Pela fome e desidratação, se permanecerem no alto, ou pelas armas, caso optem pela tentativa de fuga. Cerca de 40 mil yazidis, encurralados no meio da cordilheira de montanhas de Sinjar, ficaram com esta dúvida na cabeça: como morrer. Na quarta-feira, era este o retrato desenhado pela imprensa internacional, após militares jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (ISIS, na sigla inglesa) cercarem milhares de pessoas na região noroeste do Iraque. A razão? Por pertencerem a uma minoria étnica e religiosa.

Os binóculos do mundo, por estes dias, têm-se focado, sobretudo, no conflito armado que israelitas e palestinianos mantêm na Faixa de Gaza. Ou nos desenvolvimentos das notícias vindas da queda do voo MH17, da Malaysia Airlines, no leste da Ucrânia. Enquanto tudo isto se passava, o ISIS, no Iraque, ia reforçando a perseguição ao povo yazidi — numa ofensiva que começou em junho.

Explicador: O que se está a passar no Iraque?

Tanto que, esta sexta-feira, Barack Obama, presidente dos EUA, autorizou o início de ataques aéreos no noroeste do Iraque. “Para salvar milhares de cidadãos iraquianos, presos numa montanha sem comida e água, e que enfrentam uma morte quase certa”, resumiu o líder norte-americano, ao anunciar a decisão. Obama referia-se aos yazidis, uma minoria étnica e religiosa que, no mundo, não contará com mais de 700 mil pessoas.

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Entretanto, a Federal Aviation Administration, entidade que gere as operações aéreas norte-americanas, também já proibiu todos os voos de entrarem no espaço aéreo iraquiano.

Quem são os yazidis?

Etnicamente, são curdos. Fundado no século XI, este povo, contudo, segue uma religião que mistura e adota elementos de várias crenças — incluindo a cristã e a islâmica –, sobretudo originárias da antiga mesopotâmia. As principais são o Sufi Islão e o Zoroastrimo, uma religião que chegou a ser maioritária no império persa e cujas origens data do século VI antes de Cristo.

Os yazidis acreditam num Deus que é representado por sete anjos. Um deles, chamado Melek Taus, ou Anjo Pavão, foi expulso do Céu e enviado por Deus para a Terra quando se recusou a curvar perante Adão, no paraíso — pois fora criado a partir da Sua iluminação, enquanto Adão nascera a partir do pó. Os yazidis encaram isto como um sinal de divindade. Os sunitas não.

Uma das razões está no outro nome pelo qual Melek Taus é conhecido: Shaytan. O mesmo que o Alcorão utiliza para se referir à figura de Satanás. Daí que muitos grupos extremistas islâmicos encarem os yazidis como um povo adorador do diabo. Entre os séculos XVII e XVIII, recordou o The Guardian, o povo yazidi foi alvo de 72 massacres. Em 2007, aliás, cerca de 800 morreram após um ataque bombista executado numa aldeia no noroeste do Iraque.

Onde estão no mundo?

Estima-se que hoje existam pouco mais de 700 mil yazidis. A vasta maioria — cerca de 500 mil — estava localizada perto das montanhas de Sinjar, a cerca de 80 quilómetros de Mosul, principal cidade no noroeste do Iraque.

Pelo menos até junho, quando o ISIS deu início aos ataques para formar um Estado Islâmico que reúna as populações sunitas da Síria e do Iraque. Na Síria estarão atualmente cerca de 15 mil yazidis, enquanto menos de 10 mil deverão estar divididos entre a Geórgia e a Arménia. Em território europeu, cerca de 50 mil estarão hoje a viver na Alemanha, sobretudo oriundos da Turquia.