É fácil não se gostar do Presidente da Bielorrússia, Alexandre Lukachenko, mas convém estar atento ao que ele diz relativamente às relações entre os estados do antigo espaço soviético.

Sábado, numa conferência de imprensa para jornalistas russos, o homem que dirige o seu país com mão de ferro e levou o seu país para a União Alfandegária, que engloba também a Rússia e Cazaquistão, fez algumas declarações que se fossem pronunciadas por um político russo, este seria imediatamente rotulado de “traidor”.

Lukachenko, por exemplo, considerou que Victor Ianukovitch, antigo Presidente da Ucrânia, foi derrubado por culpa própria. “Ele e os seus companheiros financiaram o “Sector de Direita”, porque este era alegadamente contra Iúlia [Timochenko]. Perdeu a orientação… e criou uma força que o destruiu depois”, afirmou ele.

O “Sector de Direita” é uma organização política de extrema-direita que participou nos distúrbios que levaram à queda de Ianukovitch. A sua participação nos acontecimentos foi um dos argumentos que levou à intervenção da Rússia na Crimeia e no Leste da Ucrânia a pretexto de defender as “populações russófonas” dos “fascistas” e “nazis”.

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As sondagens apontam para que os partidos de extrema direita não elejam deputados nos círculos maioritários, mas a propaganda de Moscovo continua a colocar toda a população do centro e ocidente da Ucrânia entre os “fascistas”.

“Não acreditem que no Ocidente da Ucrânia vivem fascistas e nazis” e, no Oriente, os “nossos”. Em toda a parte há pessoas normais, mas em ambas as partes não há famílias sem abortos”, frisou Lukachenko.

É importante assinalar que Lukachenko acusa também Victor Ianukovitch, que diz ser “antigo grande amigo”, que ele e a sua corte foram os iniciadores do ódio dos ucranianos para com os russos.

“Foi criada uma terrível posição anti-russa no interior do país. Devido aos altos preços do gás, passaram a odiar os russos e o Presidente. E no Leste havia disposições semelhantes. Isso foi criado pelo poder”, acrescentou.

Claro que o Presidente bielorrusso considera que o derrube de Ianukovitch foi um “golpe anticonstitucional”, mas reconhece uma coisa que Moscovo continua a negar contra todas as evidências: “sem o apoio da Rússia as “repúblicas” auto-proclamadas não existiriam no leste da Europa. “Sejamos honestos, sem a Rússia, essas repúblicas teriam já os dias contados”, precisou.

Ao terminar a sua intervenção, Lukachenko manifestou a opinião de alguns analistas de que o Kremlin se deixou cair numa ratoeira ao atacar a Ucrânia: “Aí [no Leste da Ucrânia], ninguém além da Rússia, vai lutar de um lado. Do outro lado, nenhum dos jogadores globais irá combater. Por exemplo, a América jamais avançará para um confronto direto. Mas alguns estados e blocos estão muito interessados em que nos matemos uns aos outros com as próprias mãos”.

A Crimeia e o Leste da Ucrânia tornam-se num fardo insuportável para a economia russa, tanto mais que a desvalorização do rublo é diária, o preço do petróleo continua a descer nos mercados internacionais, a fuga de capitais aumenta, começam a ser reduzidos os investidos nas esferas social e educativa, sendo só aumentados os gastos militares.

Mas será que a Rússia irá repetir a história da URSS? São cada vez mais os que receiam que isso aconteça, o que nada trará de bom para a Europa e o mundo.