Beatriz Rodrigues vive na zona das Caldas da Rainha e Ana Lima nos arredores de Lisboa. As duas têm filhas: a primeira com 20 meses, a segunda com 16. Ambas estão descontentes com a comida que é dada às crianças nas creches que frequentam. Elementos comuns: doces, sobremesas e poucos legumes. Beatriz queixa-se do “tulicreme no pão, pudim de sobremesa, estrelitas e chocapic ao lanche”.
Já para Ana, o pior é a falta de variedade: “Quase todas as semanas servem atum. Servem também com frequência hambúrgueres e douradinhos e os legumes no segundo prato não existem”. Mas, esta mãe insurge-se também contra os doces. “Crianças com um ano e já comem doce! Aos mais pequeninos dão gelatina, depois começam a dar arroz doce e leite creme. Eu considero a gelatina muito pior porque é só açúcar e água…”
Beatriz e Ana decidiram expor as suas divergências às direções das creches das filhas. Não conseguiram introduzir alterações. Para já, Beatriz teve a garantia de que a filha “não come tulicreme, nem chocolate no leite e a promessa do envio das ementas para o e-mail”. Ana não teve melhor sorte: “Falei com a direção e nada mudou, até me disseram que não era a primeira a reclamar”. Esta mãe não consegue compreender os argumentos que ouviu. “A diretora justificou os douradinhos, hambúrgueres e afins, dizendo que tem ‘que se dar às crianças o que elas gostam para que comam’. Mas as crianças estão a ser educadas também no paladar. Por isso, tem que se variar!”, insurge-se.
Fritos, sal e açúcar não entram
Vera Santos conhece bem estas críticas. É diretora de uma creche, em Algés, concelho de Oeiras, desde 2012. Sem cozinha própria, contratou um fornecedor para os almoços. Mas a relação durou apenas um mês. Vera explica: “A ausência de vontade de adequar as ementas (que incluíam alimentos como croquetes, ovos mexidos com salsichas ou mousse de chocolate), levou-nos a optar pela Bebé Gourmet”.
E o que mudou nas refeições servidas na Escolinha da Kika? “Fritos, sal, açúcar branco, carne de porco, refrigerantes, chocolate são alguns exemplos do que não entra nas ementas. Uma vez por semana, temos uma sobremesa feita com fruta natural (como gelatina vegetal, mousse de banana, ou trio de pera, maçã e iogurte). De alimentos processados, temos farinha de arroz (para quando surge alguma diarreia) e, uma vez por semana, temos a opção de oferecer farinha láctea no berçário; também os cereais que servimos são processados. Os iogurtes servidos são sempre naturais, aromatizados com fruta passada na hora.”
A alimentação saudável é uma bandeira da creche que dirige, e até já organizou uma formação aberta aos pais e à comunidade sobre o tema. Mas a diretora da creche admite que a mudança de fornecedor teve consequências nas contas da creche. “Quando mudámos, acabámos mesmo por ter algum prejuízo”. Mas nem por isso pensa voltar atrás. “O benefício de sabermos que estamos a oferecer a estas crianças o que é mais adequado acaba por ser muito mais importante para nós”, explica.
A polémica do açúcar
Basta fazer uma pesquisa na internet, ou perguntar a quem tem crianças em creches, para perceber que é muito comum serem servidos ovos mexidos com salsichas ou fiambre, rissóis, croquetes, hambúrgueres, almôndegas, chocolate no pão ou no leite, bolos ou bolachas, cereais e papas ou sobremesas. Já os legumes, muitas vezes, só aparecem na sopa. Nestas questões, há opiniões para todos os gostos e o consumo de açúcar divide os pais e até mesmo os profissionais. Há quem ache que não faz mal comer, quem coma de vez em quando e quem não queira dar nunca.
Os estudos à forma como as crianças se alimentam em Portugal revelam que a partir do primeiro aniversário, a alimentação das crianças começa a piorar com o consumo de doces e de sal em excesso. Aos quatro anos, 65 % das crianças comem doces todos os dias e 73% consome ‘snacks’ salgados mais de uma vez por semana.
