O combate ao tráfico de seres humanos e ao terrorismo faz-se essencialmente pela cooperação entre serviços de informações e embora muito tenha já sido feito, ainda há muito a fazer, defendeu o ex-comissário europeu António Vitorino.

Em entrevista à agência Lusa, Vitorino recusou a confusão entre migrantes e terroristas, referindo por exemplo que “todos os implicados nos atentados de Paris eram europeus”, mas admitiu que ninguém pode assegurar que os que entraram em 2015 na União Europeia eram “um milhão de santos”.

A resposta, defendeu, passa pela identificação rápida dos potenciais terroristas e isso “não se faz reinstaurando os controlos dentro das fronteiras de Schengen”, “faz-se através da cooperação policial, da cooperação judiciária, da troca de informações”.

Nesta matéria, o antigo comissário da Justiça e Assuntos Internos (1999-2004) considera que “muito foi feito” nos últimos anos, sendo preciso recuar uma década, aos atentados de Madrid (2004) e de Londres (2005), para encontrar “um termo de comparação”, “em dramatismo e dimensão”, para os atentados de 13 de novembro em Paris.

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Foram “vitórias silenciosas” dos serviços policiais e de informações, porque “tentativas houve, e muitas, mas o sistema funcionou e preveniu e evitou”.

“Mas ao mesmo tempo, este drama de Paris chama a atenção para o muito que ainda falta fazer e, sobretudo, que só colaborando é que nós conseguimos. Porque a solução não é reinstaurar fronteiras internas, isso é uma pura ilusão”, considerou.

Referiu, como exemplo, que tanto no ataque ao Charlie Hebdo, de janeiro, como nos últimos atentados em Paris, alguns dos implicados estavam referenciados pelos Estados Unidos como suspeitos de terrorismo, “não havendo a garantia de essas informações terem sido transmitidas aos serviços de segurança franceses e belgas”.

Ou, no caso dos ataques de novembro, a “manifesta falta de zelo” na identificação dos potenciais terroristas no bairro de Molenbeek, em Bruxelas, e na passagem de informação às autoridades francesas.

“Isto significa que há aqui ainda muito a fazer em matéria de confiança mútua, porque é sobretudo uma questão de confiança mútua, de troca de informações”, afirmou.

Da mesma forma, o combate ao tráfico de seres humanos, “um negócio altamente lucrativo” para redes “que têm conexões na Europa e até têm cabecilhas na Europa”, só pode ser eficazmente feito através da cooperação policial.

Ainda sobre o terrorismo, Vitorino defendeu a necessidade de reforçar o controlo nas fronteiras externas do espaço de livre circulação europeu, voltando a citar o caso dos implicados nos atentados de Paris.

“Eram cidadãos europeus, não eram nem refugiados nem pessoas vindas de fora. Eram cidadãos europeus que viajaram para a Síria, que tiveram que atravessar uma fronteira externa, e portanto o registo da passagem nas fronteiras externas, assim como a lista dos passageiros dos aviões, são pontos importantes neste combate ao terrorismo”, defendeu.

O ex-comissário frisou contudo que o controlo das fronteiras externas “é uma tarefa comum”, daí a recente proposta da Comissão Europeia para a criação de uma guarda europeia de fronteiras.

Mas a criação dessa força vai levar tempo, “levará dois anos a pôr no terreno”, pelo que “os Estados Membros têm que encontrar situações imediatas, de curto prazo, de emergência, para responder ao desafio”.

“Não vale ficarem à espera de que um dia haja uma guarda de fronteiras europeia para se poderem queixar da guarda europeia, quando hoje a responsabilidade primeira é dos Estados e aqueles que não o puderem fazer sozinhos têm que aceitar a colaboração”, frisou.