O Governo socialista teve de se confrontar com um preconceito ideológico da comunicação social e das instituições europeias, “mas demonstrámos que encontrámos um caminho melhor e inovador para estabilizar o país“, afirmou António Costa em entrevista ao jornal alemão Handelsblatt.

A entrevista foi dada na semana passada, depois da anunciada saída de Portugal do procedimento de défices excessivos, e o título escolhido para edição inglesa foi “Ignorar a Alemanha compensou”. A ideia não está entre aspas, uma vez que não foi uma afirmação de António Costa, mas é uma interpretação possível das respostas que deu à correspondente espanhola do jornal alemão.

Segundo o primeiro ministro, o melhor caminho escolhido pelo seu Executivo passou por “pôr um fim à austeridade”, que foi fundamental para restaurar a confiança das pessoas e da economia. Costa refere o comportamento positivo de vários indicadores, desde a queda do desemprego e do défice até à recuperação do investimento e demonstra a convicção de que as agências vão subir o rating “brevemente.”

Acho que as agências de rating não esperavam esta decisão da Comissão Europeia (de recomendar a saída dos défices excessivos). Estou confiante de que vão subir o rating (da dívida portuguesa) em breve. Estão a perceber agora que a situação está muito melhor do que em 2011 (ano do resgate), quando emitiram os atuais ratings. Vão ter de mudar esses ratings se quiserem permanecer credíveis.

O recado às agências que insistem em manter a dívida portuguesa abaixo do nível de investimento foi reforçado já esta terça-feira em Vila Real, na cimeira ibérica. Reafirmando que a situação hoje em Portugal é muito diferente da situação de 2011, António Costa considera que “manter a avaliação do ‘rating’ hoje como se nada tivesse acontecido desde 2011 faz pouco sentido”. O primeiro-ministro insiste que não existe um indicador económico que não diga o óbvio: “o rating deve ser revisto” (em alta).

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O primeiro-ministro é ainda questionado sobre os problemas da banca portuguesa, que tem sido apontada por várias instituições internacionais como uma das mais frágeis da Europa, a par da Itália. Mas António Costa é categórico quando afirma: “Não precisamos de um banco mau”. O setor bancário, diz, tem agora o capital necessário para resolver o problema do crédito malparado.

Em vez de um banco mau, ou de um veículo para gerir os ativos problemáticos, o primeiro-ministro revela que o Governo está a trabalhar com o Banco de Portugal na criação de uma plataforma para coordenar a gestão dos empréstimos de má qualidade de vários bancos. E garanta que a situação hoje está muito melhor do que há um ano.

Nesta entrevista, o primeiro-ministro defende ainda a necessidade de mudar a resposta europeia às crises e volta a defender a criação de um subsídio de desemprego europeu, bem como a conclusão da união bancária, com o fundo de garantia de depósito europeu, e a constituição de capacidade orçamental que seja usada para promover a convergência. E à pergunta sobre se a Alemanha não está a assumir sozinha o fardo de acolher os refugiados, Costa diz que é o “preço do sucesso” da economia alemã que atrai os que procuram oportunidades.

E quando é questionado sobre a difícil relação europeia com Donald Trump, António Costa prefere não comentar assuntos internos dos Estados Unidos, apesar de sublinhar: “É claro que eu não teria votado em Trump”.

Atualizado às 13.20 com declarações do primeiro-ministro na cimeira ibérica.