Júlia Galhardo é pediatra e responsável pela consulta de obesidade no Hospital Dona Estefânia, em Lisboa. A profissional não tem dúvidas: “Esta alimentação vai ter consequências nestas crianças muito mais cedo do que na geração dos pais. Vamos ter síndrome metabólica que tem a componente da hipertensão, aumento do ácido úrico, fígado gordo e diabetes tipo 2. Tudo isto é um pacote para o aumento do risco cardiovascular.” É um conjunto de doenças interligadas e cada alimento destes acaba por prejudicar a saúde em vários aspetos. “As batatas fritas são más porque têm sal, mas também têm gordura saturada”, explica.
Alternativas saudáveis aos doces
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Uma das receitas que Andreia Revez dá é a da bolacha de batata-doce. Basta juntar uma gema de ovo, meia chávena de batata-doce cozida descascada, duas colheres de chá de água e 28 gramas de farinha de coco ou de arroz. Misturam-se todos os ingredientes e moldam-se as bolachas no formato que quiser. Leva-se ao forno num tabuleiro durante 15 a 20 minutos e já está.
Uma alternativa às papas industriais são as papas caseiras. A nutricionista sugere, por exemplo, batata-doce cozida com abacate. Pode ser triturada em papa ou dada em cubos ou palitos, quando o bebé já conseguir trincar. Além disso, podem ser feitas papas de aveia com fruta.
A pediatra Júlia Galhardo defende que se deve dar preferência ao pão escuro, à fruta e ao leite ou derivados. O iogurte natural com fruta é uma boa alternativa aos iogurtes açucarados, por exemplo. A seguir à refeição, a preferência vai para a fruta. Mas pode ser, por exemplo, espetadas de fruta ou mousse de fruta com abacate e banana ou pera. Triture tudo e junte alfarroba em pó. Parece mousse de chocolate mas esta é saudável e muito boa.
Crianças doentes por causa da alimentação não é cenário do futuro, mas uma realidade que a pediatra já vê nas suas consultas. “Eu tenho doentes com menos de dez anos a quem tenho que dar medicação que se dá aos velhinhos por causa da diabetes. Se estamos a ver isto em idade escolar, quando chegarem aos 30 já tiveram um enfarte!”. A pediatra explica que as orientações são para dar medicação se os valores não baixarem depois de meio ano com as alterações na alimentação. “Tenho meninos que tomam medicamentos iguais aos dos avós. Digo-lhes: ‘Vão lá ver aos medicamentos dos vossos avós se não tomam também estes?’. Eles ficam a olhar para mim assustados, mas a ideia é mesmo essa.”
Será que comer uma vez por semana um doce faz diferença? “O que é de vez em quando?! O problema é que é todos os dias. A questão é que cada uma destas coisas é uma vez por semana, e no final da semana temos uma grande asneira. Isto está legislado pela Direção-Geral de Saúde e pela Direção-Geral de Educação. Existem regras específicas para o número de sobremesas, fritos, doces. Esses alimentos são péssimos. Não é só o açúcar e gorduras saturadas, mas está-se a condicionar o paladar nestes meninos.” Júlia Galhardo explica que “as crianças pequenas, com menos de três anos, não gostam do amargo. Darwin explica isso. Na evolução, as bagas amargas eram perigosas para a saúde, eram venenosas. As crianças só por si já não gostam. Se não introduzirmos os vegetais e as frutas, e substituímos isso pelo que é palatável (os molhos com açúcar, gorduras ou sal) estamos a condicionar o paladar destes miúdos”. Por isso, o argumento de dar às crianças aquilo que gostam como os hambúrgueres ou os doces deve ser contrariado. A nutricionista Andreia Revez concorda e explica que “até aos 3 anos as crianças são mais recetivas a experimentar alimentos”.
“O açúcar deve ser tratado como uma droga”
Andreia Revez é nutricionista. Há seis anos que trabalha com alimentação pós-parto e nutrição infantil no Centro Pré e Pós Parto, em Lisboa. Nas consultas, a maior preocupação dos pais é a alimentação nas creches. Para a nutricionista, o pior são os lanches e a continuidade. “Se a creche dá, de forma consistente, papas com açúcar, leite com chocolate, bolachas… Isso é parte de uma festa de anos, da exceção. Tudo isto devia sair da base diária da criança”, defende.
