A derrota do Estado Islâmico na Síria é um passo importante para a solução dos numerosos conflitos nesse país e no Médio Oriente, mas ainda não foi o decisivo para se poder vislumbrar como alcançar a normalização (se é que algum dia ela será possível) nessa região.

Os dirigentes da Rússia, Irão e Turquia anunciaram, no encontro trilateral em Sochi (estância balnear russa), que os combatentes do Estado Islâmico na Síria estão praticamente derrotados e decidiram que chegou a hora de iniciar a reconstrução e a reorganização desse país quase totalmente destruído pela guerra.

Porém, esta última tarefa não será menos difícil do que a derrota do Estado Islâmico. Primeiro, o anúncio feito por Vladimir Putin, Hassan Rohani e Recep Erdogan não significa ainda que essa força terrorista tenha desaparecido do mapa, mas o mais provável é que os seus membros se desloquem para outros países e continuem a sua actividade destruidora. Segundo, é preciso conciliar as reivindicações das várias forças envolvidas no conflito. Terceiro, que papel reservam para si as várias potências, incluindo os Estados Unidos, no futuro da Síria.

Não há dúvida que o Presidente russo tem vindo a reforçar as suas posições políticas e militares na região. Um exemplo disso é a aceitação da continuação no poder do actual dirigente sírio Bashar Assad até por parte de Erdogan. Além do mais, Moscovo possui duas bases militares na Síria que estão a ser alargadas e aumenta a venda indiscriminada de armamentos, por exemplo, a países claramente adversários nesta contenda: Arábia Saudita e Turquia. A exigência lançada pelo dirigente turco para que todas as potências estrangeiras retirem as suas tropas do território sírio não passa de palavras sem qualquer tipo de consistência. Nem Putin, nem Trump estão dispostos a dar ouvidos a Recep Erdogan.

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A fim de dar início a mais uma tentativa de diálogo entre as várias forças políticas e militares sírias, Vladimir Putin espera realizar em breve, na cidade russa de Sochi, um Congresso do Povo Sírio. Porém, trata-se de uma tarefa com alto grau de dificuldade, pois as divergências são muito sérias. Todos os grupos aceitarão que a Síria seja governada por Bashar Assad até à realização de novas eleições? Como se irão restabelecer os contactos entre regiões controladas por vários grupos? Será possível criar um clima propício a eleições em todo o território?

Dentro deste último problema, há um factor que o agrava seriamente: e os curdos? A Turquia não quer ouvir falar de qualquer tipo de autonomia ou independência para os curdos sírios, pois seria um mau exemplo para os curdos turcos, que provocam fortes dores de cabeça a Erdogan. Mas os Estados Unidos estão militarmente presentes no norte da Síria, onde se concentram os curdos que lutaram contra o Estado Islâmico e que gozam do apoio de Washington. A Rússia, neste campo, vê-se numa situação muito delicada. Sendo tradicional aliada dos curdos, o que irá fazer para não irritar a Turquia e o Iraque?

Moscovo vê-se também obrigado a fazer um delicado equilibrismo entre Israel e o Irão. Segundo a imprensa internacional, existe um acordo entre russos e israelitas para não permitir o reforço das forças do Hezbollah, apoiadas por Teerão, junto da fronteira entre Israel e a Síria.

A propaganda russa apresenta Vladimir Putin como o principal mentor e motor do processo de solução da crise na Síria, relegando os Estados Unidos para um plano inferior. Mas o que pode estar a acontecer é que Moscovo “tira as castanhas quentes do lume”, mas terá de dividi-las, nomeadamente com Washington. O Kremlin envolveu-se num jogo muito complicado e arriscado, que exige não só meios militares e diplomáticos, mas também grandes esforços financeiros.

Por conseguinte, será de extrema importância saber quem irá contribuir para a reconstrução das cidades, vilas e aldeias destruídas pela guerra, para o regresso dos milhões de refugiados, etc. Moscovo lançou já um apelo à comunidade internacional para que participe nesse projecto, nomeadamente através das Nações Unidas, pois os cofres russos serão claramente insuficientes.

E qual será o papel da União Europeia em todo este processo, que provocou a entrada de milhões de refugiados no território de vários dos seus membros?