Deitar, fechar os olhos, esvaziar a cabeça e deixar o corpo desligar-se. Calma, aqui falamos apenas de dormir. Durante muito tempo, oito horas de hibernação era o ideal para a saúde e para enfrentar cada novo dia. Agora, ao que parece, apenas são necessárias sete, disse recentemente um estudo. Mas há quem passe bem até só com cinco. Quem nos diz? A ciência. Ou melhor, um gene.

Em código, chama-se ‘p.Tyr362His’. Nome complicado, portanto. Daí talvez que, ao escrever sobre a recente descoberta do Centro de Genómica Aplicada de Filadélfia, nos EUA, a imprensa inglesa se tenha lembrado de Margaret Thatcher. Essa mesmo, a Dama de Ferro. Mas isso nem é o mais importante — o que interessa esteve nas poucas horas que a antiga primeira-ministra britânica (entre 1979 e 1990) dormia por dia.

Isto porque raro era passar das quatro horas de sono, recordou o Daily Telegraph. Portanto, o tal gene foi batizado como o gene Thatcher. Em Portugal, de resto, também é possível ludibriar o original nome de código do gene. Basta ir buscar um exemplo de quem se habituou a dormir pouco e a viver bem com isso: Marcelo Rebelo de Sousa. Em 2003, por exemplo, garantiu ao Público que trabalhava até às 4h, 5h, e acordava depois entre as 8h e as 8h30.

E pronto, para nós fica o gene Marcelo. Mas, afinal, do que se trata? Entra a ciência. Em suma, os investigadores do Centro de Genómica Aplicada de Filadélfia descobriram que as pessoas portadoras deste gene conseguem “funcionar” com menos de cinco horas de sono. A conclusão surgiu após analisarem 100 pares de gémeos e as diferenças entre os padrões de sono de cada um.

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O estudo, publicado na revista científica Sleep, concluiu que os gémeos portadores do gene dormiam sempre menos horas. E, sobretudo, mostrou que, após 38 horas sem dormir, quem possuía o gene Marcelo executava melhor algumas tarefas mentais que lhes eram pedidas.

Num par de gémeos, a diferença foi notória — após dia e meio privados de sono, um deles dormiu durante oito horas, enquanto o outro pernoitou por 9,5 horas. E o que dormiu menos horas até cometeu menos 40% de erros nos exercícios que, depois, lhes foram pedidos. “Isto revela que a nossa necessidade de dormir é um requerimento biológico, e não uma questão de preferência pessoal”, defendeu Timothy Morgenthaler, presidente da Academia da Medicina do Sono norte-americana.

Agora, já sabe — se conhecer uma pessoa a quem pouco dormir nada interfere na atividade diária, lembre-se que a culpa poderá ser do gene ‘p.Tyr362His’. Caso não se recorde do nome, pense em Marcelo Rebelo de Sousa.