A greve geral desta terça-feira na Catalunha, convocada por 40 organizações sindicais da região em protesto contra o governo de Mariano Rajoy e a repressão e violência policiais empregues para impedir o referendo do passado domingo, está a paralisar a região.

Ao início da tarde, a partir de dados divulgados pela Fundació Barcelona Comerç, o El Mundo dava conta do encerramento de 90% de todos os estabelecimentos comerciais na região — 95% na zona de Girona. 80% das lojas terão sido fechadas por iniciativa dos proprietários.

A famosa Casa Milá (ou La Pedrera), projetada por Antoni Gaudí, é um dos pontos de interesse turístico fechados na capital. Cerca de 80% dos 100 mil funcionários do Ayuntamiento de Barcelona estão também a cumprir a greve geral.

Ao fim da manhã eram já 52 as estradas cortadas, com barricadas de pneus, manifestantes e tratores e filas de quilómetros. Praticamente todas as escolas da região estão também encerradas, por falta de alunos, e as universidades aderiram à greve geral.

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Apesar de já terem sido incendiadas algumas colunas de pneus, não há até ao momento notícia de violência, decorrendo as manifestações de forma pacífica — como aliás se pode perceber por algumas publicações partilhadas no Twitter, onde há até quem jogue xadrez para passar o tempo.

O presidente da Generalitat da Catalunha, Carles Puigdemont, pediu entretanto aos catalães que se manifestem de forma “democrática, cívica e digna” e que não se deixem levar pelas provocações”.

Estava previsto que metro, autocarros e comboios funcionassem a 25% durante as horas de ponta (entre as 6h30 e as 9h30 e depois das 17h00 às 20h00) e que fossem totalmente suprimidos durante o resto do dia, mas pelo menos em Girona, 100 km a norte de Barcelona, os manifestantes ocuparam os carris, impedindo a circulação da Renfe.

Na capital, Barcelona, foram cortadas inúmeras vias e há muitas lojas fechadas, incluindo nas turísticas Ramblas — as da cadeia El Corte Inglés, que estiveram encerradas no dia do referendo sobre a independência, e da Mercadona não estão entre elas, encontrando-se a funcionar com normalidade.

No aeroporto de El Prat não há quaisquer atrasos nos voos — só filas maiores para apanhar táxis nas chegadas, já que muitos dos motoristas se associaram à greve geral. Na Via Laietana, em frente ao edifício da Polícia Nacional, há centenas de manifestantes e ouvem-se gritos de “Queremos as urnas que nos roubaram” e “A imprensa espanhola é manipuladora”, informa o El Mundo.

Para o meio-dia (11h00 em Portugal) foi convocada um protesto na Praça Universitat. São já vários os milhares de manifestantes na praça e nas ruas adjacentes.

De acordo com o El Mundo, várias lojas que se mantinham abertas no cruzamento da Gran Via com o Passeig de Gràcia, como a Uniqlo, a H&M e a Zara, foram “obrigadas a fechar por grupos de manifestantes”. Diz uma das jornalistas do El País em reportagem no local, comerciantes mais pequenos estão a ser coagidos a encerrar por piquetes de grevistas.

Catalunha. Ministério do Interior espanhol em reunião de emergência

Um pouco por toda a região, há manifestações e são esperadas centenas de milhares as pessoas esta terça-feira nas ruas. Julian Assange foi uma das personalidades internacionais que já se solidarizaram com o povo catalão.

Rei de Espanha fez comunicação ao país sobre a Catalunha

O Rei espanhol, Filipe VI, transmitiu uma mensagem ao país às 21h (hora local, 20h em Portugal), criticando a ação das autoridades catalãs, que considerou “desleais” e “inaceitáveis”. O monarca realçou a importância do Estado de direito e enviou uma mensagem de confiança aos espanhóis, garantindo que o país irá ultrapassar a situação.

Rei de Espanha: referendo catalão é “inaceitável tentativa de apropriação das instituições”

Esta foi a primeira vez que o chefe de Estado se pronuncia desde o referendo do passado domingo, que não é reconhecido por Madrid. O Parlamento catalão, contudo, deverá votar unilateralmente a independência da Catalunha ainda esta semana, no que abrirá certamente uma crise institucional.

O El País recorda que a última vez que o Rei falou sobre a situação na Catalunha foi a 13 de setembro, quando declarou que a Constituição “prevalecerá” e reforçou que “os direitos que pertencem a todos os espanhóis serão preservados relativamente àqueles que se situam fora da legalidade constitucional”.

https://www.youtube.com/watch?v=3FQE114Wpig

Esta terça-feira, a juíza do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha responsável pela investigação ao governo catalão sobre a organização do referendo, pediu explicações aos responsáveis da Guardia Civil sobre o dispositivo de segurança que foi montado para o passado domingo, segundo conta o El País. Mercedes Armas, a magistrada em causa, quer saber o que foi definido como sendo responsabilidade de cada força de segurança. Ou seja, o que competia fazer a Polícia Nacional e Guardia Civil (órgãos nacionais) e aos Mossos d’Esquadra (órgão catalão). Recorde-se que o dia do referendo foi marcado por uma intervenção musculada das duas primeiras forças de segurança e por aquilo que fontes policiais consideraram ser a “passividade” dos Mossos.

Ao longo do dia, as manifestações nas ruas de Barcelona foram reunindo milhares de pessoas, como esta em Olot:

O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, foi o líder político europeu a pronunciar-se mais recentemente sobre a questão na Catalunha. “As imagens que todos vimos no domingo são terríveis, evidentemente”, disse Philippe no Parlamento, respondendo a perguntas dos deputados. No entanto, de acordo com a Europe 1, o primeiro-ministro também disse ter “confiança em Madrid” para que seja reforçado o diálogo. Já na segunda-feira, o Presidente Emmanuel Macron tinha reforçado que a França tem “apenas um interlocutor, que é Rajoy”.

Ao final do dia, a Guardia Urbana (força policial de Barcelona) estimou que cerca de 700 mil pessoas terão participado nas manifestações desta terça-feira, na cidade.