António Costa é um socialista mais à esquerda que Dalai Lama ou que Alexis Tsipras, mas menos autoritário que estes dois. Pelo menos a avaliar pelas respostas que deu ao inquérito do site “Political Compass“, quando desafiado pelo Observador antes das eleições primárias do partido que o levariam a líder, em 2014. 

A escala que o site usa, faz uma divisão entre setores, tanto em termos de valores como da visão económica.

Escala

E, tendo em conta as respostas que António Costa deu ao Observador, está, tanto em termos económicos como de valores, à esquerda do centro. Bem à esquerda, situando-se no quadrante da “esquerda libertária”.

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Gráfico com o posicionamento de António Costa, na escala do Political Compass

E tão à esquerda que, quando comparado com outros políticos que já foram analisados pelo Political Compass, consegue ficar mais à esquerda que, por exemplo, Dalai Lama, ou que o líder do SYRIZA, partido da esquerda radical da Grécia.

dalai lama

Exemplos mostrados no site Political Compass

O que quer isso dizer?

Em termos de política internacional, ou como se vê o país no mundo, António Costa defende que a globalização económica deve servir a humanidade ou que não há raças superiores. Mas, talvez pelo seu passado à frente do Ministério da Administração Interna (MAI), difere de outros socialistas quando responde que apoiaria sempre Portugal, independentemente de o país estar certo ou errado, ou que às vezes se justificam ações militares que desafiem o direito internacional. Em 2004, em resposta ao mesmo inquérito publicado no “Público”, nenhum dos três candidatos ao lugar de Ferro Rodrigues (então secretário-geral do PS), João Soares, Manuel Alegre e José Sócrates responderam positivamente a esta última questão.

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E se António Costa tem defendido que quer combater o desemprego, foi isso mesmo que respondeu quando a pergunta era se controlar os preços é mais importante que controlar o desemprego. Tendo em conta o posicionamento político, Costa defendeu dois bastiões da esquerda: que o protecionismo na economia é necessário muitas vezes no comércio internacional e ainda que os ricos pagam poucos impostos.

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A economia globalizada está muito dependente dos mercados, e António Costa defende que é necessário restringir certas multinacionais “predatórias” e como socialista não podia deixar de ser contra o posicionamento liberal de que “quanto mais livre o mercado, mais livre as pessoas”.

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No que diz respeito aos valores, António Costa dá respostas díspares. Se não concorda que a coisa mais importante para as crianças é aceitar a disciplina, também aceita a posição polémica de dizer que “os bons pais têm por vezes de bater nos filhos para os ensinarem a distinguir o certo do que está errado”.

Além disso, e aqui pode ser mais uma vez a passagem pelo MAI a falar, diz que discorda “que toda a autoridade deve ser questionada”.

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António Costa tem uma visão socialista e libertária da sociedade no que às questões sociais e políticas diz respeito. Não concorda com a pena de morte, nem que quem é culpado de crimes deva ser mais castigado do que reabilitado. Além disso não concorda que as mulheres que têm carreiras devem, mesmo assim, dar mais atenção ao lar ou que um empresário seja mais importante que um artista. Mas difere de outros socialistas quando diz que concorda que é importante que nos devemos “reconciliar com a norma estabelecida”.

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O candidato às eleições primárias do PS não é nada religioso. Não acredita numa ligação entre moral e religião nem concorda que se deva incutir valores religiosos às crianças.

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E por fim, no que respeita a questões da esfera íntima das pessoas, António Costa tem uma posição menos avant-garde que alguns socialistas ao dizer que considera “imoral” sexo fora do casamento.

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O candidato a líder do PS tem dito que se for para o Governo irá tentar um governo de esquerda. Se o resultado do “Political Compass” o mostra à esquerda, não terá diferenças ideológicas substanciais para com os partidos com quem quererá coligar-se.

Nota: Este artigo foi publicado pela primeira vez em 27 de setembro de 2014. Na altura, o Observador desafiou os dois candidatos às eleições primárias do PS a responderem ao inquérito, para avaliar como se situavam em termos de economia e de valores. O autarca de Lisboa respondeu. António José Seguro não teve disponibilidade para responder às questões. Os dois foram contactados em julho de 2014.