Da realidade que conhece, a nutricionista reconhece que as ementas não são adequadas a bebés: “O que não está adaptado é dar uma papa que tem 3 ou 4 açúcares diferentes. Eu diria que de base não tem nada de jeito, só tem farinha e açúcares. É a forma mais rápida de aumentar o peso de forma não saudável. Nós sabemos que os bebés têm que aumentar de peso mas assim não. Isto vai ver-se daqui a uns 40 anos, em adulto.” Por isso, Andreia Revez discorda de iniciar a diversificação alimentar pela papa.
“Quando o primeiro alimento é farinha e açúcar é muito difícil treinar o paladar dos nosso filhos para o que não é doce. Depois temos antibióticos, alimentos inflamatórios e temos uma criança que está sempre doente”, explica. Quando o bebé faz um ano, normalmente há a indicação de que pode comer tudo, igual à família. Os estudos demonstram que os cuidados tidos até então desaparecem e a alimentação salta dos carris. “Parece que há uma barreira. A partir de um ano, pode comer de tudo. Mas de tudo o quê? De tudo o que é saudável! Vamos cair na fase de crescimento, importante do ser humano. O problema é que as famílias se alimentam com alimentos processados”, admite.
“O açúcar deve ser tratado como droga que é: é inflamatório, não tem nutrientes, é péssimo para os dentes”, alerta. Os produtos processados também são para evitar. Além de muitos conterem açúcar, com a refinação e processamento perdem propriedades. Andreia Revez deixa um alerta: “Tudo o que leve farinha refinada é um alimento com muitos poucos nutrientes, quase zero. Para o crescimento ser mais saudável, precisamos de todos os nutrientes. Comer cereais ou pão branco com chocolate também não é saudável. Dar bolacha diariamente é dar informação ao corpo. Ela é inflamatória: açúcar refinado e farinha refinada.” Por isso, a nutricionista desaconselha a tão recomendada bolacha Maria, pois tem farinha de trigo refinada, açúcar, gorduras hidrogenadas e sal.
Saúde no prato
O que oferecer então às crianças nas creches e em casa? Júlia Galhardo diz que “nada é proibido”. “Um bolo, uma vez por semana, não tem mal nenhum. Um chocolate de 30 gramas não tem mal. Isso é a festa de anos. Mas as crianças aos quatro anos têm agendas sociais muito cheias, às vezes, com várias festas de anos num fim de semana. Festas de aniversário em que vêm para casa com sacos de gomas ou chocolate, santa paciência!” Já ouviu a expressão: “Coitadinhas das crianças que não podem comer doces?” A pediatra responde: “São coitadinhos porque estamos a dar-lhes cabo da saúde.” E alerta: “A comida não serve para premiar ou para castigar”.
Andreia Revez insiste na mesma tecla e diz que “gostava de ver nas creches alimentos a sério, que não sejam transformados pela indústria, fruta, vegetais. Para prevenir doenças crónicas, temos que pôr legumes no prato”. Para a nutricionista, é preciso consistência e incluir estes alimentos todos os dias na alimentação. “Se eles estão lá, a criança come um bocadinho de tudo. Pomos três tomates cereja. Ao primeiro dia, só prova. Ao segundo, eles continuam lá e já come um”.
Ao argumento de que alimentos saudáveis são mais caros, Andreia responde com a prática e sugere às creches e aos pais: “Se fizermos umas bolachinhas com flocos de aveia, adoçadas com fruta ou puré de maçã, não ficam muito caras. Um pacote de flocos de aveia custa cerca de 80 cêntimos!” Mas há mais alternativas: “As crianças adoram cenouras em palitos. Conseguimos criar muitas opções saudáveis. A fruta é barata. Não percebo porque não se dá fruta nas creches!”. Outra opção é dar iogurte natural. “Uma criança que come iogurte com açúcar não comerá iogurte sem açúcar. Iogurte açucarado é outra vez uma sobremesa”, explica.
