Nuno Melo não será candidato à liderança do CDS. O anúncio foi feito na sede dos centristas no largo do Caldas depois de muita indecisão e de uma última conversa com Assunção Cristas, que decidiu apoiar com dois elogios. “Sendo uma mulher, marcará uma diferença em relação a Paulo Portas que eu nunca conseguiria. E o CDS precisa que essa diferença seja assinalada. Se a dra. Assunção Cristas tiver vontade, terá o meu apoio”, disse.

Foi uma “decisão difícil”, mas “tomada sem constrangimentos”. “Na vida por vezes há encruzilhadas e as decisões podem ser difíceis mas têm de ser tomadas”, disse um Nuno Melo com vontade de avançar mas contido nas suas aspirações, que se desdobrou em justificações para explicar o porquê de ter escolhido o caminho de Bruxelas em vez do caminho do largo do Caldas. É tudo uma questão de princípios – e de não dividir, não “balcanizar” e não “radicalizar” o partido com duas candidaturas.

“Tenho noção de que, não me candidatando, desiludo muita gente. Mas se esse for o custo que tiver de pagar para garantir que o CDS não se balcanizará, não se radicalizará em conflitos, então que seja. Se eu puder ser, como quero, fator de unidade e coesão para dar mais força ao CDS nos desafios futuros, assim será”, disse.

“Para lá da minha vontade tenho de ter a capacidade de ler as minhas circunstâncias. E estas hoje são as minhas circunstâncias: sou eurodeputado”, disse, sublinhando a convicção de que quando é eleito para um mandato tem de o cumprir até ao fim. Mas há ainda outra questão de princípio: “Não posso exigir menos a mim do que antes pedi a outros”, disse referindo-se aos tempos da presidência de Ribeiro e Castro, onde Melo foi um dos mais críticos do facto de o líder estar no Parlamento Europeu e não na Assembleia da República – onde defende que deve ser travado o combate político nacional.

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Assim sendo, e lembrando que em tese até poderia ter um lugar na Assembleia da República, bastando para isso que todos os deputados eleitos pelo círculo de Braga abdicassem, Melo voltou a evocar os princípios e os valores para justificar o seu não-avanço. “Esses não são os meus mandatos. Não quero, nem posso, nem devo, usar os mandatos que são de terceiros, embora sejam do CDS”, sublinhou. Ou seja, poder podia, mas não era a mesma coisa.

Reforçando a ideia, já deixada ontem na entrevista à RTP3, de que o objetivo máximo é impedir o CDS de se “balcanizar” depois da saída de Paulo Portas, o tom, à parte da pontada de tristeza, foi de unidade. “Entendi existirem outras pessoas em melhores condições do que eu”, e pronto, decisão tomada. O apoio a Assunção Cristas está declarado, resta apenas que a ex-ministra da Agricultura formalize a sua vontade, o que deverá acontecer ainda hoje.

“O pior serviço que o novo líder faria ao CDS seria repetir os gestos de Paulo Portas ou imitar-lhe o trajeto”, disse no final da sua declaração. Mais a mais, segundo Nuno Melo, Cristas é bem vista pela comunicação social e “terá um estado de graça que eu dificilmente beneficiaria”.

Desde que Paulo Portas anunciou, no último dia 28 de dezembro, que não seria candidato no próximo congresso, o eurodeputado democrata-cristão começou logo a ser apontado como provável sucessor. Manteve o tabu até à última, mesmo junto de alguns dos seus mais próximos. Ontem, numa entrevista à RTP3, disse que ainda estava em fase “pré-negocial” consigo e que esta manhã teria uma última conversa – decisiva – com Assunção Cristas.

A ex-ministra da Agricultura, que chegou ao partido em 2007 pela mão de Paulo Portas, também nunca escondeu a sua disponibilidade e tem somado apoios entre algumas estruturas centristas – tem pelo menos o aparelho de Leiria consigo – sobretudo entre aqueles que querem um CDS mais aberto, mais pragmático e menos ideológico. Agora, é o próprio Nuno Melo que se põe ao lado da ex-ministra, dizendo que as “circunstâncias” de Cristas, enquanto mulher e ex-governante com “trabalho reconhecido”, a colocam no lugar certo à hora certa.