Num ano a ritmo acelerado como 2016, tanto em Portugal como lá fora, desde o Brasil aos Estados Unidos, passando pelo “Brexit”, os dados para 2017 são marcados por um grau de incerteza que, só por si, já lança uma expectativa sombria sobre a finança e a economia globais. No espaço desta coluna, é preferível ficar entre nós a fim de fazer um balanço das promessas cumpridas e por cumprir pelo instável equilíbrio partidário que nos governa. Será inevitável, contudo, chamar a atenção para os efeitos imprevisíveis de inúmeros acontecimentos, eles bem previsíveis, como a chegada ao poder do novo presidente norte-americano, Donald Trump, o anunciado início das negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia e as eleições em França (presidenciais) e na Alemanha (parlamentares).

Neste contexto, é curioso que um jornal como o Público termine o ano com uma série de artigos demasiado empáticos sobre eventuais saídas do euro da Itália e da França. Essas peças concluem, aliás, com um bizarro mapa dos partidos europeus opostos à moeda única no qual não estão incluídos, como é evidente, os dois bordões que têm amparado o PS no actual governo português com cerca de 19% dos votos expressos em 2015. O que distingue, com efeito, o PCP e o próprio Doutor Louçã da Sr.ª Le Pen nesta matéria concreta? Nada que se saiba, mas o Público preferiu omiti-lo…

Ou seja, o ambiente vem sendo preparado para uma opção dessas, o que poderia ser precipitado pela implementação do “Brexit” e o advento de eventuais soberanistas – de esquerda ou de direita não interessa – ao poder em França e em Itália. Na Grécia, as condições objectivas, como dizem os marxistas, já estão reunidas para o país sair ou ser excluído da zona euro.

A exclusão do euro é, efectivamente, um dos balanços que pode ser feito da evolução, dita prometedora, de Portugal no último ano. Ora, o risco, longínquo que seja, de a UE entrar num ciclo de desmantelamento da moeda única, mesmo parcial, começaria pelo abandono dos países incapazes de acompanhar a consolidação do euro mas não ameaçaria apenas a economia portuguesa: ameaçaria a própria sociedade e a sua liberdade política.

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A forma como a presidência Trump fará evoluir a economia global e como isso afectará o “euro” é difícil de prever mas favorável não será. Assim, com o eventual acesso da direita soberanista ao poder em países como o Reino Unido, a França, a Itália, a Holanda e, no limite, a Alemanha, a extrema-esquerda da Europa meridional atingiria o seu perverso objectivo de regressar à autarcia económica e ao fechamento político… É um pesadelo a não excluir totalmente e Portugal depende pouco de si próprio para que isso aconteça ou não!

Quanto às promessas feitas pelo actual governo, só uma conclusão se impõe. A prometida reversão das medidas tomadas pelo anterior governo, sob injunção da “troika” a fim de repor o país da senda do crescimento, do equilíbrio orçamental e da contenção da dívida, essa foi efectuada praticamente a 99%, com excepção do continuado aumento de taxas e impostos, que segundo os actuais governantes apenas atingem “os mais ricos”, como se destes não dependesse muito a confiança no sistema e o investimento não meramente especulativo.

Pelo contrário, todas as promessas de regressar ao crescimento económico, aliás agonizante desde o início do século XX, sem que ninguém no governo se pergunte porquê, ficaram por cumprir. O investimento público, que iria desencadear um boom, caiu 25% e nunca foi tão baixo. Todo o dinheiro que o governo conseguiu arrebanhar e assim continuará a fazer foi distribuído às corporações e aos sindicatos que mantêm o Estado sob chantagem: só para dar um exemplo, contrataram-se milhares de professores quando as estatísticas prevêem centenas de milhar de alunos a menos a prazo relativamente curto! Muitas das reversões, concretamente as estatizações das empresas de transportes liberalizadas pelo anterior governo, tiveram de ser pagas e continuarão a sê-lo. Quanto às reversões que se traduziram em aumentos de ordenados e de algumas pensões mais baixas, sumiram-se no consumo de bens em grande parte importados, enquanto a poupança nacional nunca foi tão baixa e as exportações se arrastam!

A terminar, por motivos que nunca nos serão explicados, o problema económico mais grave do país continua por resolver, a saber, o buraco dos bancos portugueses levados à falência virtual por “calotes” sem fim, conforme chamei a atenção há um ano. Segundo o governo, é preciso cada vez mais dinheiro para resgatar bancos, como a CGD e o ex-BES, que valem cada vez menos… Em suma, se o balanço das promessas fáceis é oneroso para o país mas satisfatório para muitos, já o balanço das promessas difíceis, como o crescimento económico, o investimento público e a resolução bancária, é nulo e tudo leva a crer que as dívidas continuarão a crescer em 2017, enquanto lá fora o vendaval não augura nada de bom!