Afinal, o paladar também se educa e aprender a comer de forma saudável faz parte de um crescimento harmonioso. Pedro Graça, diretor da Plataforma Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, sublinha que “na área da alimentação, o que se come em casa é tanto ou mais importante do que o que se come nas escolas” até porque “as crianças, e quanto mais pequenas mais importante é, são grandes imitadoras. As crianças vão comer como os pais. Se possível, a comida deveria ser saudável desde o mais pequeno até ao mais idoso lá de casa”.
Educar para uma alimentação saudável
A Direção-Geral de Saúde não tem recomendações específicas para esta faixa etária, mas apenas para as crianças entre os três e os seis anos de idade. O “Manual para uma Alimentação Saudável em Jardins de Infância”, publicado pela Direção-Geral de Saúde, recomenda que o açúcar, o mel, o cacau e os produtos de pastelaria “devem ser consumidos com extrema moderação porque: têm pouco valor nutricional, embora tenham elevado poder energético; apresentam risco para a saúde dentária; contribuem para a obesidade e interferem com o apetite, substituindo outros alimentos com muito melhor valor alimentar”. Por isso, “a sobremesa deve ser constituída por fruta” ficando os doces reservados apenas para “dias especiais”. O manual defende que “o prato principal deve também ser acompanhado com um pouco de legumes, leguminosas ou salada”. Recomenda-se ainda a moderação do consumo de carne, usar o sal com “muita moderação”, “evitar os enlatados e os caldos concentrados, por conterem habitualmente excesso de sal, gorduras e certo tipo de aditivos”.
Como comem as nossas crianças
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O projeto Estudo do Padrão Alimentar e do Crescimento Infantil (EPACI) 2012 analisou os hábitos alimentares de 2500 crianças até aos 36 meses de idade. O relatório encontrou dados preocupantes. Um quarto das crianças prova refrigerantes quando faz um ano de idade. Já as sobremesas doces, são provadas, em média, aos 13 meses. As conclusões mostram também que 17% das crianças de 2 e 3 anos bebem todos os dias bebidas açucaradas e 10% comem diariamente sobremesas e doces. Já o consumo de hortícolas e cereais fica aquém do aconselhado. Mais de 90 por cento das crianças comem fruta fresca e sopa todos os dias. Mas só pouco mais de metade tem vegetais no prato.
Um estudo do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, divulgado em 2014, conclui que 65% das crianças de 4 anos comem bolos e doces todos os dias. A investigação acompanhou mais de 8 mil crianças, nascidas no Porto em 2005 e 2006. Além do consumo excessivo de doces e de sal, 73% destas crianças come uma a quatro vezes por semana “snacks” salgados como pizza, hambúrguer ou batatas fritas.
Pedro Graça, diretor da Plataforma Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, explica que este manual está a ser alvo de estudo para atualização. Uma das ideias é promover a variedade. “Nós, baseados na evidência científica, entendemos que é fundamental a escola ensinar para a variedade. As crianças acabam por não conhecer, não treinar o gosto para a diversidade dos vários tipos de fruta e de hortícolas, porque os pais não os consomem”.
O argumento de que as crianças não gostam não colhe. O diretor da Plataforma diz que “as crianças não gostam de hortícolas à primeira vez. Gostam muito mais do que é doce e do que é salgado. Os nossos sentidos estão preparados para isso. Se não aparecem à mesa, as crianças não aprendem a gostar”. Os lanches e o que é comido fora das refeições principais também vai ser tido em conta na revisão deste manual. “É uma preocupação explicar às crianças que o meio da manhã e o meio da tarde e os lanches devem ser saudáveis. Não precisam de ter bolos nem refrigerantes. Devem ter pão, água, sumos de fruta naturais. Sem excessos de sal, açúcar e produtos processados.”
