No início da semana, a autoridade de concorrência da Comissão Europeia acusou a Google de abuso da sua posição dominante como motor de busca na internet. A acusação chegou depois de quase seis anos de investigação. Vale a pena relembrar rapidamente a saga da Google.

A investigação começou no final de 2009 e marcou o mandato de Almunia como Comissário da Concorrência, entre 2009 e 2014. Na Primavera do ano passado, Almunia e a Google quase chegaram a um acordo, com a companhia californiana disposta a oferecer concessões. Pressionado pela Alemanha e pela França, Almunia acabou por rejeitar a oferta de concessões por parte da Google.

A nova Comissária da Concorrência, a dinamarquesa Margrethe Vestager, resolveu agora acusar a Google. Será possivelmente o maior caso de concorrência desde as multas impostas à Microsoft. E a Google arrisca-se a pagar ainda mais do que os dois mil milhões de euros pagos pela Microsoft no início do século. O campeão global de Sillicon Valley não pertence certamente à categoria dos santos. A Google é implacável na sua estratégia, esmaga concorrentes e muito provavelmente abusa da sua posição, como se percebe de cada vez que fazemos compras ou procuramos informações na internet. Além disso, a Google tem dificuldades claras em lidar com as autoridades europeias. Seria uma ilusão acreditar na inocência da Google.

Mas vale a pena considerar os receios europeus, e o que eles mostram sobre a cultura económica em muitos países europeus. Há uma verdadeira paranoia, especialmente na Alemanha e em França, com o poder das companhias tecnológicas norte americanas. Já se fala de um “anti-GAFA” (Google, Apple, Facebook e Amazon) na Europa. As livrarias e as editoras queixam-se da “concorrência desleal” da Amazon. As editoras de livros e de música atacam a posição dominante da Google. A Apple passou dos computadores para os telemóveis, deixou as companhias europeias para trás e “forçou” a fusão entre a Nokia e a Alcatel. Agora até as grandes empresas de telecomunicações europeias queixam-se das novas formas de comunicação da Google e da Facebook.

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Há mesmo quem vá mais longe e veja na Apple, na Facebook e na Google futuras ameaças a algumas indústrias mais tradicionais, como a automóvel. As marcas europeias andam nervosas com a possibilidade de os gigantes tecnológicos inventarem o “automóvel teleguiado”. A imposição das regras da concorrência é também uma forma de limitar o poder das “Googles” e afins. No entanto, mesmo admitindo que as autoridades europeias tenham razão, a verdade é que as companhias norte americanas estão a ganhar claramente a competição da inovação. Por que razão as Googles, as Apples, as Facebooks e as Amazons são norte-americanas e não europeias? Estará a Europa condenada a ser o continente da regulação, deixando para os Estados Unidos o estatuto do campeão da inovação? Estas são as questões que realmente interessam.

Tal como aconteceu com a Microsoft, a Google poderá sair enfraquecida do processo com a União Europeia, mas desconfio que as próximas Googles já estão a aparecer nos Estados Unidos. E não há autoridade de concorrência ou regulatória neste mundo que trave o aparecimento de novas Googles e Facebooks. Seria desejável que a Europa se concentrasse mais em inovar e menos em regular.