O governo da Grécia, esta terça-feira, acusou Portugal de ser discriminatório ao disponibilizar-se para receber refugiados da minoria yazidi. Segundo o governo grego, Portugal está a ser injusto para os restantes refugiados que vivem na Grécia e aguardam asilo em países da União Europeia.
Quem é, afinal, o povo que está no centro da polémica? Explicamos em três perguntas e respostas rápidas.
1. Quem são os yazidis?
Os yazidis são uma minoria religiosa do Médio Oriente. Etnicamente, são curdos — ou seja, pertencem à mesma etnia do povo que habita o chamado Curdistão. No entanto, os yazidis mantiveram a sua religião específica durante séculos, o que os tornou num dos principais alvos de perseguição naquela região. Como o Observador explicou em 2014, trata-se de uma religião que remonta ao século XI, e que mistura elementos de outras religiões, como a Cristianismo, o Islão e o Zoroastrismo, antiga religião persa fundada no século VI antes de Cristo. Do cristianismo, os yazidis foram buscar, por exemplo, o batismo. Já a ideia de circuncisão vem do Islão, e a representação de Deus através do fogo deriva do Zoroastrismo.
2. Onde vivem?
Atualmente existem cerca de 700 mil yazidis no mundo, sendo que a grande maioria (cerca de 500 mil) habita nas montanhas de Sinjar, uma região perto de Mosul, no Iraque. Também há comunidades yazidi noutros países: 15 mil vivem na Síria e perto de 10 mil vivem entre a Geórgia e a Arménia, e haverá também vários milhares de yazidis refugiados a viver na Europa.
3. Porque é que os yazidis são tão perseguidos?
O grande motivo pelo qual os yazidis são um dos principais povos perseguidos no Médio Oriente é o facto de venerarem um anjo caído chamado Melek Tawwus (Anjo Pavão), que para o Islão sunita é uma representação do diabo. Isto porque os yazidis acreditam que Deus é representado por sete anjos, sendo que um deles é o tal Melek Tawwus — que foi expulso por Deus por se recusar a curvar-se perante Adão no Paraíso. Nesse momento, o anjo, criado pela iluminação de Deus, considerou que não teria de se curvar perante um homem nascido do pó. Como escreve o The Guardian, esta veneração de Melek Tawwus por parte dos yazidis deu-lhes uma reputação de serem adoradores do diabo, porque a palavra Shaytan, usada para se referir a Melek Tawwus, também é usada no Corão para descrever Satanás.
Desde o aparecimento da religião yazidi que este povo tem sido alvo de perseguições constantes por causa das diferenças religiosas com os muçulmanos e com os cristãos. Entre os séculos XVII e XVIII, recorda o jornal britânico, houve pelo menos 72 massacres de yazidis. Em 2007, um ataque à bomba numa aldeia iraquiana matou pelo menos 800 membros da minoria religiosa. Nos últimos anos, os yazidis têm sido um dos povos mais perseguidos pelo Estado Islâmico. No ano passado, o prémio Sakharov, prémio de direitos humanos atribuído pelo Parlamento Europeu, foi entregue a Nadia Murad e a Lamiya Aji Bashar, duas mulheres yazidi que fugiram do Iraque depois de passarem anos como escravas sexuais dos extremistas.