Quem tem visitado o Brasil nos últimos 7, 8 anos, fica com duas certezas: Lula foi um herói para a maioria do povo brasileiro, mas a sua popularidade baixou muito nos últimos dois anos. As buscas de ontem e a breve detenção pela Polícia Federal representam a queda de Lula. A investigação Lava Jato, durante os últimos 18 meses, expôs um plano do PT para se perpetuar no poder usando para isso um sistema de financiamento ilegal, através da Petrobrás e das grandes empresas de construção. O sistema começou a ser criado quando Lula ainda era Presidente, e foi pensado e executado pelo seu núcleo duro.

A investigação das autoridades judicias conheceu três fases distintas. A fase inicial concentrou-se na Petrobrás e levou executivos da petrolífera para a prisão. Numa segunda fase, as autoridades prenderam e acusaram os executivos de topo das grandes construtoras. Por fim, a investigação chegou aos políticos e as autoridades prenderam três figuras centrais do PT: o antigo tesoureiro Vacari Neto, o antigo chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o antigo líder do PT no Senado, Delcídio de Amaral. A prisão do último foi fundamental porque resultou na assinatura de um acordo de delação premiada. Aparentemente, pelo que foi publicado na imprensa brasileira, Delcídio de Amaral fez acusações muito graves tanto contra Lula como contra Dilma Rousseff. A culminar todo este processo, a investigação terá concluído que o enriquecimento de Lula e da sua família beneficiou de fundos do Lava Jato.

Independentemente das culpas individuas e das condenações, matérias que competem aos tribunais, é evidente que os governos do PT utilizaram dinheiros públicos para benefícios próprios e para o partido consolidar o seu poder. Os anos do PT no governo demonstram como o “capitalismo de Estado” beneficia muito mais quem está no poder do que a população e os cidadãos. Foi o que aconteceu no Brasil. O poder do PT não se limitava a regular a economia. Intervinha, controlava e decidia quem seriam os famosos “campeões nacionais” do mercado brasileiro. Como se nota, esse imenso poder traz vantagens financeiras.

Os governos do PT cometeram ainda outro erro enorme em termos de política económica. Limitaram-se a beneficiar do crescimento económico dos países asiáticos, sobretudo da China, para vender matérias primas e a preservar as boas políticas herdadas dos governos de Fernando Henrique Cardoso. Nada fizeram para preparar a economia brasileira para o fim do crescimento da China. O resultado foi a maior recessão do país nas últimas décadas, o aumento do desemprego e o regresso aos dias da inflação incontrolável. Muito pouco e mau para quem está há mais de doze anos no poder.

O PT está a chegar agora a um ponto de não retorno. Cada vez parece mais difícil salvar simultaneamente Lula e Dilma. Um dos dois terá que cair para o partido se salvar. Desconfio que Dilma será a sacrificada. O partido nunca gostou de Dilma e adora Lula. O crescente afastamento entre o PT (e Lula) e Dilma tem sido visível nos últimos tempos. O PT pode decidir que a sua salvação passará pela queda de Dilma, a passagem à oposição e, se os problemas com a justiça se resolverem, a candidatura de Lula à Presidência em 2018. Para isso, o partido terá que deixar cair Dilma no processo de impedimento que a Presidente enfrenta no Congresso.

No entanto, as investigações das autoridades judicias são o maior obstáculo à estratégia de Lula e do PT. Ainda haverá muito para descobrir sobre o Lava Jato e mais algumas delações premiadas para assinar. Como escreveu um dia Mia Couto, num contexto diferente, “o pior do passado é o que está por descobrir.” Parece que se aplica aos governos do PT.

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