Recentemente chegou a notícia do fim das isenções nas contas na CGD. Todas as contas, mesmo as das pensões mais pequenas, terão de pagar comissões de manutenção. Numa notícia complementar, o Correio da Manhã revelou que as receitas que os bancos obtêm com as cobranças de comissões bancárias aos depositantes atingiram quase mil milhões de euros no primeiro semestre deste ano.
Após centenas de anos o modelo de negócios dos bancos está a mudar. Antes os bancos faziam intermediação financeira, ou seja, pagavam juros aos aforradores para estes entregarem as suas poupanças e convertiam estes fundos em empréstimos às empresas e aos Estados, empréstimos esses remunerados a taxas mais elevadas que as pagas aos depositantes. Exceto pelo facto de nas últimas dezenas de anos também ter crescido o crédito à compra de casa pelos agregados familiares, este modelo de negócios era muito estável. Esse estado de coisas acabou. Hoje a intermediação financeira é cada vez menos importante para os bancos e está a ser substituída pela prestação de serviços de pagamento. Os depositantes deixaram de ser fontes de custos e passaram a ser fontes de receita.
A curto e médio prazo a banca no seu conjunto tem algum poder de monopólio sobre os depositantes. Estes poderiam evitar as comissões bancárias e os juros negativos “de facto” se passassem a usar apenas circulação, notas e moedas. Contudo, por razões de conveniência e de segurança já não é possível funcionar com o dinheiro debaixo do colchão. Por outro lado, não deverá ser possível convencer os empregadores ou a Segurança Social a entregar os salários ou as pensões em envelopes com notas. Acresce que os Estados querem terminar com as notas e moedas e universalizar os pagamentos com registo eletrónico para evitar a fuga aos impostos, pelo que o uso de circulação, sobretudo para pagamentos elevados, é cada vez mais difícil.
No entanto, a mudança do modelo de negócios da banca não será sustentável a médio e longo prazo devido ao aparecimento de novas empresas cuja concorrência será devastadora para os bancos. O papel de empresas tecnológicas nas funções de armazenar dinheiro e fazer de plataforma de pagamentos irá crescer, já que a tecnologia quase exclusivamente baseada na internet permitirá oferecer estes serviços a custos mais baixos que os dos bancos. Mesmo a concessão de crédito está a ser ameaçada com a tecnologia informática e financeira desenvolvida nas iniciativas de crowdfunding, as quais possibilitam uma ligação mais direta entre aforradores e utilizadores de crédito, desintermediando o financiamento das empresas e tornando os bancos desnecessários. Isso significa que no futuro a banca fará pouco mais do que dar crédito à compra de habitação e talvez algum financiamento a microempresas demasiado pequenas para usar o crowdfunding. Ou seja, talvez a longo prazo a banca sobreviva, mas se isso acontecer será com um papel residual.
Professor Associado da Católica Lisbon School of Business & Economics, mig@ucp.pt