O grupo de motoqueiros russos “Notchnie Volki” (Lobos Nocturnos) decidiu assinalar o dia da vitória das tropas soviéticas sobre os nazis com um desfile de motos entre Moscovo e Berlim, que deveria terminar a 9 de Maio.

O que poderia ser um gesto de respeito pelos milhões de soldados soviéticos que tombaram na Segunda Guerra Mundial transformou-se rapidamente em mais uma provocação política contra a União Europeia. A Polónia e a Alemanha proibiram a passagem dessa “procissão” pelo seu território.

O Kremlin ficou irritado com a ausência de dirigentes europeus na Parada da Vitória, marcada para 9 de Maio na Praça Vermelha. Serguei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, considerou esse passo “uma forma de nos roubarem a vitória”.

Por isso, tudo é aceitável para provocar escândalos nas relações entre a Rússia e a UE, nomeadamente através dos “Lobos Nocturnos”, organização nacional-comunista dirigida por Alexandre Zaldostanov, um dos amigos e Putin. Desde o início que era claro que países como a Polónia e a Alemanha não iriam autorizar a passagem deste grupo de estalinistas abertos pelo seu território.

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Zaldostanov tornou-se protegido do Kremlin devido à posição de apoio à invasão da Crimeia por tropas russas e aos separatistas pró-russos no Leste da Ucrânia. Entre os símbolos estampados nas suas bandeiras pode-se ver a figura do ditador soviético José Estaline, foices e martelos ou o escudo da URSS.

A ideologia eclética deste grupo de nacional-comunistas russos está bem patente nas palavras do seu chefe: “O fundamental no conceito de Rússia é a fé ortodoxa. O segundo pilar é a história e as vitórias militares”. Zaldostanov precisa: “A imposição do ateísmo foi uma das causas da desintegração da União Soviética… A minha mãe era “Professora Emérita da Ucrânia” e comunista convicta. Não obstante, começava o dia a rezar perante um ícone caseiro. Entre os meus parentes próximos há vítimas das repressões estalinistas, mas a minha avó tinha a fotografia de Estaline no seu quarto”. E conclui: “Para a Europa, claro que isso é impensável, mas, para nós, é uma lei que se entranhou em nós ao nível genético”.

Essa lei pode ter-se entranhado em muitas almas russas, o que não é de espantar se se tiver em conta que o poder nunca teve uma posição de condenação clara do estalinismo e dos seus crimes, mas não é aceite pelos povos que sofreram o jugo ditatorial soviético. É muito difícil pedir aos polacos, checos e eslovacos que recebam de braços abertos motoqueiros munidos de bandeiras com o retrato de Estaline ou o símbolo da URSS.

“Por um lado, existe o Estaline das repressões, mas há o Estaline das vitórias na Grande Guerra Pátria. Para salvar Moscovo, ele voou com um ícone sobre a cidade. Ao amaldiçoar Estaline, os nossos pais, não obstante, adoravam-no e morriam por ele, como por Ceisto. Chegou a hora de pôr fim ao lançamento de sujidade contra Estaline”, frisa Zaldostanov.

Tendo em conta o ambiente político reinante na Rússia de hoje, onde a revisão da história é uma constante, muitos russos poderão acreditar nesse tipo de falsificações, mas não se imponha isso aos estónios, lituanos, letãos, ucranianos, polacos, etc.

Vladimir Putin defende a normalização de relações com a UE, mas esta certamente que não será a melhor forma.