Portugal pode estar a caminho de um novo resgate se as agências de rating, sobretudo a canadiana DBRS, decidir cortar a notação financeira da República Portuguesa. A opinião é de William Watts, editor-adjunto de mercados financeiros da MarketWatch – um influente portal de notícias irmão do The Wall Street Journal.

O autor do artigo de opinião diz que “as taxas de juro no mercado afastaram-se dos máximos fixados no início de fevereiro, depois de o Banco Central Europeu indicar [mais estímulos monetários em breve]”. Contudo, “as yields da dívida portuguesa continuam elevadas quando comparadas com os outros países da chamada periferia da zona euro”. 

Prémio de risco de Portugal (vs Alemanha) em níveis elevados

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William Watts avisa que “se a DBRS – a única agência que ainda tem a dívida portuguesa em investimento de qualidade – cortar a notação de risco no próximo mês, as coisas podem ficar feias“. Para suportar este vaticínio, Watts recupera declarações de uma economista da Capital Economics e assinala que se Portugal perder o único rating acima de lixo isso poderá significar uma perda de acesso ao programa de compra de dívida pelo BCE.

Sem o rating da DBRS, a única forma de os bancos continuarem a financiar-se diretamente no BCE e de o país manter o acesso ao programa de quantitative easing seria a atribuição por parte do BCE de um regime de exceção (o chamado waiver), como aconteceu na Grécia. Mas esses waivers apenas são atribuídos, normalmente, a países que estão sob um programa de assistência financeira com condicionalidade associada.

Tendo em conta a forma como “o novo governo de esquerda tem contrariado as agências de rating, que têm expressado dúvidas sobre a trajetória orçamental do país”, William Watts afirma que “há poucas razões para acreditar que o BCE demonstraria maior compaixão em relação a Portugal” do que em relação à Grécia.

“Se o BCE barrar o acesso de Portugal ao programa de compra de dívida, algo que será provável se a DBRS cortar o rating, isso deverá levar os investidores a tornarem-se mais preocupados com a perspetiva de um default“, ou seja, um incumprimento na dívida pública. Consequência: “quase de certeza que haveria um novo salto nas taxas de juro, em direção aos 8% que forçaram Portugal a pedir um resgate financeiro em 2011”, defende William Watts, baseando-se nas declarações da economista da Capital Economics.

Numa teleconferência recente, a agência DBRS afirmou que “reversão de medidas do anterior governo não está a ajudar nem um bocadinho” a confiança dos investidores em Portugal. Na última sexta-feira, fontes oficiais do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) e do Ministério das Finanças alemão disseram à Reuters que “um novo resgate financeiro para Portugal não está sob consideração”.