Apesar de apoiar o Governo de António Costa e de considerar que as críticas à legitimidade do mesmo são infundadas, José Sócrates não se meteria neste filme. “Eu nunca seria primeiro-ministro sem ter ganho as eleições”, assume o ex-primeiro-ministro numa entrevista a Maria Flor Pedroso, da Antena 1, que vai ser emitida na manhã desta quinta-feira.

“Eu sou apoiante, gosto deste Governo, tenho aliás neste Governo alguns dos meus melhores amigos políticos”, diz Sócrates, criticando ainda a forma como a direita faz oposição. “Este Governo começou como um Governo provisório, mas agora já não é”, acrescenta, para logo de seguida atacar a Comissão Europeia pelas posições que tem assumido. A Europa “tem um problema democrático de base que se tem acentuado” nos últimos tempos, considera Sócrates.

Sócrates comenta solução governativa e assume que não seria primeiro-ministro nestas circunstâncias.

Mas nem tudo são elogios para António Costa. Ao promover o diploma que permitiu a desblindagem de estatutos em instituições financeiras (na sequência do caso BPI), o Governo cometeu “um erro político” e “uma precipitação”, afirma Sócrates, estendendo as críticas ao novo Presidente.

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Marcelo, aliás, anda num “alvoroço”, a “aparecer todos os dias na televisão a comentar os mais diversos assuntos”, algo que não agrada ao ex-primeiro-ministro, que diz não ter perfil para chefe de Estado. As eleições presidenciais dão a Sócrates um pretexto para novo ataque à direção do PS, que critica por ter “entregue a eleição a Marcelo porque desistiu da eleição. E mesmo quando se sabe que se vai perder não se pode desistir.”

Outro campo em que António Costa e o PS têm estado mal é, na visão de Sócrates, na ausência de opinião sobre o processo judicial que lhe diz respeito. Se no início o silêncio socialista era justificável, agora já não se compreende.

“Compreendi ao fim de três meses, ao fim de seis meses… Agora, ao fim de nove meses? Ao fim de um ano? Ao fim de um ano e meio? Sabe, é que eu estava na prisão quando deputados do Partido Socialista e a direção fizeram uma crítica, que me pareceu muito razoável, ao Estado de Timor Leste pelo facto de haver um cidadão português preso preventivamente há seis meses sem acusação. Eu estava preso há mais de seis meses sem acusação”

Sócrates critica a direção do PS por não se manifestar sobre a Operação Marquês

O ex-primeiro-ministro reafirma ainda a sua inocência face às suspeitas que lhe são apontadas e volta a criticar o Ministério Público por estar há tanto tempo a investigar sem apresentar conclusões. “O nosso principal problema é mesmo de cultura democrática na Justiça”, afirma Sócrates. Quanto a uma acusação, acredita, nunca virá.

Tal como nunca virá uma referência ao seu nome nos Panama Papers, garante. “Quem anda aos papéis é a investigação”, ironiza Sócrates, que continua depois no mesmo registo. “Nos Panama Papers eu sou suspeito simplesmente porque o meu nome não está lá.”