O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não vai encontrar-se com o seu homólogo brasileiro, Michel Temer, devido a “um problema no programa” do Presidente do Brasil. A informação do encontro tinha sido avançada na manhã de sábado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

No Brasil, questionado sobre o cancelamento do encontro, Marcelo explicou que “surgiu um problema no programa do senhor Presidente da República Federativa e, pedindo muita desculpa, disse que não estava com disponibilidade de horário para poder aparecer”. O chefe de Estado revela ter “pena”, mas desvalorizou a questão: “O essencial é o encontro entre povos. Há aqui um princípio básico, que é só dança quem está na roda, e quem está na roda, quer estar na roda”.

Depois brincou dizendo que “há Presidentes que, em virtude de conjunturas que só eles conhecem e de problemas que só eles conhecem, têm mais disponibilidade que outros” e acrescentou que “os portugueses estão mal habituados”. Aqui, Marcelo aproveitou para contrapor à situação política brasileira o momento português: “Os portugueses estão habituados a um Presidente da República e a um primeiro-ministro que, por virtude da situação estável e tranquila do país, têm uma disponibilidade constante que não é habitual noutros Estados”.

O encontro entre o Presidente português e o seu homólogo estava a ser preparado e devia acontecer este domingo, na cidade do Rio de Janeiro. No entanto, o gabinete de Michel Temer fez saber a Marcelo Rebelo de Sousa que a reunião, afinal, não se podia realizar.

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No sábado de manhã, à margem das comemorações do Dia de Portugal, no Porto, Augusto Santos Silva fez saber que estava agendado “um encontro oficial entre os dois presidentes e contactos oficiais entre as autoridades portuguesas e brasileiras”, o que parecia desfazer uma dúvida que se arrastava há semanas. Recorde-se que o Presidente brasileiro está a braços com um caso de suspeitas de corrupção, depois de suceder a Dilma Roussef, afastada do cargo num processo que teve tanto de conturbado como de polémico.

Ainda na segunda-feira, durante a visita aos Açores, Marcelo Rebelo de Sousa evitou falar diretamente sobre o encontro com o Presidente brasileiro, garantindo que não existiam “convites a autoridades brasileiras”. O Chefe de Estado fez, no entanto, uma ressalva: “As autoridades desses Estados estão no seu território e um Presidente da República ou um primeiro-ministro têm de tomar isso em linha de conta, inevitavelmente, tratando-se de países com os quais temos laços, não só de amizade, como fraternais, e no caso do Brasil muito fraternais”.

Marcelo diz que não há convites a autoridades brasileiras para o 10 de Junho, mas realça laços fraternais

Depois de assinalar o 10 de Junho no Porto, Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa seguem para o Brasil, onde vão dar continuidade às celebrações junto das comunidades emigrantes e lusodescendentes de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Até agora, e segundo informações avançadas pelo Governo português, a mais alta autoridade brasileira cuja presença se encontra confirmada é a do governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin. No único ponto do programa desta noite, está prevista uma receção à comunidade portuguesa de São Paulo, seguida de um espetáculo pela fadista Gisela João. Nas cerimónias marcarão presença o prefeito da maior cidade brasileira, João Dória, tal como Geraldo Alckmin proveniente do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).

Esta sexta-feira, Michel Temer superou um teste decisivo à sua continuidade como Presidente: os juízes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) do Brasil decidiram, por quatro votos a favor e três contra, absolver a coligação de Dilma Rousseff e Michel Temer, mantendo o chefe de Estado no cargo.

A coligação Dilma-Temer venceu a eleição presidencial em 2014, mas estava a ser julgada neste tribunal sob a acusação de ter cometido crimes de abuso político e de abuso económico durante a campanha.

Se tivessem sido condenados, Michel Temer teria perdido o cargo de Presidente do Brasil e Dilma Rousseff o direito de concorrer a cargos públicos por oito anos.

Juízes mantêm Michel Temer na Presidência do Brasil com 4 votos contra 3

* Artigo atualizado com a informação de que Marcelo, afinal, não se vai encontrar com Temer e, mais tarde, com declarações do Presidente da República sobre o cancelamento