“Nós somos todos feitos de matéria estelar”. A frase pertence ao astrónomo Carl Sagan, que nos anos oitenta narrou uma série de treze episódios onde contava tudo o que sabíamos até à altura sobre os primórdios do planeta Terra e sobre a origem da vida. E somos todos estrelas porque, afinal de contas, todos os átomos que nos compõem foram produzidos por essas imensas fábricas incandescentes há muito (mesmo muito) tempo. Ao longo das últimas décadas, vários investigadores têm tentado olhar para trás de modo a descobrir o momento exato em que a nossa vida nasceu. Grande parte dessa caminhada está para sempre enterrada no passado, mas uma equipa de cientistas chegou a pistas mais concretas sobre a nossa origem.

É uma teoria antiga para que os alemães conseguiram encontrar mais fundamento. De acordo com o relatório publicado esta quarta-feira na revista especializada Science, os químicos mais simples que existiam na recém-nascida Terra podem ter formado compostos chamados purinas ou base púricas, que contêm material orgânico e que estão nas cadeias de ADN, nas peças das células responsáveis pelo metabolismo energético e nas cadeias ARN. E pode ser precisamente nesse fio de informação genética e de catalisadores de reações químicas que encontramos o segredo para a origem da vida.

Pense no ARN – ácido ribonucleico – como um longo colar de quatro missangas diferentes, onde essas peças são moléculas químicas. Há a adenina (A), a guanina (G), a citosina (C) e o uracilo (U), que é o único componente que o distingue do ADN, feito antes com um composto chamado timina (T). Ora, em 2009, um cientista britânico conseguiu reconstituir os passos que levaram os compostos químicos a formar a citosina e o uracilo (ambas chamadas também de pirimidinas). Mas nenhuma outra teoria conseguia explicar de forma plausível a formação da adenina e da guanina.

Até agora. Quando os cientistas alemães estavam a estudar os ADN danificados, perceberam que há uma molécula – a formamidopirimidina (FaPy) – que reage muito depressa e forma purinas, ou seja, esses compostos químicos de adenina e de guanina. Concentraram-se então nessa molécula. E repararam que é realmente possível que as condições primordiais da Terra tenham permitido reações semelhantes na altura em que a vida se criou.

Mas a melhor parte ainda está para vir. É que, ainda no ano passado, a sonda Rosetta detetou os compostos que formam a formamidopirimidina num cometa. Trocado por miúdos: a resposta para as nossas perguntas sobre a origem da vida podem mesmo estar nos cometas por esse espaço fora.

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