A economia da zona euro está finalmente a recuperar depois de sete anos de crise e as condições económicas mais favoráveis devem ser aproveitadas para aplicar reformas estruturais profundas, e não para relaxar, defendeu esta sexta-feira em Sintra o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi.

Num discurso virado para o futuro, o líder do BCE centrou a sua mensagem para contradizer quem defende que numa altura em que a economia europeia inicia a sua retoma, aplicar mais reformas pode prejudicar essa recuperação.

“Uma recuperação cíclica por si só não resolve todos os problemas da Europa. Não elimina o excesso de dívida que afeta partes da União. Não elimina o elevado nível de desemprego estrutural que assombra demasiados países. E não elimina a necessidade de aperfeiçoar o enquadramento institucional da nossa união monetária. Mas o que a recuperação cíclica faz é conseguir condições quase perfeitas para que os governos se dediquem de forma mais sistemática às reformas estruturais que vão ancorar o regresso ao crescimento. A política monetária pode direcionar a economia para o seu potencial. As reformas estruturais podem aumentar o seu potencial”, disse o responsável.

Numa visão ‘copo meio cheio’, Mario Draghi apontou ao fraco desempenho económico da zona euro no longo prazo como uma “oportunidade”, defendendo que, se avançar para reformas, existe a margem para grandes ganhos e ganhos fáceis de alcançar.

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As mudanças pedidas pelo líder do BCE vão todas no mesmo sentido. Como não existem transferências orçamentais com escala suficientemente grande para compensar a queda da procura, as economias têm de ser suficientemente flexíveis para se adaptarem em contextos de crise.

“As economias sem flexibilidade suficiente arriscam uma mais prolongada desinflação, elevado desemprego consistentemente e, como o tempo, divergência económica permanente”, afirmou.

Esta divergência, diz, pode colocar em causa a coesão da união monetária: “Como qualquer união política, a coesão da zona euro depende de cada país estar melhor como parte da união do que o seu contrário. A convergência é por isso essencial para manter a integridade da união, enquanto a divergência permanente causada pela diversidade estrutural tem o efeito oposto”.

Para isto, Mario Draghi propõe também uma solução. A flexibilidade das economias que fazem parte da união deve ser um critério permanente, tal como os critérios de Copenhaga (critérios fundamentais como o Estado de Direito, o respeito pelos direitos humanos, estabilidade das instituições que garantem a democracia ou a existência de uma economia de mercado com capacidade para aguentar a pressão competitiva da União) são obrigatórios para que um país possa aceder à União Europeia.

“Cada economia nacional ser suficientemente flexível devia ser aceite como parte do ADN (código genético) que partilhamos. Tem de ser uma característica económica da participação na zona euro, da mesma forma que os critérios de Copenhaga são características políticas permanentes da participação na UE”, afirmou.