“Soy Cuba”, de Mikhail Kalatozov (1964)

Esta co-produção soviético-cubana foi pensada para ser um panegírico de Cuba, do sofrimento do povo cubano antes da revolução, do regime castrista e do socialismo internacional. Para o realizar, a escolha recaiu em Mikhail Kalatozov, que em 1958 tinha ganho a Palma de Ouro no Festival de Cannes com “Quando Passam as Cegonhas”. O poeta Yevgeny Yevtushenko assinou o argumento, com o cubano Enrique Pineda Barnet. Tecnicamente inventivo e formalmente arrojado, o filme acabou por não ser bem recebido nem em Cuba, por apresentar uma visão estereotipada do país e dos cubanos, nem na URSS, onde foi acusado de ser pouco revolucionário, muito “formalista” e escassamente crítico da burguesia que apoiou a revolução castrista. Só nos anos 90 seria redescoberto, graças ao romancista e dissidente anglo-cubano Guillermo Cabrera Infante, e restaurado por intervenção de Martin Scorsese e Francis Ford Coppola.

“Mauvaise Conduite”, de Néstor Almendros (1984)

O grande diretor de fotografia espanhol Néstor Almendros, que trabalhou com François Truffaur, Éric Rohmer, Robert Benton e Terrence Malick, co-realizou, com o cubano Orlando Jiménez Leal, este documentário sobre as “purgas morais” iniciadas pelo regime de Fidel Castro em 1964, que levaram à prisão e para campos de trabalho, milhares de cubanos acusados de “conduta imprópria” e “comportamento extravagante”. Eram, na sua maioria, homossexuais, mas também dissidentes políticos, artistas e membros de grupos religiosos como as Testemunhas de Jeová. Em 1987, Almendros filmaria outro documentário, “Nadie Escuchaba”, revelando a prisão e a tortura de antigos camaradas de Fidel que fizeram a revolução a seu lado.

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“Morango e Chocolate”, de Tomás Gutiérrez Alea e Juan Carlos Tabío (1993)

Co-realizado por Gutiérrez Alea, o maior nome do cinema cubano (“Memórias do Subdesenvolvimento”, “Guantanamera”) , falecido em 1996, e pelo seu colega e também escritor Juan Carlos Tabío, esta comédia dramática é ao mesmo tempo um retrato do quotidiano de penúria e de constante improvisação dos cubanos, e a história do encontro, e do confronto, entre dois homens. Diego é um homossexual culto, individualista e muito crítico do regime, cuja face repressiva e totalitária conhece bem, e David é um comunista militante, com a cabeça feita pela doutrinação política castrista, mas acabam por se ligar por fortes laços de amizade. Alea e Tabío deixam no ar uma mensagem de compreensão e tolerância dirigida aos seus compatriotas.

“Antes que Anoiteça” de Julian Schnabel (2000)

O poeta e romancista cubano Reinaldo Arenas (1943-1990) participou na revolução cubana quando era adolescente, mas os seus escritos e a sua homossexualidade declarada levaram-no a perder gradualmente as graças do regime, tendo sido preso e torturado, e acabando por fugir para os EUA em 1980. Arenas não se adaptou totalmente à vida de exilado, mas nunca deixou de pronunciar publicamente contra o regime castrista e serviu de mentor a outros escritores e poetas cubanos como ele fugidos de Cuba. O pintor e realizador Julian Schnabel adapta aqui a autobiografia de Arenas, Before Night Falls, publicada nos EUA após a sua morte, dando a Javier Bardem o papel do escritor e poeta.

“Havana-Cidade Perdida”, de Andy Garcia (2005)

O ator Andy Garcia é filho de exilados cubanos e um opositor militante ao regime comunista da ilha. Em 2005, realizou e interpretou este filme, com argumento do seu compatriota Guillermo Cabrera Infante. A história passa-se em Havana, antes e logo a seguir à revolução, e centra-se numa família privilegiada, os Fellove, que fica dividida politicamente quando da queda do regime de Fulgencio Batista. Garcia personifica um dos filhos, dono de um clube noturno, que tenta manter a família unida mas acaba por fugir para os EUA. Estreia do ator na realização, “Havana-Cidade Perdida” é um dos poucos filmes de ficção abertamente críticos da revolução cubana e a apresentar um retrato muito antipático de Che Guevara.

“Che-O Argentino”, de Steven Soderbergh (2008)

Primeiro dos dois filmes biográficos de Ernesto “Che” Guevara assinados por Steven Soderbergh (o segundo é “Che-Guerrilha”, do mesmo ano), “Che-O Argentino” descreve com grande detalhe a luta de guerrilha e a tomada do poder em Cuba pelos “barbudos” de Fidel Castro, desde o ataque ao quartel de Moncada, em 1953, até à tomada de Havana e à queda do governo autoritário, nos primeiros dias de Janeiro de 1959. Fidel Castro é interpretado pelo actor mexicano Demián Bichir e Guevara por Benicio Del Toro. Soderbergh foi bastante criticado por ter idealizado as figuras de Castro e Guevara, e sobretudo por ter omitido qualquer referência à repressão sangrenta que se seguiu à vitória dos revolucionários.

“Juan de los Muertos”, de Alejandro Bruguês (2011)

Uma estranha epidemia começa a transformar os cubanos em zombies, depois dos mortos se terem levantado dos seus túmulos nos cemitérios e desatado a morder pessoas. O governo afirma tratar-se de uma revolta de dissidentes contra o regime, dizendo que os mortos-vivos são financiados pela CIA. Juan e Lazaro, dois amigos, começam a matar zombies, primeiro por encomenda, depois para sobreviver. O realizador argentino Alejandro Bruguês assina aqui o primeiro filme de zombies da história do cinema cubano, uma co-produção com Espanha, em tom de comédia negra e com uma forte componente de sátira política. Os EUA levam algumas bicadas, mas o grosso do ataque cai sobre o governo comunista.