Foram e são muitos os europeus que consideram que a guerra no Velho Continente é uma coisa que pertence a um passado cada vez mais distante e que dificilmente se poderá repetir, mas a realidade é outra. As celebrações do 70º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial mostram que a Europa não só continua dividida, mas mergulhada numa profunda crise, sem capacidade de encontrar novas soluções para resolver os problemas.
O Kremlin organizou paradas militares em mais de uma dezena de cidades russas, exibindo, pela primeira vez em público, alguns dos últimos êxitos, ainda secretos, do complexo militar russo. É verdade que algumas das novidades falharam em momentos nada apropriados, mas a justificação veio logo a seguir: o homem ainda não está preparado para trabalhar com máquinas tão sofisticadas.
Exemplifico: durante o ensaio geral da parada militar em Moscovo, o motor de um dos tanques mais modernos russos, o Armata, foi abaixo e o monstro metálico ficou parado no meio da rua. Dmitri Rogozin, o vice-primeiro-ministro encarregado do rearmamento das Forças Armadas russas, justificou assim a falha: “na realidade, neste caso concreto, a causa está na adaptação insuficiente do condutor a uma máquina tão complicada. Olhem para isso com calma. Trata-se de uma nova máquina muito complicada. Não se trata de um passo em frente, mas de dois”.
Na cidade de Tchita, no Extremo Oriente russo, uma plataforma de mísseis “BUK” começou a deitar demasiado fumo durante a parada, mas os bombeiros chegaram a tempo de resolver o problema.
Poucas ou nenhumas novidades se esperavam do discurso de Vladimir Putin na Praça Vermelha, o que acabou por acontecer. Foi uma no cravo, outro na ferradura. Ele constatou, e parece que ninguém discorda, que “os princípios básicos da cooperação internacional são cada vez mais ignorados nos últimos anos”, mas certamente que não teve em vista a anexação da Crimeia ou o seu apoio militar aos separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia.
O Presidente russo fez uma coisa que não é muito normal na actual Rússia, ou seja, reconhecer o papel de outros povos na vitória sobre o nazismo: “Estamos gratos aos povos da Grã-Bretanha e França, dos Estados Unidos pelo seu contributo para a Vitória. Gratos aos antifascistas de diversos países que lutaram abnegadamente nas guerrilhas e clandestinidade, inclusive na própria Alemanha”.
Alguns poderão interpretar essas palavras como um sinal de que o Kremlin está disposto a dialogar com o chamado Ocidente a fim de normalizar as relações em vários sectores, mas o certo é que as armas não se calam no Leste da Ucrânia e um conflito em grande escala pode recomeçar a qualquer momento.
Não tenhamos ilusões, porque a guerra ainda não terminou na Europa.
P.S. Cada um tem o direito de convidar quem quiser para as paradas militares. Putin, entre muitos outros, convidou o actor americano Steven Segal, aquele que, no cinema, resolve tudo a tiro e bofetada, bem como o ditador do zimbabweano Mugabe.
Outro ditador: o presidente da Bielorrússia Alexandre Lukachenko, fez-se acompanhar, na parada militar que organizou no seu país, do seu filho mais novo. Embora com apenas 11 anos, a criança já trazia vestida a forma de comandante-chefe das Forças Amadas da Bielorrússia.