O cenário real é diferente dos que ensaiaram durante os treinos em Portugal, mas os militares do Exército Português em missão no Iraque estão a gerir bem as restrições. A maior, segundo soube o Observador junto de uma fonte no local, prende-se com a comunicação com o exterior. Os militares foram aconselhados a não colocar fotografias da família e do local da missão nas redes sociais. Isto porque houve um militar (estrangeiro) cuja família foi ameaçada por terroristas do Estado Islâmico. O militar em causa acabou por, em pânico, pedir para abandonar a operação.

“Não nos deram ordens para apagar as fotografias, mas avisaram-nos do que tinha acontecido e muitos militares optaram por apagar as suas contas no Facebook”, disse um dos 400 militares instalados nos arredores de Bagdad, a capital iraquiana. Entre os 400, há 30 portugueses sob comando do Ministério da Defesa Espanhol.

Foi comunicado às tropas o caso de um militar, não português, cuja família tinha sido “descoberta”, através do Facebook, por operacionais do Estado Islâmico. E que começaram a chover ameaças. O militar terá entrado em pânico em pleno teatro de operações e pediu para ser retirado. Não suportava pensar que podia acontecer alguma coisa à sua família.

Os operacionais agora no terreno, entre eles 30 portugueses — cuja ajuda foi solicitada pelo governo espanhol — foram informados do episódio. E muitos decidiram fechar as suas contas nas redes sociais. Por outro lado, mesmo as fotografias retiradas no local não podem ser colocadas em redes sociais nem divulgadas. Quando muito, os militares podem guardá-las durante os seis meses de missão e, depois, como recordação. As comunicações para o exterior são limitadas e controladas pelas autoridades espanholas. Ninguém pode correr riscos com informação que possa ir parar nas mãos dos inimigos. “O Estado Islâmico está muito avançado ao nível da guerra eletrónica”, revela a mesma fonte.

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Os militares espanhóis e portugueses não estão no terreno para combater os terroristas. Mas estão em Besmayah para ensinar as suas técnicas às tropas iraquianas, que têm combatido lado a lado com soldados americanos contra as investidas dos operacionais do Estado Islâmico.

Todos os dias os militares começam a preparar a instrução pelas 2h00 em Portugal (4h00 no Iraque). Começam a instrução às 6h00 e terminam pelas 13h00 para fintar as altas temperaturas que se fazem sentir no local. “Hoje estiveram 42 graus, foi o dia mais fresco desde que chegámos”, disse a fonte ao Observador. Todos os dias fazem percursos diferentes. Não podem correr o risco de cair na rotina.

Além do calor, o pó. “Estamos no deserto, há muito pó no ar. É tudo planície e numa semana apanhámos duas ou três tempestades de areia. Os únicos seres vivos que vemos são algumas carochas que por aqui passam”, ironiza a fonte. Apesar de se encontrarem nos arredores da capital, o aquartelamento está no deserto.

Os militares começaram por estar instalados em tendas, mas agora estão a ser transferidos para outras instalações. Ainda assim, mesmo nas tendas, consideram ter condições. “Há ar condicionado e comemos muito bem.” Os portugueses garantem ser “bem tratados” pelos espanhóis e mesmo na instrução estão a ter um bom feedback por parte dos iraquianos, com quem comunicam através de intérpretes.

“Pensamos sempre  no pior cenário e este consegue ser ainda pior. Mas foi por causa de missões destas que escolhemos vir para o Exército e é para isso que treinamos”, disse uma fonte.

O governo português quase não tem dado informações sobre a missão destes militares. O Ministério da Defesa espanhol divulgou esta semana algumas fotografias e informações sobre a missão. O Observador noticiou aqui.