimos vendedores, não só pelo desprezo com que tratam aqueles a quem querem impor a sua ideia, como pelo rancor, desequilíbrio, e incoerência que lhes sobra. Por sentirem não levar as suas crenças suficientemente avante, por de alguma forma percepcionarem que o argumento é um instrumento que requer a combinação de certas características pouco compatíveis com a sua pressa em mudar o mundo, sejam o distanciamento sobre o objecto de análise, rigor, cautela, dúvida, ou método, a este radical tem sobrado a irritação como estado de espírito e a imposição como procedimento, coisas que qualquer manual de vendas, por pior que seja, jamais recomendará.

O terceiro decorre do anterior e não é fácil de executar. Porque o radical tende a ser rígido e possuir falta de tacto, com frequência recorre à persistência tonitruante no seu combate político na esperança de vencer pelo cansaço, acabando por se tornar num maçador, característica de que se orgulha. Em paralelo, acaba muitas vezes por teatralizar a sua comunicação e a socorrer-se de doses elevadas de cinismo. E como de chatos e postiços estamos todos um pouco fartos, sugere-se a estes engenheiros sociais questionarem o seu estilo.

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O quarto exercício, o mais fácil, passa por interiorizar que o simplismo e candura afogada em boa vontade com lágrima no canto do olho com que por vezes flanqueiam o outro já não funciona. Nesta fase está tudo de pé atrás, e de cada vez que inspirações invadam o espaço público, por mais que as suas (dis)funcionalidades se apresentem bem embrulhadas e perfumadas com água de rosas, esses dislates que julgam ser as reclamações imediatas da Humanidade vão diretos para o caixote do lixo dos indiferenciados. É que já há histórico que baste. E não é nada famoso.

O quinto apela à revisão do equilíbrio interior dos mensageiros e à sua incapacidade de se colocarem no lugar dos outros. Um homem simples, se confrontado com uma mensagem nova no domínio das questões sociais tende, no seu subconsciente, a avaliar também o próprio mensageiro. Naturalmente desconfiado, olha, e amiúde tem notado que há um não sei quê de distúrbio que melhor se adequaria num divã de um consultório de psiquiatria do que na cadeira de pensar o mundo. O imenso choque entre a bondade, o bom senso, e a sabedoria fornecidas por séculos de experiência acumulada face ao que o maluquinho da aldeia dos tempos modernos tem para oferecer não é algo que um maduro aceite com facilidade. Para piorar, temos ainda o imenso fosso entre o conforto dos gabinetes de estudos sociais e as adversas condições com que todos os outros se têm de fazer à vida, o que explica que aqueles olhem para estes com desprezo e estes olhem para aqueles com desdém. Com a agravante dos primeiros com pouco que fazer viverem à conta dos segundos, enquanto estes com mais que fazer terem ainda de sustentar os outros. Por mais que haja boa vontade a ponte acaba sempre por estar longe demais.

O sexto exercício deriva do quinto, e tem que ver com as plataformas onde este combate de duas realidades antagónicas se desenvolve, e cuja balança urge calibrar. O engenheiro social, todo ele forrado de cosmopolitismo com que se aplaude, ocupa as redações dos órgãos de comunicação social, tem acesso a colunas de jornal, espaços de opinião na rádio e televisões, e conta ainda com a parcialidade desses órgãos em seu favor sempre que um qualquer painel emite doutrina sobre como deve ser o Homem. Por oposição, ao homem simples é vedado o acesso a esses palcos, sendo ainda por lá ridicularizado com aquela petulância típica do abusador que, sem remorso e com o desplante natural do diletante, o sobrecarrega ainda com um sem número de regras e outras custas. Sendo a cabine de voto a derradeira oportunidade que o justo encontra para ter voz, não hesita agora afirmar-se por estes tempos no formato Bordalo Pinheiro. Fora isso, tem aguentado como pode, comido o que consegue, e começa a querer falar.

Nota final. É o wokismo, e não a propalada extrema-direita com que nos querem assustar, o que mais prolifera nas nossas sociedades ocidentais e que mais se aproxima do Marxismo e Fascismo. Não pelo conteúdo programático, mas pela intrínseca engenharia social e a imposição que reclama. As falhadas experiências totalitaristas do século XX consistiram em grande parte na reinvenção do Homem e no afrontamento da natureza humana. Os resultados foram o que sabemos, e creio bem terem lugar no nosso subconsciente colectivo. Por isso, a engenharia social que nos têm impingido, e de que agora finalmente nos damos conta, assusta as pessoas, não só por esse subconsciente colectivo, mas também pela crescente consciência de que esse admirável mundo novo que nos querem impor é, não só absurdo, como choca de frente com a subtileza aconselhada no que toca a mudanças sempre que se trata de assuntos sociais.