Uma das reações mais comuns aos últimos actos de selvajaria islâmica é apelar ao sangue frio das massas: não devemos ter medo! O melhor modo de fustigar o terrorismo maometano é, dizem-nos, continuar a fazer o que sempre fizemos como se nada tivesse acontecido ou pudesse voltar a ocorrer: é não deixar de ir a um concerto por temor, nem de viajar por receio.

Esta filosofia de vida merece respeito. Mais: causa admiração. É a do estóico que continua a ler Séneca imperturbado pela primeira ferroada de uma vespa, ou a do poeta que continua a declamar na cidade em chamas. Não é louvável a indiferença ao perigo face aos valores mais elevados do progresso, da filosofia e da arte? É também a da optimismo e coragem de um Neville Chamberlain (1869—1940), que não se amedronta com a histrionia de dois bufos, distantes e fracos, nem deixa que ela afecte as políticas estabelecidas do império nem a paz de espírito e estilo de vida dos seus súbditos. Não é admirável a equanimidade e tolerância face a insultos e ameaças vãs?

Este modo de estar na vida, embora estupendo, não deve ser imposto a ninguém. Como todas as moralidades elevadas, deve ser proposto, não imposto. Embora o possamos lamentar, temos de reconhecer aos outros o direito a ter medo e a agir em conformidade. O medo, tal como a fome, é uma reacção do organismo que, em geral, potencia a sua capacidade de sobrevivência. Mostrar fome ou medo é, de facto, rasca. Um samurai dos antigos nunca mostrava ter fome ou medo: palitava os dentes quando a primeira apertava, e não pestaneja quando emboscado, para assim mostrar o seu desprezo por estas duas fraquezas. No entanto, ter medo é uma reacção tão natural como a sua sede.

É natural ter medo durante um tremor de terra. No Japão todos têm medo de terramotos e sabem o que fazer para se proteger quando um acontece. No Irão ninguém tem medo de terramotos e ninguém sabe o que fazer quando um ocorre. Impressiona ver o que sucede durante um tremor de terra, dos fortes, no Japão. Também emociona observar o que acontece aquando um tremor de terra, dos fortes, no Irão. Mas por motivos diferentes.

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Não mostrar medo é, de facto, heróico. Mas há ocasiões em que aconselhar a não ter medo pode ser insultuoso. Quem é o amigo que diz: “Olá Zé! Foste despedido? Não tenhas medo do futuro! Cumprimentos à Maria e xi-coração às crianças.” Ou que sindicalista o diria?

Para além de heróico, não ter medo é, algumas vezes, sinal de estupidez. Acontece não termos medo por ignorância, porque não percebemos o que está a acontecer. Um empresário que não se apercebe de uma inovação tecnológica ou organizacional que em breve tornará o seu produto obsoleto geralmente não tem medo de nada. Também podemos não ter medo porque não acreditamos no princípio de causalidade: há inúmeros gestores que põem em risco a viabilidade económica das suas organizações porque não acreditam na existência de uma relação causal entre deficits e dívida nem entre dívida e dificuldade de financiamento. Ambas as atitudes geram inflexibilidade porque sugerem que não há nada a mudar, e portanto podemos continuar a fazer o que sempre fizemos como sempre o fizemos.

E este é o maior perigo de não ter medo: impedir a adaptação requerida às mudanças do meio ambiente. É fazer-nos cegos e surdos ao perigo que nos ameaça, tornar-nos sitting ducks à mercê de qualquer predador. É não nos deixar pensar no que pode ser feito para contrariar a as ameaças que enfrentamos e depois actuar em consequência. Se o não ter medo embotar a capacidade de percepção da realidade ou dificultar a aptidão para reagir à mudança, então é saudável ter medo. É fantástico não ter medo de sheiks e de mullahs, allamahs e ayatollahs, nem dos seus rebentos, mas só se isso não impedir as acções adequadas para anular o seu potencial de destruição. Não são os mais fortes que sobrevivem: são os que melhor se adaptam.

É chique não ter medo do terrorismo islâmico. Não haverá grande crise nisso, desde que tal não nos torne parvos e impávidos à ameaça que nos é posta. Caso contrário, será slam dunk para os maometanos nos submeterem. Submissão é, aliás, o que Islão manda e significa.

Professor de Finanças, AESE Business School