Outras prioridades são utilizar a roda dos alimentos para distribuir os alimentos na proporção certa no prato e ensinar as crianças a estar à mesa. É preciso mudar esta realidade: “Uma criança que não sabe utilizar os instrumentos para comer, que não aprende que a refeição se inicia com sopa e termina com uma peça de fruta, que não aprende que não se vê televisão à refeição…” Estes princípios e o ensino pelo gosto da atividade física serão tidos em conta nas recomendações da Direção-Geral de Saúde nesta área.
Mas afinal quem controla a alimentação das creches?
Se a realidade contraria estas linhas, Pedro Graça diz que “neste momento, não existem obrigações de oferta alimentar por parte do pré-escolar”. “A fiscalização é feita pelo Ministério da Educação. O Ministério da Saúde intervém quando há um atentado à saúde pública, por exemplo num caso de intoxicação”, explica.
Doentes por comer mal
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Um estudo da Associação Portuguesa contra a Obesidade Infantil, de 2013-2014, aponta que uma em cada três crianças tem peso a mais. A investigação acompanhou mais de 18 mil crianças e concluiu que 33,3% entre os 2 e os 12 anos têm excesso de peso, das quais 16,8% são obesas.
O estudo COSI Portugal, associado ao sistema europeu de vigilância de obesidade infantil, avalia as crianças dos 6 aos 8 anos. Em 2013, e apesar de se registar uma evolução positiva, o país “continua a ser um dos países com maior prevalência de excesso de peso e obesidade infantil”. 31,6% das crianças têm excesso de peso e 13,9% sofrem de obesidade, segundo os critérios da Organização Mundial de Saúde. Daí que a obesidade infantil seja uma das prioridades do Plano Nacional de Saúde até 2020. Intimamente ligada à obesidade está a diabetes. A tipo 2 aparece normalmente na idade adulta, mas há cada vez mais crianças a sofrer da doença. Está associada à obesidade, má alimentação e sedentarismo. O pâncreas produz insulina, mas há resistência à sua ação, o que o leva a trabalhar cada vez mais. A pediatra Júlia Galhardo explica que “o pâncreas é uma fábrica e também tem capacidade limitada. A partir de determinado valor, o pâncreas já não consegue.” Aí é preciso intervir com alterações na dieta. “Se a alimentação saudável não tiver efeito em meio ano, e os valores não baixarem, temos de prescrever medicamentos.”
Já Rui Lima, nutricionista da Direção-Geral de Educação, esclarece que as orientações e fiscalização do ministério são relativas aos jardins de infância, considerados parte do sistema de ensino, e não às creches (até aos três anos). “As creches são uma zona mista em que o ministério não intervém. A responsabilidade é da Segurança Social”. Vamos então ver o que diz a Segurança Social sobre as ementas nas creches. As normas para a instalação e funcionamento das creches preveem que as ementas sejam elaboradas por pessoal técnico com formação adequada e afixadas semanalmente num local visível. O incumprimento é contra-ordenação e dá direito a multa. Mesmo assim, muitas vezes as ementas não são do conhecimento dos pais ou estão incompletas não incluindo os lanches, como atestam Beatriz Rodrigues e Ana Lima.
No que diz respeito à composição das ementas, em concreto, o “Manual dos processos-chave das creches”, publicado pela Segurança Social, estipula que nas refeições servidas às crianças até aos três anos (creche) devem ser evitados o excesso de sal, de gorduras, de açúcar e alimentos açucarados. As ementas devem ser “equilibradas,variadas e ricas nutricionalmente”. Já a higiene e segurança alimentar deverão ser asseguradas através da implementação do sistema HACCP (Análise de Perigos e Controlo de Pontos Críticos) para evitar riscos para a saúde.
Rui Lima, da Direcção-Geral de Educação, explica que “a fiscalização do Ministério da Educação é só para os jardins de infância”, muitas vezes integrados em agrupamentos de escolas. E quem fiscaliza as creches que funcionam em instituições com jardim de infância? “A maior parte desses estabelecimentos são privados e aí também não temos essas competências. Nas escolas privadas a alimentação é da competência da própria escola”, explica o técnico superior . Então, não há fiscalização às ementas das escolas privadas? “Se os pais põem os filhos numa escola privada é opção dos pais, e aí sim têm um papel fundamental a pressionar para uma alimentação saudável”.