Há uns dias, Nuno Garoupa escrevia no seu Facebook «A direita portuguesa apaixonou-se por Inés Arrimadas», a cabeça de lista do Ciudadanos ao parlamento da Catalunha. Logo eu lhe respondi que não era só a direita, era «a direita, a esquerda, o centro. É linda de morrer, a Inés. Como não ir atrás?» Aliás, acrescentei eu, num outro comentário à mesma publicação, a Inés é tão bonita que eu apostaria que até «no rádio a imagem dela passa bem». Isso mesmo pode ser confirmado neste vídeo, com uma entrevista da Inés Arrimadas à Catalunya Ràdio, link gentilmente fornecido por Vera Gouveia Barros.
Este episódio fez-me lembrar o Jerónimo de Sousa, que há uns tempos, no rescaldo de uma derrota nas últimas eleições presidenciais, disse que, se o PCP quisesse ter mais votos, também poderia «arranjar uma candidata engraçadinha», numa referência indirecta à candidata do BE, a Marisa Matias, que, realmente, não só é bem mais bonita que o Edgar Silva como teve quase o triplo dos votos. E, claro, se falamos em palminhos de cara do Bloco, como nos poderíamos esquecer das Mortáguas bem como da Catarina Martins? São verdadeiros sucessos eleitorais. Tal como o candidato do Bloco de Esquerda à câmara de Lisboa, Ricardo Robles, que até o coração da minha mulher deixou a palpitar. Uma máquina eleitoral. Acho até que, se a minha Sandra votasse em Lisboa, era nele que votava.
Diga-se que Jerónimo foi injusto para com os homens do seu partido. Nem é preciso lembrar o seu líder histórico, Álvaro Cunhal, considerado um homem muito bonito pela generalidade do mulherio. Basta olhar para alguns dos seus jovens promissores, como João Ferreira, o candidato “engraçadinho” da CDU ao Parlamento Europeu. Dizem-me que também tem uma legião de fãs capaz de deixar Brad Pitt com inveja.
Isto leva-nos à magna questão: quão determinante é a presença física no sucesso eleitoral de um candidato? Será esse lado mais importante nas mulheres do que nos homens?
Comecemos pela primeira pergunta. Há uns anos, os professores de Ciência Política Greg Murray e David Schmitz publicaram um artigo com o sugestivo título “Caveman Politics: Evolutionary Leadership Preferences and Physical Stature”, na revista Social Science Quarterly. Nesse artigo, descrevem como, numa série de experiências por si conduzidas, na hora de escolher o líder, as pessoas preferiam os mais altos. E, o que é interessante, as pessoas mais altas também atribuíam a si mesmas mais capacidades de liderança, pelo que apresentam também maiores probabilidades de querer ser líderes. Já agora, se olharmos para as eleições americanas desde 1900, entre os candidatos favoritos à vitória, o mais alto ganhou dois terços das vezes.
Bem, mas ali acima falávamos de palminhos de cara e não, propriamente, de pessoas altas. Penso até, mas não fui confirmar, que a Inés Arrimadas é relativamente baixinha. Mas, realmente, a investigação científica está do lado dos bonitos. Há uns anos, uns investigadores suecos e finlandeses estudaram a relação entre beleza e sucesso eleitoral numas eleições finlandesas. Na Finlândia, os eleitores votam não só no partido mas também no seu candidato preferido. Para evitar que as pessoas fossem influenciadas pelas suas preferências políticas, os investigadores fizeram inquéritos fora da Finlândia, mostrando fotos de quase 2000 candidatos e pedindo que os inquiridos avaliassem a sua beleza. De seguida, compararam esses resultados com os votos obtidos.
Os resultados foram claros: os candidatos mais bonitos têm mais votos. E os resultados foram quantitativamente relevantes. Um aumento de um desvio padrão na beleza (o que corresponde a comparar um candidato mediano com um bonito) estava associado a um acréscimo de 20% no número de votos. É um impacto considerável. Para um partido que ande na casa dos 30%, apresentar um candidato jeitoso pode valer uma subida de 30 para 36%. Candidato ou candidata, que o estudo mostra que este efeito existe tanto para os homens como para as mulheres.
É interessante verificar que não é só neste estudo que referi acima que se conclui que o aspecto físico é tão importante para os homens como para as mulheres. Há outros estudos que relacionam a beleza e sucesso no mercado laboral que apresentam resultados similares. Por exemplo, num dos primeiros estudos sobre o tema (senão mesmo o primeiro), publicado na American Economic Review, já há mais de 20 anos, Daniel Hamermesh e Jeff Biddle concluíram que um homem feio é em média penalizado no seu salário em cerca de 17% quando comparado com um homem bonito, enquanto as mulheres feias são penalizadas em 14%, sugerindo que, no mínimo, a fealdade penaliza financeiramente tanto os homens como as mulheres.
Imagino que quem me lê esteja à espera de uma punch line ou de alguma implicação política para a eleição do líder do PSD ou qualquer coisa assim. Mas não, esta crónica não tem qualquer moral. É amoral. Desejo a todas e todos— feias, bonitas, feios, bonitos e assim-assim — um excelente ano de 2018.