A OPEP decidiu aumentar a quota oficial de produção de petróleo, ainda que o cartel petrolífero tenha decidido não colocar um número no comunicado oficial da reunião decisiva em Viena esta sexta-feira. A decisão de subir a quota surpreendeu alguns analistas que acreditavam que a OPEP iria ceder à pressão e cortar a produção para tentar estimular o preço. A cotação do crude está a derrapar mais de 3% nos mercados, para menos de 40 dólares.
A informação foi confirmada numa conferência de imprensa em Viena. A nova quota oficial foi indicada por várias fontes, ainda que não conste no comunicado oficial. A quota, porém, não foge muito ao que tem vindo a ser produzido realmente pelo cartel. Segundo a Bloomberg, a OPEP, no seu conjunto, tem produzido uma média de 31,4 milhões de barris por dia – uma tentativa de obter mais receita e compensar o preço mais baixo. Ou seja, a nova quota significa que ficará tudo mais ou menos na mesma.
Os países da OPEP vão passar a produzir 31,5 milhões de barris por dia, um total que não inclui a produção da Indonésia, que regressou à OPEP depois de um intervalo de sete anos. O anterior limite era de 30 milhões de barris, o que significará que a OPEP resiste apesar de alguns analistas dizerem que a estratégia do cartel está a sair pela culatra.
“A OPEP vai continuar a sua estratégia”, confirmou o ministro iraquiano. Uma estratégia que passa por esperar que o preço suba, ora pela recuperação das economias globais ora pelas consequências para os novos projetos de exploração e investimentos nas energias renováveis.
Os preços do crude, que esta manhã estavam a subir, estão a derrapar em Nova Iorque para menos de 40 dólares.
Quem não estará satisfeito com a decisão é a Rússia, que segundo notícias desmentidas esta manhã teria sido convidada a participar um acordo – apesar de não pertencer à OPEP – que viabilizasse um corte na produção. Assim, se a decisão da OPEP tiver o efeito esperado – desvalorizar o petróleo – a Rússia terá de conviver com preços do petróleo mais baixos. O mesmo acontecerá, por exemplo, com Angola.
Mas mesmo dentro da OPEP há países que terão ficado dececionados com esta decisão. A Venezuela é o país que tem a menor quantidade de reservas de moeda estrangeira entre todos os membros da OPEP, pelo que tem menos capacidade para gerir a baixa no preço do petróleo. O país governado por Nicolas Maduro – que vai a eleições este fim de semana – quer um corte na produção para elevar os preços, pelo menos, para 88 dólares por barril. Ou seja, mais do dobro da cotação atual.
“Para os consumidores portugueses tem mais impacto o BCE”
A decisão da OPEP não surpreendeu Paulo Carmona, presidente da Entidade Nacional para o Setor dos Combustíveis (ENMC). Em reação enviada por e-mail ao Observador, o responsável diz que “o regresso do Irão ao mercado, depois das sanções, e a necessidade de gerar mais receitas para cobrir problemas orçamentais de (alguns) países produtores dado apontavam para a impossibliidade de cortes”.
Paulo Carmona considera, assim, que os mercados já estavam a antecipar, até certo ponto, esta decisão. É certo que o crude intensificou as perdas recentes, mas acabou por recuperar um pouco.
Quanto às implicações desta decisão, o presidente da ENMC defende que “para os consumidores portugueses teve muito mais impacto a reação do mercado às medidas do BCE” na quinta-feira, que provocaram uma recuperação no valor do euro face ao dólar. Isso “permite baixar o custo dos produtos petrolíferos importados”, explica Paulo Carmona.
Assim, “mantendo-se todos os fatores iguais isto corresponderia a uma descida de 2 cêntimos no preço de referência ENMC/preço de venda no gasóleo e 2,5 cêntimos na gasolina”.